Imperdoável (Impardonnables, França, 2012)
Dir:
André Téchiné
Do
pouco que conheço da filmografia do francês André Téchiné, é possível notar uma
noção de ritmo muito interessante em seus filmes. Acontece muita coisa em suas
histórias, com os diversos personagens que ele dispõe no enredo, tornando tudo
muito ágil. Com Imperdoável é o
mesmo. Olha o caso de Francis (André Techiné), um escritor sexagenário que numa
agência de viagem conhece a bela e mais jovem que ele Judith (Carole Bouquet) por quem
se encanta; na sequência seguinte, já vemos os dois como casal se mudando para
uma nova casa numa ilha italiana.
Imperdoável é então um Téchiné
autêntico em forma, mas dessa vez as coisas não funcionam tão bem. Talvez seja
essa rapidez que torna tudo tão fugaz, tão difícil de se apegar aos personagens
e seus dramas. O ciúme de Francis, que paga para que sigam e vigiem a mulher no
dia-a-dia, é uma das boas ideias que se perdem entre os tantos personagens e seus
dramas (como a filha “desaparecida” dele, o filho de uma amiga dela, recém saído da
prisão). Não deixam de ser personagens interessantes, mas o filme não parece se
decidir em quem apostar mais.
O
tempo passa rápido vendo o filme e isso, por incrível que pareça, não é uma
vantagem já que há pouco de significante aqui. Téchiné filma com cuidado,
valoriza a bela geografia do lugar (e o espaço conta muito no filme), mas pouco
fica. Dussolier e Bouquet estão ótimos em cena, ele especialmente. Mas tem
muita gordura no roteiro.
Indignados (Idem,
França, 2012)
Dir:
Tony Gatlif
Indignados
começa como um filme que promete mais uma história panfletária sobre imigrantes
ilegais na Europa, massacrados e perseguidos pelo sistema, tem cara de que vai
ser chato. Depois melhora bastante por conta das interferências poéticas que
Gatlif injeta na narrativa com uma naturalidade incrível, que faz o filme
passear entre a ficção, o documentário e o experimental. Pena que no terço
final se acomode na ideia de filmar a revolução e o filme cai um pouco.
Mas
Gatlif encontra uma bela maneira de tratar tema tão em moda no cinema atual. É
claro que ele está do lado dos militantes, mas o filme nunca adota esse tom de
combate. Ajuda muito o fato dele se apegar a essa imigrante ilegal africana,
Betty (Mamebetty Honoré Diallo),
que observa a tudo com um misto de atenção e alegria pelo clima de
efervescência revolucionária.
Nessa
viagem transcultural de Gatlif (ele adora isso), pode-se dizer que o filme se
passa na Europa (é o que ouvimos a protagonista dizer ao telefone para seus
parentes, “cheguei à Europa”). De início, vemos que se encontra na Grécia, mas a
variedade de línguas e regiões distintas ganha corpo nesse caldeirão cultural
que se tornou o continente europeu contemporâneo.
Elena (Idem, Brasil,
2012)
Dir:
Petra Costa
Não
sei se passarei por uma sessão tão emocional como essa do brasileiro Elena aqui na Mostra. É um filme personalíssimo,
uma história de família, mas que machuca fundo a quem assiste. É incrível como
o filme funciona fácil, desde início sente-se o tom melancólico de saudade,
misto de lembrança e pesar pela perda de um ente querido. A cineasta Petra
Costa conta sua relação com a irmã Elena, que se suicidou quando jovem. Para
isso, se mune de uma infinidade de imagens de arquivo para regatar essa
personagem e a história de sua família, o primeiro grande acerto do filme.
Mas
a própria Petra é também figura importante na história, a irmã mais nova que
observa os descaminhos de talento e insanidade pelos quais a mais velha passa, como
criança sem entender muita coisa. Agora, mais madura, retoma o material e
constrói uma narrativa poética e lúcida sobre o drama de sua família. O segundo
grande acerto de Elena é o texto em off que tem tanto de leveza, doçura e
poesia, que torna tudo muito mais bonito, dolorosamente belo.
E
nesse se por no filme, Petra faz ainda uma bela relação com seu encontro
pessoal com a arte, outra constante interessante no filme. Elena era atriz de
teatro que ensina à pequena Petra como atuar. Se Elena vai se perder por outros
motivos, Petra se lança no caminho da arte e, passeando por alguns outros
caminhos, se encontra agora como artista segura (?) de seus passos.
A
presença de Elena é sentida a todo instante no filme e mesmo com a sensação geral de
dor, não se trata de uma obra pesarosa, como uma forma de expurgo. Pode até ter
servido a esse propósito por parte da diretora e também da família (a dor e
remorso da mãe são marcas fortes no filme), mas a impressão final é de um
trabalho sólido de montagem e recriação, autoavaliação, além de exalar emoção intensa.
Elena é memória, mas também
libertação.
L (Idem, Grécia,
2012)
Dir:
Babis Makridis
Parece
que a crise na Grécia não é só econômica, ela chegou no campo criativo do
cinema também. Dente Canino,
milagrosamente indicado ao Oscar de Filme Estrangeiro há alguns anos, já dava
esse sinal de que havia algo de estranho nessa filmografia. Agora L corrobora essa sensação, filme dotado
de estranhezas que parece adorar seus personagens esquisitos fazendo coisas
bizarras.
Se
há uma muito boa ideia aqui – o homem (Aris Servetalis) que não tem casa e vive
no seu carro, onde também trabalha como motorista –, o filme não consegue dar
conta dessa situação, ou antes não se interessa por ela, preferindo dar vazão a
situações mais idiotas. A estética chapada do plano estático e demorado, os
atores carregando expressões vazias, a frieza em lidar com certas situações
tensas, é o que nutre o filme.
Tem
também uma outra sacada interessante aqui: o abandono da “vida no
carro” por uma outra forma de “moradia”. É o tipo de virada no roteiro que
lança questões à narrativa, mas o filme continua insistindo na bizarrice e
as boas ideias se perdem. Assim, L é subaproveitado, tedioso e desperdiça oportunidades para dar conta da
atmosfera de filme-demente. Poderia render bem mais.
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