sábado, 20 de junho de 2009

Entre passado e presente

A Fronteira da Alvorada (La Frontière de L’aube, França, 2008)
Dir: Philippe Garrel



O cineasta francês Philippe Garrel faz filmes à moda antiga, como se vivesse na época áurea da Nouvelle Vague. Assim como no anterior e excelente Amantes Constantes, a fotografia em preto-e-branco levemente granulada cria uma atmosfera nostálgica e romântica de um tempo passado. Se em A Fronteira da Alvorada isso possa soar um tanto deslocado no início, a impressão logo é abandonada por conta de uma narrativa simples, mas envolvente, com o toque do fantástico para dar um tom diferencial.

A história é simples: François (Louis Garrel, sempre ele) é um fotógrafo que se vê repentinamente apaixonado pela atriz Carole (Laura Smet, hipnótica). Ele, perdido e cego de paixão, ficará à mercê dela; ela, fatal e dominadora, casada, trará grandes problemas ao envolvimento dos dois.

É muito fácil se apaixonar por Carole, aparentemente tão meiga, mas que se revela perigosa como uma femme fatale (da mesma forma como sua personagem em A Dama de Honra, de Claude Chabrol). O olhar ambíguo de Laura Smet, à lá Capitu, são perfeitos para representar a loira fatal. Garrel, filho do diretor, mais uma vez encarna o jovem romântico, mal antecipando os desdobramentos trágicos da relação.

O estilo direto e seco de Garrel pai pode soar estranho a alguns, mas é daí que surgem muitas das surpresas do filme, sendo a brusquidão seu maior aliado (a cena final, por exemplo, é um choque). Além disso, ele se vale muito mais do não dito, da força de suas imagens, para desenvolver a narrativa.

Com uma trilha sonora carregada, talvez para antecipar momentos de insanidade de ambos os protagonistas, o filme parece preso a um tempo passado quando as pessoas ainda escreviam cartas de amor umas às outras, ou quando ainda se aplicavam eletrochoques nos manicômios. Mas, deslocado ou não, esse é o universo de Garrel, lugar de onde seus personagens parecem ser eternos prisioneiros.

6 comentários:

Gustavo disse...

Garrel, Garrel, preciso conhecer de uma vez por todas o cinema desse cara, que parece qualquer coisa menos comum. Gostei da premissa desse ALVORADA.

Vinícius P. disse...

Eu nunca conferi nada do Garrel, nem mesmo o elogiado "Amantes Constantes", mas de certa forma estou curioso quanto a esse novo trabalho.

Victor disse...

Olha, eu até gosto do cinema francês, mas os últimos filmes que vi foram tão péssimos que me desanimei. Bom saber que esse Alvorada vale a pena! Valeu a dica!


Abs cara!

Filipe Machado disse...

Garrel, outro nome a registar. Não conheço nenhum filme dele...

Kamila disse...

Nunca assisti a nada do Garrel pai, mas gosto do Garrel filho.

Rafael Carvalho disse...

Victor, quais os filmes franceses você tem visto que tem de deixado assim tão desanimado? Tem umas coisas bem fracas dentro desse cinema (como em qualquer um), mas sabendo escolher bem os franceses, dá pra ver muita coisa interessante. Garrel é um deles.

Gustavo, Filipe, Vinícius e Kamila, o que vocês estão esperando? Corram e vão ver o Garrel, esses dois citados são muito bons, cinema com cheiro de coisa antiga.