quinta-feira, 26 de junho de 2008

Curtinhas – Dr. Jones

(Antes tarde do que nunca OU Mais um retorno)

Problemas vários me deixaram fora da blogosfera por um bom tempo, mas sempre ansiamos pelo retorno e já que o assunto é esse, por que não recomeçar as atividades com outra volta? Sim, ele, Dr. Jones. Mas como meu contato com a série Indiana Jones se resumia a algumas cenas exibidas na Sessão da Tarde, me aventurei a fazer uma vistoria dos filmes do Spielberg protagonizados por esse mítico personagem de chapéu e chicote na mão. O bom e velho cinema de entretenimento nunca mais foi o mesmo e parece que não vai voltar a ser tão cedo.


Os Caçadores da Arca Perdida (Raiders of the Lost Ark, EUA, 1981)


Com certeza, ver esse filme hoje não é o mesmo do que presenciar o nascimento de um personagem que provocou uma revolução no cinema de entretenimento quando a década de 80 estava começando. O famoso arqueólogo surge numa aventura em plena América do Sul e logo será levado a procurar a lendária Arca Perdida, onde se acredita conter o que restou da tábua dos Dez Mandamentos. Mas também os nazistas estão atrás da relíquia, e é contra ele que o herói deve lutar (não esquecer que a trama se passa em 1936). O maior mérito do filme é que todos ali envolvidos parecem acreditar de fato naquela aventura, por mais absurda que seja (todo o desenrolar da história e as várias reviravoltas são sempre desenvolvidas de forma inteligente). Acredito que esse seja o maior elogio que um filme de aventura pode receber: não o fato de ser totalmente verossimilhante, mas o fazer acreditar nessa verossimilhança. Aqui, algumas seqüências deixam qualquer um de queixo caído: no início, o assalto ao bar que acaba em chamas, a briga aos pés do bimotor nazista e logo depois a perseguição ao caminhão que está levando a arca. E se o grandioso e inconfundível tema musical criado por John Williams já foi imitado diversas outras vezes, é aqui que ele apareceu pela primeira vez. O coração até bateu mais rápido!


Indiana Jones e o Templo da Perdição (Indiana Jones and the Temple of Doom, EUA, 1984)


Não é difícil imaginar a continuidade de um filme de aventura quando o primeiro da série fez tanto sucesso. Uma pena que, de início, O Templo da Perdição tenha os defeitos de um caça-níqueis com direito a vilões caricaturais (os chineses no bar), ações descabidas (a fuga do bar) e exploração de culturas exóticas (aqui a chinesa e indiana). A trama se passa um ano antes da aventura do filme anterior quando o Dr. Jones se vê perdido numa aldeia indiana marcada pela miséria, com crianças sendo raptadas e sacrificadas em rituais mágicos, depois que uma pedra sagrada foi roubada do lugar; nem é preciso dizer que sua missão passa a ser o resgate da pedra a fim de salvar a aldeia. Dessa vez, o inimigo são povos tribais antigos e seus rituais de sacrifício. A primeira metade do filme é enfadonha e precisamos suportar a irritante personagem de Kate Capshaw que, na tentativa de trazer alívio cômico ao filme, diminui muito o nível de inteligência dos diálogos. E convenhamos que a tentativa de causar impacto (e náusea) quando são servidos num jantar miolos de macaco, sopa de olhos, enguias vivas e coisas do gênero é extremamente apelativa e desgastante. Mas quando personagens descobrem o templo, a ação começa pra valer, vai até o fim e é adrenalina pura. Então o filme se transforma e o talento de Spielberg para construir cenas de ação, misturadas ao clima de terror macabro, eleva muito o nível do filme. De quebra, essas cenas são engrandecidas por uma excelente fotografia em tons fortes e pesados, bastante adequada à situação. Enfim, nem tudo estava perdido.


Indiana Jones e a Última Cruzada (Indiana Jones and the Last Crusade, EUA, 1989)


Se o segundo episódio pareceu que ia se tornar um desastre e foi salvo em sua metade, infelizmente o mesmo não se pode falar desse terceiro. O filme está sempre tentando levantar vôo, mas nunca consegue, principalmente por conta de um roteiro fraco e cheio de furos. Na nova empreitada, Indy precisa encontrar o Santo Graal (aquele usado por Jesus na Última Ceia) e resgatar o líder de uma expedição que havia começado a busca, líder esse que é justamente seu pai, interpretado por Sean Connery. O diferencial do filme é precisamente a relação familiar entre pai e filho, ao mesmo tempo em que passamos a conhecer um pouca mais da vida íntima de nosso herói. De fato, existe uma ótima química entre Ford e Connery, mas confesso que esperava mais sobre a relação dos dois personagens, que é discutida em alguns momentos, mas sempre acaba em tom cômico, nunca é aprofundada. Talvez essa seja uma cobrança descabida, já que estamos falando de um filme de aventura e não de um drama familiar, mas no fundo me pareceu uma oportunidade perdida, de transformar o filme em algo mais do que somente ação. Essa, inclusive, deixa muito a desejar. O filme não possui um terço do sentido de aventura e adrenalina dos três outros filmes e muitas das cenas de ação soam completamente inverossímeis (o que é aquele avião nazista em chamas passado dentro de um túnel ao lado do carro? E aquele encontro patético de Indy com Hitler? Só não invoco o nome de Cristo porque é uma blasfêmia). Até a música do grande Williams me pareceu mais chocha dessa vez. Uma pena para uma série que começou tão bem.


Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal (Indiana Jones and the Kingdom of the Crystal Skull, EUA, 2008)


19 anos se passaram para que o arqueólogo-herói Indiana Jones nos voltasse em mais uma aventura. Nada contra as continuações mas a bronca em relação ao filme está mais ligada ao fato de a nova aventura não tiver outro propósito do que o lucro da produtora de George Lucas em cima de um personagem mítico. Digo isso porque o novo filme vem em doses cavalares de exagero propiciados por efeitos especiais que não estavam à disposição dos realizadores na década de 80 e que fazem o espírito de aventura dos primeiros filmes da série se perderem em meio a situações improváveis e um roteiro por vezes furado. Durante a Guerra Fria, nosso herói é convencido pelo jovem Mutt Williams (Shia LaBeouf) a procurar a lendária Caveira de Cristal, artefato mítico possuidor de grandes poderes, possivelmente encontrada por um outro arqueólogo amigo de Indy, o Prof. Oxley (um John Hurt totalmente subaproveitado). Logo, ele estará na selva amazônica atrás do objeto e tendo em vista o momento histórico da trama, dessa vez os vilões da história são os russos, personificados pela ambiciosa espiã vivida por Cate Blanchett. O desenvolvimento dos pontos do roteiro deixou há tempos de ser o forte dos filmes de aventura, que prezam mais pela ação despropositada capaz de impressionar pela grandiosidade e não pela veracidade (Exemplos do filme: a explosão nuclear ou a queda dos personagens num carro por três cachoeiras seguidas sem grandes lesões para ninguém). Mesmo assim, há boas surpresas como o reaparecimento da personagem de Karen Allen, que foi o interesse romântico de Indy no primeiro filme, e volta trazendo uma ótima surpresa: a notícia de que ele tem um filho. Daí surgem os momentos mais engraçados do longa. De qualquer forma, dá uma saudade enorme do senso de aventura do primeiro filme, mas no fim das contas, reféns que somos desse tipo de estrutura, vale a diversão e a torcida pelo sucesso dos mocinhos.


PS: A remasterização dos três primeiros filmes abusa demais dos efeitos especiais e acaba por minimizar um tanto o impacto de algumas cenas. Droga!

PPS: Uma característica que eu adoro no Spielberg, e que aparece em todos os filmes dessa série, é a utilização de sombras para causar efeitos vários, que nos remete diretamente à escola expressionista alemã. Maravilhoso!

14 comentários:

Anônimo disse...

muito bom ter voce por aqui novamente.

pseudo-autor disse...

Um texto interessante sobre a saga do Indiana Jones. A franquia perdeu fôlego com o tempo, como aliás já era de se esperar (toda franquia normalmente perde o vigor). Mas, Spielberg, amigos de seus fãs como é, não podia deixar de atender o pedido de milhões de fãs saudosos do velho professor de arqueologia. No geral, dá pra divertir. Só podia ter mais fôlego.

Discutir a Mídia? acesse
http://robertoqueiroz.wordpress.com

Anônimo disse...

De toda a série, definitivamente meu favorito é "Os Caçadores da Arca Perdida", até o considero como o segundo melhor filme do Spielberg (só perdendo para "E.T."). Seguindo a ordem de preferência, ficam "A Última Cruzada", "O Templo da Perdição" e "O Reino da Caveira de Cristal". Gostei do mais recente, pois mesmo não sendo uma maravilha, deu para matar a saudade das aventuras de Indy. Abraço!

Anônimo disse...

Porra, 4.5 pra Os Caçadores da Arca Perdida? Vou ver de novo então pra ver se eu consigo gostar haha

Rafael Carvalho disse...

Társis, meu amigo, que bom ver você aqui também. Parece que os sumidos resolveram aparecer. Volte mais vezes, viu!

Contra-regra, também acho que o filme precisava de mais fôlego, mas acredito que os Spielberg tava mais interessado nos dólares do que na satisfação dos fãs propriamente dita. Não é à-toa que ele encheu o filme de situações absurdas e efeitos especias gritantes.

Vinícius, meu caro, minha ordem de preferência acabou sendo a ordem cronologica dos lançamentos dos filmes, inevitavelmente. E não consigo gostar tanto assim da Última Cruzada, apesar do Sean Connery. E se o filme recente garante alguns momentos de diversão, não passa muito disso. O primeiro é clássico absoluto!

Sim, Iulo, meu filho, 4,5. Entretenimento de alta qualidade. Veja mesmo novamente e se entregue à aventura. Pena que eu não tenho mais aqui no meu pc. Te garanto, é uma sensação formidável!

Dr Johnny Strangelove disse...

o tempo passa e muitas vezes parece que estão a mesma coisa, mas as nossas sensações são outras, talvez por que envelhecemos ou outros motivos ...


eu curti pacas o novo, para dizer a verdade, um dos melhores desse ano. mas chega ser compreensivel alguns detratarem o filme.

mas como diz a Marji ... Life is Life ...

Dr Johnny Strangelove disse...

E espero que tenha novas visões cinematograficas por aqui amigo
abraços

Wiliam Domingos disse...

Bacana o panorama que você fez sobre a "saga" Indiana Jones! Os textos estão bem legai e até pra mim não é mais surpresa a decadência, mesmo sem ter visto nenhum filme completo!
A Dêde sumiu hein?!
E eu não sabia que você estava escrevendo aqui ainda...bom saber, estarei aqui sempre!
Abraço

Rafael Carvalho disse...

Realmente Johnny, o tempo passa e é capaz de nos fazer mudar sem nos darmos conta disso. Isso é muito bom. Sobre o novo Indiana Jones, não desce. Só de lembrar das cenas de ação do primeirto filme, a diferença se torna gritante. Na sala de cinema é até divertido, mas depois não fica. E pode esperar por novas visões cinematográficas sim, velho.

Valeu Wiliam, só deu trabalho resumir bem os textos, mas saíram e que bom que você gostou. E sim, Dedê sumiu mesmo do(s) blog(s). Ela tá um tanto atarefado dando aulas de inglês. Eu vejo ela na facu, cobro inclusive a volta dela para o blog, mas ela tá um pouco apertada agora. Mas continuarei cobrando.

Anônimo disse...

Seja bem-vindo de volta, Rafael! Da série do Indiana Jones, meu filme favorito é "Os Caçadores da Arca Perdida". Depois dele, acho que os filmes alternam bons e maus momentos. Sobre "O Reino da Caveira de Cristal": o filme é muito bem feito, mas nunca chega a empolgar.

Gustavo H.R. disse...

Bem, lá no blog você mencionou respeito às opiniões alheias, e é justamente isso que mantém a civilidade entre os blogs. Aliás, minha visão (minoritária) da quadrilogia Jones é exatamente o oposto da sua, mas compreendo os argumentos a favor dos dois primeiros e contra os dois últimos, embora deles não partilhe.
Enfim, trata-se de uma série icônica que marcou os rumos do cinema de ação - para o bem, acredita-se.

Cumps.

Rafael Carvalho disse...

Obrigado, Kamila, adoro estar de volta. E concordo plenamente com suas palavras.

Você está certíssimo Gustavo, o respeito à opiniões sempre deixa as discussões mais ricas e mantém uma relação sempre amigável entre os blogueiros. Discutir cinema com pessoas intransigentes não rola. E cara, são poucos mesmo as pessoas que têm essa visão sua sobre a série do Indy. Mas juro que também entendo aqueles que defendem tanto o último filme, só não consegue me animar muito. E conta também o fato de você ser um dos maiores fãs do Spielberg, ou não conta?. Abração velho!

Wallace Andrioli Guedes disse...

Poxa, eu discordo bastante da sua análise: primeiramente, Os Caçadores da Arca Perdida é mesmo uma obra-prima do cinema de aventura, e merecia mais uma estrelinha ali. Já O Templo da Perdição é, na minha opinião, o pior da série, fraco, bobo e exagerado. A Última Cruzada é excelente, quase chegando ao nível do primeiro filme, com uma interação perfeita entre Ford e Connery. E o novo filme é igualmente divertido, bem conduzido e extremamente empolgante. Adorei essa nova aventura e a oportunidade de, pela primeira vez, poder acompanhar Indiana Jones no cinema.

Rafael Carvalho disse...

Então Wallace, você é a segunda pessoa que discorda totalmente das notas em relação aos filmes. Mas é isso mesmo. E concordo que foi bom ver o Indy na telona, pena que o filme não seja lá tão bom quantos os outros pra mim. Abraço!