terça-feira, 13 de maio de 2008

Dilema

Medo da Verdade (Gone Baby Gone, EUA, 2007)
Dir: Ben Affleck


Keanu Reeves, Orlando Bloom e Ben Affleck são para mim os piores atores que Hollywood possui hoje, embora façam muito sucesso com o público. Portanto, estranhei muito o fato deste último estrear ano passado na direção de um longa-metragem. Mas justiça seja feita, é uma bela estréia e se Affleck é uma negação diante das câmeras, parece que encontrou de fato seu talento atrás delas. Só espero que esse talento não seja desperdiçado ou mesmo desmascarado mais tarde.

Mas digamos logo que se o filme é tão bem-sucedido, ele deve grande parte disso a um roteiro espetacular baseado na história real do seqüestro da menina Amanda McCready em Boston, baseado no livro de Dennis Lehane e adaptado para as telas por Aaron Stockard e pelo próprio Ben Affleck. Após três dias de buscas infrutíferas por parte da polícia, a tia da garota resolve contratar dois detetives particulares para ajudar no caso: Patrick (Casey Affleck, irmão do diretor) e Angela (Michelle Monaghan). A partir daí, novas revelações vão sendo feitas e as aparências, desmascaradas.

E já que elogiei o roteiro, é preciso apontar suas qualidades. Primeiro, a ótima qualidade dos diálogos, principalmente nas discussões entre Patrick e os policias. Contando com várias reviravoltas, é muito bom ver como todas soam plausíveis ao mesmo tempo em que conferem dinamismo ao filme. Surpreendemos-nos até o final com os rumos que a trama toma. Sempre há uma informação nova, e se determinada situação nos parece confiável num primeiro momento, mais tarde veremos que nos enganamos. E já na metade do filme, as investigações são dadas por encerradas, mas mais coisas precisam ser esclarecidas. Nem tudo é o que parece.

Como se não bastasse, o filme ainda promove discussões morais interessantes: se uma pessoa cometer um crime perverso, até que ponto matá-la é fazer justiça? E se o não cumprimento da justiça significar uma vida melhor para alguém, é certo compactuarmos com isso? A decisão tomada pelo protagonista ao fim da película pode desagradar a muitos, mas a existência de opiniões divergentes entre personagens importantes ajuda a tornar toda a discussão um tanto imparcial e, assim, mais complexa. Eu, por exemplo, me sinto livre para discordar do personagem, sem com isso considerar o final do filme ruim ou desagradável.

Muito bem atuado pelo casal de protagonista, o filme conta ainda com coadjuvantes de respeito como Morgan Freeman, Ed Harris e Amy Ryan, essa última fabulosa em cena, interpreta a mãe desequlibrada da pequena garota, sendo indicada esse ano ao Oscar de Atriz Coadjuvante. Tecnicamente, vale destacar a bela fotografia que sabe pontuar as variedades emocionais dos personagens.

Com um material desses em mãos, só mesmo um péssimo profissional poderia estragá-lo, mas Affleck demonstra aqui um talento enorme ao conduzir com cuidado e sensibilidade uma história cheia de nuances e revezes. E cheia de perigos também, já que a obra podia ser somente mais um filme policial. Que tal fazermos uma campanha para o Ben Affleck abandonar de vez a carreira de ator e se dedicar exclusivamente à direção?

8 comentários:

Rodrigo Fernandes disse...

um filme que termina, literalmente, no meio e, depois resurge de forma fantástica é um filme bem feito!
Curti muito esse filme... os Affleck's estão com a bola toda... e onde tnehoq eu assinar para aderir a campanha?? heheh
Abraços!!!

Anônimo disse...

Parece que, então, Ben Affleck achou seu caminho. Ele vendia muito, isso é fato. Mas só a imagem.
Pelas quatro estrelas que você deu ali, deu até vontade de assistir haha.

Rafael Carvalho disse...

Pois então Rodrigo, os Afflecks tão bem na fita. A atuação do Casey Affleck aqui é legal, mas é muito melhor em O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford. E mesmo que o Ben seja um péssimo ator, muita gente elogiou o trabalho dele em Hollywoodland - Bastidores da Fama que eu ainda não vi. Mas é melhor ele ficar atrás das câmeras mesmo.

Iulo, meu filho, vale mesmo muito a pena ver esse filme. Mas é bem capaz que você não goste, ou melhor, deteste como já é de praxe.

Anônimo disse...

"Medo da Verdade" foi um dos grandes filmes do ano passado e pouca gente o notou. Também acho que o Affleck deveria continuar da carreira atrás das câmeras, esse seu trabalho de estréia foi uma grande e positiva surpresa.

Kamila disse...

ODEIO Orlando Bloom, o pior ator em atividade!!!

O Ben Affleck parece ter encontrado sua verdadeira vocação, porque o trabalho dele na direção e no roteiro de "Medo da Verdade" foi sensacional. O filme é raro em muitos sentidos, mas o elemento mais importante da obra é que ela permanece conosco por muito tempo.

Rafael Carvalho disse...

Realemete Vinícius, um dos melhores do ano passado e que foi um pouco ignorado nas premiações. A Amy Ryan foi a única que teve visibilidade, mas bem que o filme poderia ter sido mais valorizado por seu roteiro, fotografia e direção também.

Kamila, tenho essa mesma sensação sobre o filme, principalmente por aquele final polêmico e que deixa no ar a dúvida sobre os rumos daqueles personagens, principalemnte da garota.

Anônimo disse...

Também eu não gosto de nada, né? Hahaha até parece que é assim

Wallace Andrioli Guedes disse...

Filmaço, que me surpreendeu bastante, ainda mais vindo de quem vem ... gosoto muito dos desempenhos do Casey Affeck e do Ed Harris. Por outro lado, não acho a Amy Ryan isso tudo ...