sábado, 18 de abril de 2009

Curtinhas

Simplesmente Feliz (Happy-Go-Lucky, Inglaterra, 2008)
Dir: Mike Leigh


Vindo de Mike Leigh, cineasta inglês com gosto por dramas (como o excelente O Segredo de Vera Drake), Simplesmente Feliz já seria um corpo estranho em sua filmografia por ter a comédia como gênero. Mas é mais estranho ainda por conta de sua protagonista, a supra-alegre professora de escola primária Poppy (Sally Hawkins) que parece carregar a palavra “felicidade” na testa. Nada consegue abalar seu jeito feliz de viver. Fácil assim. Durante suas aulas de direção, ela vai conhecer o impaciente instrutor Scott (Eddie Marsan), seu extremo oposto. Surge daí o confronto máximo do filme: a animação irresponsável de Poppy versus o nervosismo moralista de Scott. Com essa narrativa, Leigh nos fala da felicidade como forma de encarar o mundo, de lidar com os problemas, como filosofia de vida. Chega a ser contagiante. O texto, ao mesmo tempo que nos apresenta essa ideia, também é bastante leve e possui tiradas bem engraçadas. E não só Sally Hawkins merece destaque por sua incrível atuação, como também Eddie Marsan pela construção de um personagem prestes a explodir (o que acontece numa seqüência excelente perto do fim). Vale lembrar que música, direção de arte e figurinos também ajudam a compor o mundo animado e aparentemente inabalável de Poppy. Simples como a felicidade.


Operação Valquíria (Valkyrie, EUA/Alemanha, 2008)
Dir: Brian Singer


O início de Operação Valquíria me incomoda muito ao apresentar um personagem totalmente caricatural, que se utiliza da figura de um heroi pomposo, justo e destemido, ganhando no rosto de Tom Cruise uma expressão de dureza inabalável. Ele interpreta o coronel Claus von Stauffenberg que se alia a um grupo de conspiradores do regime nazista, descontentes com a política autoritária e desumana do partido governante. No entanto, esse incômodo inicial foi dando lugar ao desenvolvimento da história que se detém em narrar os planos arquitetados para assassinar o füher, de forma correta e sem complexidades na trama. Tudo parece estar em seu lugar, menos a cara de bravura que Cruise carrega durante todo o filme, sem nada mais a oferecer. O elenco de apoio ajuda bastante, como a vitalidade de Tom Wilkinson, a expressividade de Bill Nighy e o empenho de Kenneth Branagh. Por mais que a sequência do atentado seja repleta de suspense, e os acontecimentos posteriores também, uma cena marcante no filme é aquela que mostra Stauffenberg, que nunca durante a narrativa fez a saudação pública a Hitler, é obrigado a executá-la. Mas como ele não possui a mão direita, perdida durante uma missão no norte da África, a saudação é imperfeita, incompleta, como uma bela maneira de demonstrar toda sua desaprovação pelos atos de seu governo.


Fôlego (Soom, Coreia da Sul, 2007)
Dir: Kim Ki-duk


O último filme de Kim Ki-duk possui muito do que já se viu em seus filmes anteriores: personagens perdidos e em busca de sentido para suas vidas, narrativas silenciosas, dramas interiorizados, perfeição estética e poesia visual. Aqui, conhecemos Yeon (Park Ji-a), uma mulher que vive um casamento amargurado e, numa atitude sem explicações, passa a visitar Jin (Chen Chang), um presidiário suicida preste a ser executado. O que em muitos dos filmes anteriores do diretor soa bastante poético, como em Casa Vazia e O Arco, aqui adquire momentos de pura estranheza, como quando Yeon passa a visitar Jin na cadeia, e, decorando a cela de visitas com temas referentes às estações do ano, canta esganiçadamente canções que simbolizem cada estação. O filme caminha para um final que prevê desde o início a desagregação familiar, mas com o qual o diretor sabe fugir do clichê e surpreender da forma mais madura possível, sendo bastante justo com seus personagens.

5 comentários:

Kamila disse...

Eu quero tanto assistir "Simplesmente Feliz". Acho que devo gostar desse longa.

"Operação Valquíria": eu gostei bastante desse filme. Elenco ótimo, boa direção e uma história que mantém o clima tenso do início ao fim.

"Fôlego" foi o primeiro filme do Kim Ki-Duk que assisti. Achei interessante, mas não excelente. Me disseram para conferir outros filmes do diretor que eu poderei gostar mais.

Gustavo H.R. disse...

Depois de ver VERA DRAKE, a maestria de Leigh não precisa de mais nada para ser reconfirmada - mas FELIZ é bastante convidativo (desde a premissa aos pôsteres e trailers).

Kim Ki-Duk é um cineasta de grande prestígio cuja obra ainda desconheço, e pouco tinha ouvido falar desse FÔLEGO (e sim CASA VAZIA e o das estações). A conferir.

Unknown disse...

Ei, depois de ver um filme do Kim-ki-duk só de falar dele, já parece ser coisa boa. Quero conferir... (3 estrelas???)

O simplesmente feliz cumpre sua missão muito bem e com louvores. Poppy tem uma magia muito muito boa... (Não tem como esquecer das cenas do retrovisor! Tem?!)

Filipe Machado disse...

São três filmes que estão na minha listinha de próximos filmes a ver! Obrigado pelas críticas!

Rafael Carvalho disse...

Kamila, acho Operação Valquíra uma história bem contada, mas tensão mesmo para mim só aparece no final. E Fôlego não é mesmo o melhor do Kim Ki-duk, Casa Vazia, Primavera, Verã, Outono, Inverno e ... Primavera e, principalmente, O Arco merecem muito serem vistos. Assim como Simplesmente Feliz, um filme contagiante.

Gustavo, antes desse Simplesmente Feliz eu só tinha visto também o Vera Drake. O cara é muito bom. Vi recentemente Agora ou Nunca, também é um drama de primeira, embora um pouco irregular. Meu próximo será a Palma de Ouro que ele conquistou com Segredos e Mentiras. E esses dois filmes do Kim que você citou são mesmo ótimas obras dele, foram eles que recomendei para a Kamila, mais o melhor do diretor para mim: O Arco.

Hiiii, Elizio, lá vem você com essa crise de estrelas. Fôlego é bom, mas não chega aos pés dos outros filmes do Kim. E Simplesmente Feliz é ótimo, mesmo com as 3 estrelas e meia. Agora, err... não tô lembrado desa cena do retrovisor, não (!!!).

Todos os 3 são muito bem recomendados, Filipe.