sábado, 27 de outubro de 2007

3X Lynch

Como forma de me preparar para – o que dizem – surreal e supra-misterioso Império dos Sonhos, decidi mergulhar fundo na bizarra cinematografia da David Lynch. O único que tinha visto até então era o excelente Cidade dos Sonhos e pouca coisa tem me maravilhado tanto quanto seus filmes, principalmente os mais antigos. Abaixo, um pouco sobre os que vi recentemente.

O Homem Elefante (The Elephant Man, EUA, 1980)


Foi com o sucesso de O Homem Elefante que o Lynch conseguiu respeito e carta branca em Hollywood para filmar as suas loucuras visuais. A estrutura narrativa do filme é bastante comum, e a bizarrice vem do interesse em filmar a história real de John Merrick (John Hurt), que nascendo com deformações por todo o corpo é explorado como grande atrativo de um show de horrores. Fotografado num belíssimo preto-e-branco, acompanhamos a tentativa do médico Frederick Treves (Anthony Hopkins) de estudar o caso e uma vida digna ao Homem Elefante, como passa a ser chamado. Assim, descobrimos que a nobreza vem do interior, mas nem todos conseguem enxergá-la de pronto. A bela cena em que o médico vê pela primeira vez o Merrick é uma grata exceção. E já com esse filme percebemos o domínio de narrativa que o Lynch possui, mesmo que não traga nada de tão inovador. Algo que irá aprimorar em seus trabalhos posteriores.

Veludo Azul (Blue Velvet, EUA, 1986)


Quando o jovem Jeffrey Beaumont (Kyle MacLachlan, que trabalhou com o Lynch na série Twin Peaks, a qual estou louco para encontrar) descobre uma orelha humana nos arredores de sua pequena cidade natal, começa a investigação do misterioso caso. Juntamente com Sandy Williams (uma adorável Laura Dern), filha do detetive local, eles decidem investigar a principal suspeita, a cantora de cabaré Dorothy Vallens, interpretada por Isabella Rossellini, pela qual Jeffrey se envolve, numa atmosfera impregnada de erotismo e mistério. É daí que o Lynch extrai a sua habitual bizarrice, através do comportamento de seus estranhos personagens, como um pervertido Dennis Hopper que vive o chantagista que atormenta a vida da bela cantora. Essa é a forma do Lynch mostrar que mesmo sob um canteiro de flores residem grotescos insetos. "It's a strange world", com certeza.

Coração Selvagem (Wild at Heart, EUA, 1990)


Uma história de amor é o que mais fácil define a película, mas como o Lynch nunca é tão simplório assim, prepare-se para uma incrível jornada de um estranho casal (Nicolas Cage e Laura Dern, com ótima química) um tanto delinquente (ele, um rebelde sem causa; ela, uma ingênua; ambos apaixonados). Como a mãe da moça desaprova o romance, eles fogem, mas terão que se livrar do assassino que ela contrata para matá-lo. Aos poucos, as pontas da história vão se encaixando, revelando uma trama de assassinato em que os personagens estão mais conectados do que imaginam. Imagens persistentes e extremamente simbólicas dialogam entre si e criam uma atmosfera de suspense à medida que o quebra-cabeça vai se montando: é um fósforo que se ascende, a ponta de um cigarro se queimando, um corpo pegando fogo e uma casa em chamas. Destaque ainda para a bela trilha sonora, incluindo alguns rocks, e as bizarrices que surgem na tela, como de costume nos filmes do cara. A cena inicial mostra toda a brutalidade de seu personagem, mas a final vem para mostrar que os brutos também amam.


PS: Estava assistindo agora há pouco a Rabbits, uma série de curtas que o Lynch fez e lançou em seu próprio site no ano de 2002. Galera, aquilo é macabro. Macabro. E pra variar ninguém entende nada.

8 comentários:

Kamila disse...

O David Lynch é um diretor do qual eu não consigo gostar muito. Acho que ele gosta mesmo de ser incompreendido, de fazer coisas de temas difíceis. De qualquer maneira, os três filmes dele aos quais consegui assistir por inteiro foram: "Twin Peaks - Os Últimos Dias de Laura Palmer", "Cidade dos Sonhos" e o belíssimo "História Real".

Bom final de semana!

Wiliam Domingos disse...

Preciso muito ver Estrada Perdida, Twin Peaks, Coração Selvagem e Homem Elefante....
Tb queria assistir antes de ver Império dos Sonhos...
Vc já viu Duna?
é o filme dele mais difícil e menos adorado....queria ver sua opinião a respeito!
Eu até gostei...
rsrsr
Abraço!

Rafael Carvalho disse...

Bem Kamila, nem todos conseguem gostar do Lynch mesmo, mas acho que o barato está justamente nessa bizarrice dele, de ser confuso e surreal, explorando ao máximo as possibilidades da linguagem cinematográfica.

Wiliam, ainda não vi Duna mas está na minha lista, quero ver todos os longas do cara e mesmo que Duna seja bastante recheçado quero ver. Mas hoje vou assistir ao primeiro longa dele, Eraserhead.

Anônimo disse...

Adoro David Lynch. Dele falta eu ver Eraserhead, Twin Peaks e Estrada Perdida, mas já estão na mão (o primeiro via Web mesmo...). Acho ele um inventor de fábulas adultas extremamente densas. Chega a ser cruel às vezes, não apenas na dificuldade de interpretação, mas no próprio visual. O bom de Lynch é que seus filmes muitas vezes se revelam fontes maravilhosas de exercício da nossa percepção, e eu adoro isso. É um diretor que conversa (e brinca) com o expectador em vários níveis.

Andressa Cangussú disse...

Nossa, preciso de um Pouco mais de Lynch!
Ainda mais depois de Cidade dos Sonhos!

Bons textos, como sempre rafa!

(Asas do Desejo no cinematógrafo! Pra te estimular ainda mais a ver!)

Anônimo disse...

Mesmo com toda estranhice ou bizarrice, adoro ver os filmes de Lynch, acho tão pós-moderno...na maioria das vezes fico sem entender bulhufas, mas saio com a certeza que não perdi o meu tempo.

Anônimo disse...

bom comeco

Rafael Carvalho disse...

Então Anônimo, hoje só me falta algumas poucas coisas dele para eu ver, como Estrada Perdida e Uma História Real.