quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Dobradinha turco-germânica

O cineasta Fatih Akin ganhou maior notoriedade ao receber o Urso de Ouro em Berlim em 2004 por Contra a Parede. De descendência turca e criado na Alemanha, ele traz para seus filme a influência marcante da cultura da Turquia, principalmente a musical. Seus personagens transitam entre os dois países, algo que o possibilita falar sobre origem e lugar de cada um no mundo. Seu filme mais recente, Do Outro Lado, fez parte da seleção do festival de Cannes em 2007, do qual saiu com o prêmio de Melhor Roteiro, provando que ele conseguiu mesmo ser apreciado mundo a fora.


Contra a Parede (Gegen Die Wand, Alemanha/Turquia, 2004)


Além de tratar da falência e da banalização do casamento em nossa sociedade atual, Contra a Parede traz também uma forma de redenção para seus personagens. Sibel (Sibel Kekilli) mora na Alemanha com sua controladora e tradicional família de origem turca e desejando maior liberdade acaba tentando o suicídio. Na clínica de recuperação ela conhece o inconseqüente Cahit (Birol Ünel), também de origem turca e lhe propõe um falso casamento somente para que ela possa se livrar da autoridade de sua família. Sob o mesmo teto, cada qual vive independentemente, mas a aproximação dos dois vai se configurando até o momento em que uma tragédia os separa. Parece comum nos filmes do Akin as várias reviravoltas no roteiro e é justamente essa ao fim que minimiza o desenvolvimento da narrativa e consequentemente a força do filme. A agilidade do início perde para o tom pesado e visceral dos momentos finais. Uma excelente trilha sonora, numa mistura de ritmos, embala a história e talvez seja o grande atrativo do filme.


Do Outro Lado (Auf der Anderen Seite, Alemanha/Turquia/Itália, 2007)


Do Outro Lado é um filme sem protagonistas. As reviravoltas do roteiro entrelaçam a história de cada um dos personagens sem parecer forçado uma vez que cada qual possui sues próprios dilemas. O velho pai de Nejat se casa com a prostituta Yeter para que o satisfaça (todos são de descendência turca); Ayten, sua filha, mora na Turquia e elas não possuem contanto desde muito tempo. Depois que Yeter sofre um acidente fatal, Nejat parte para a Turquia em busca de Ayten. Mal sabe ele que a garota foi obrigada a fugir de lá, por envolvimento com grupos de ativistas políticos, para a Alemanha e conheceu a bela Lotte com a qual começa uma aproximação amorosa, a contragosto de sua mãe. Se em Contra a Parede as reviravoltas no final tiram a força da película, esse é justamente o grande mérito desse longa. A história é amarrada de forma segura e precisa pelo diretor-roteirista e se fecha perfeitamente. É também uma ótima oportunidade para se discutir a idéia do não pertencer a um lugar específico. É como se seus personagens estivessem sempre à procura de um lugar onde se sintam livres e realizados, e assim, encontrem a si mesmos. Mas no fundo, Do Outro Lado é ainda um filme sobre pais e filhos e sobretudo sobre sacrifício. Aquele que nos faz agir de acordo como nossos corações, independente das conseqüências. E aquele que nos faz perdoar, principalmente.

5 comentários:

Anônimo disse...

Já vi "Contra a Parede" e não gostei muito, é um filme equivocado em determinados aspectos apesar da boa proposta inicial. Ainda assim quero muito ver "Do Outro Lado", até mesmo pelo o prêmio em Cannes para o Akin.

Hélio Flores disse...

Já perdi as contas de quantos clientes mandaram eu assistir a "Contra a Parede" porque era muito bom. Sabe-se lá porquê nunca segui a indicação...

Nao lembro de "Do Outro Lado" ter saído em dvd... não, né?

Abraços!

fabiana disse...

Do outro lado ainda não vi!

Anônimo disse...

Aê caras, passando pra avisar que tá rolando um especial James Dean no Multiplot!. 32 textos, de 9 a 30 de setembro, sobre como a juventude vem sendo abordada através das décadas, sobre outros jovens talentos mortos prematuramente e, é claro, sobre o eterno rebelde sem causa. Tá só começando, Passem lá!

http://multiplot.wordpress.com/2008/09/09/especial-james-dean/

Um abraço!

Rafael Carvalho disse...

Equivocado como Vinícius? Acho que ele se perde um pouco no final, mas gosto de muita coisa. Principalmente a química entre os dois pesonagens principais.

Então Hélio, muita gente me falava muito bem do filme, mas não chega a ser grande coisa assim. Do Outro Lado (sim, não foi lançado ainda em DVD) é bem mais consistente.

Veja Fabiana, pode parecer um filme que trata de muitas coisas ao mesmo tempo, mas me parece que o Akin sabia exatamente o que queria.

Ual Luis Henrique, é um verdadeiro dossiê sobre o Dean. Vou tentar acompanhar o mateiral no blog. E seja bem-vindo ao Moviola Digital.

Abraços a todos!