domingo, 13 de dezembro de 2009

Curtos

Distrito 9 (District 9, EUA/Nova Zelândia, 2009)
Dir: Neil Blomkamp


Distrito 9 é um filme estranhíssimo, no melhor dos sentidos, porque os clichês do cinema de ficção científica e de aliens são postos de cabeça para baixo, aliado a boas doses de crítica social. Joanesburgo, capital da África do Sul, se torna o destino de uma nave alienígena que fica presa na cidade. Os tripulantes, seres de aparência e hábitos grotescos, estão enfraquecidos no nosso Planeta e não demora para que o governo os enclausure numa favela. Com certeza, nunca se viu nada assim dentro do gênero. O tom inicial de documentário tanto consegue explicar toda a situação como também fazer um retrato de Wikus (Sharlto Copley), funcionário da MNU (empresa responsável por controlar os aliens), uma vez que ele se tornará o centro da narrativa por desenvolver, em contato com os seres, um vírus que o transforma em um deles. A partir disso, a busca pela sobrevivência passa a ser a luta de Wikus. Interessante é perceber como ele entenderá que isso não se aplica somente aos seres humanos.


Stella (Idem, França, 2008)
Dir: Sylvie Verheyde


Stella é mais um filme que enxerga o mundo através do olhar de uma criança. Mas a despeito da inocência que esse olhar pode trazer, a garota Stella (Léora Barbara, ótima) é jogada num mundo hostil e precisa desde então lidar com os percalços de sua vida, seja na nova escola burguesa, seja no ambiente hostil de casa. Os pais, donos de bar e pensão freqüentados por delinquentes da Assistência Social, não conseguem oferecer à filha um ambiente doméstico dos mais saudáveis. Por isso, Stella, apesar de ainda pouco entender o mundo, já é testemunha da complexidade dos adultos e seus agravos. E o filme é muito sincero nesse sentido, apesar da imaturidade da protagonista. A câmera trêmula da diretora estreante pode soar clichê, mas faz todo sentido ao captar o universo sempre em desequilíbrio da protagonista. É nesse ambiente que Stella cresce, conhece a amizade, a maldade, a traição, o amor. E continua sua vida, apesar de todos os pesares.


X-Men Origens: Wolverine (Idem, EUA/Canadá/Austrália, 2009)
Dir: Gavin Hood


Uma pena que esse filme carregue no título a “marca” X-Men, que rendeu uma trilogia de respeito para com a série criada pelo lendário Stan Lee (somente o primeiro dos três filmes fica um pouco atrás dos demais). E é uma pena ver o diretor sulafricano Gavin Hood (que venceu o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro por Infância Roubada) tendo que servir de pau-mandado de estúdio para comandar a narrativa que recria o passado de Logan (Hugh Jackman, sempre perfeito para o papel), antes de se juntar à equipe do professor Xavier. A história precisa cair nos artifícios do jogo de gato e rato e contar com aquela surpresinha no final para parecer inteligente, ao invés de conferir a complexidade necessária que o personagem possui e com a qual merecia ser retratado. O valor, aqui, é dado a um filmete de ação com (péssimos) efeitos visuais.


O Solista (The Soloist, EUA/França/Reino Unido, 2008)
Dir: Joe Wright


Que decepção, Joe Wright! Depois do excepcional Orgulho e Preconceito e da ode à redenção que é Desejo e Reparação, a sensibilidade habitual do cineasta resultou na construção de uma narrativa batida que peca pela falta de emoção, justamente o que abundava nas produções anteriores. O encontro do músico superdotado Nathaniel (Jamie Foxx) com o jornalista quase-um-fracassado Steve Lopez (Robert Downey Jr.) tenta fugir dos lugares comuns dos filmes de superação, mas acaba caindo no vazio. O problema está na construção dos personagens, ambos muito frágeis e, até certo ponto, estereotipados. Steve, o verdadeiro protagonista do filme, ganha, através das atitudes estranhas de Downey Jr., um tratamento piedoso do cara que ajuda, mas precisa ser ajudado, enquanto Jamie Foxx empresta seu talento ao lunático que precisa a todo momento provar que é... lunático; a maioria de suas cenas servem para que o personagem exploda e impressione. De fato, sua interpretação é ótima, mas está presa a uma persona caricata, que é parte de uma narrativa tão frágil quanto a sanidade do músico.


O Exterminador do Futuro: A Salvação (Terminator: Salvation, EUA, 2009)
Dir: McG


Não vejo tantos motivos para desprezar a continuação da saga do Exterminador como tanta gente vem fazendo. Pelo contrário, acho que a série ganhou um filme mais preocupado em se arvorar por outros rumos, criou mais personagens, se ambienta no futuro sombrio que nos filmes anteriores só era vislumbrado e, ainda bem, não possui mais aquele argumento batido da máquina que volta do futuro para salvar/matar John Conner. Ou seja, uma bela mudança de ares, que continua entregando boas doses de ação e ainda consegue manter paralelo com a história que foi construída ao longo da série, em especial com o primeiro (e excelente) filme. Uma pena que A Salvação se acomode com essas novidades e acabe apresentando alguns problemas de roteiro aqui e ali. Mas a surpresa maior é a direção de McG que consegue manter o fôlego necessário para um filme do gênero e ainda nos dá boas cenas de ação.


Brüno (Brüno: Delicious Journeys Through America for the Purpose of Making Heterosexual Males Visibly Uncomfortable in the Presence of a Gay Foreigner in a Mesh T-Shirt, EUA, 2009)
Dir: Larry Charles


Não sou dos maiores fãs de Borat, muito por conta da escatologia que toma conta do filme, apesar admitir a maestria com que o comediante Sacha Baron Cohen aponta o dedo na cara do moralismo da sociedade norte-americana, revelando um povo cheio de pré-conceitos. Por isso, as expectativas em torno de Brüno surgiam mais de uma promessa de humor negro e da carga de constrangimento que certamente viria do fashionista gay do título. Mas a narrativa, construída como em sketches, possui poucos momentos verdadeiramente engraçados, e aí, problema maior, o filme se torna apelativo e irregular (como na sequência do teste para o programa de TV ou no acordo de paz entre palestinos e israelenses ou no programa de auditório). Na tentativa de ser mais ousado e atrevido, Baron Cohen criou um personagem extremamente bizarro, mas sua narrativa ainda é frágil, apesar das boas intenções.

10 comentários:

Gustavo disse...

Partilhamos da mesma opinião quanto a DISTRITO 9. Umal ufada de originalidade no género, sem precisar ser cabeça ou chato.

Já T4 achei mais medícore!

Wallace Andrioli Guedes disse...

Acho DISTRITO 9 bem legal, tem algumas escolhas brilhantes ali, mas acho que o filme perde a chance de ser uma obra-prima ao apostar muito no gênero ação. Se fosse menos frenético, menos acelerado, poderia ter se tornado um dos grandes do ano.
Nossa, que balde de água fria esse seu texto sobre O SOLISTA! Primeiro porque, assim como você, adoro o Joe Wright (tenho DESEJO E REPARAÇÃO como um dos meus filmes favoritos dos últimos tempos). Segundo, porque estou me programando para assisti-lo ainda essa semana, provavelmente amanhã ou quarta. E agora, o que faço? rsrs. Brincadeira, devo encarar mesmo assim, e depois lhe digo o que achei...
Sobre T4, para mim só serviu para mostrar que, sem o James Cameron, essa franquia deveria ter parado no segundo filme.
Por fim, WOLVERINE é uma bomba, um dos piores do ano!

João Daniel Oliveira disse...

Ainda não tive coragem de ver Wolverine. Quanto a trilogia X- Men original, curiosamente acho o primeiro mais divertido, e o último bem fraquinho...

Estou com você: Orgulho e Preconceito é realmente excepcional. Tbm gostei, com reservas, de Reparação. E tô com medo do Solista,rs, não é a primeira resneha negativa que leio...que pena viu.

Exterminador 4 não me abalou. Tirando o visual e uma surpresa aqui e acolá, achei mais do mesmo. McG simulando seriedade.

Já Brüno eu admito, é tosco, irregular, mas mesmo assim achei bem bom, um filme provocativo em meio a pasmaceira que foi a comédia no cinema este ano.

Distrito 9 ainda não vi, passou no cinema daí?

E Lua Nov, teve coragem de conferir?Rs

Queria ter visto Os Fantasmas de Scrooge, mas ficou só uma semana em cartaz aqui...

Matheus Pannebecker disse...

"X-Men Origens: Wolverine" e "Brüno" entram facilmente na lista de piores do ano...

Anônimo disse...

acho 'distrito 9' um filme muito bom e com um conceito bem interessante. 'bruno' não tive paciência prá assistir. 'wolverine'... bem, é o tipo de filme no qual você desliga seu cérebro. o que é uma pena porque pdiam ter feito um filme muito bom com o personagem. 'exterminador do futuro'... é um filme ok apenas.

Unknown disse...

Distrito 9 é realmente um alento em meio a tanta porcaria produzida sob etiqueta de sci-fi. Subverter o comportamento dos humanos perante os alieníginas foi uma ideia genial, uma quebra de paradigma cinematográfico!

Eu adorei Stella. Acho o filme uma pequena pérola - pela simplicidade do roteiro e pela profundidade dos temas abordados.

Abs!

Diego Rodrigues disse...

Distrito 9 é bem divertido; Bruno tem pouquíssimos momentos que podemos sorrir; O Exterminador do Futuro A Salvação é bem regular; X-Men: Origens é fraquíssimo mesmo; e O Solista eu não assisti ainda, mas to tentando criar coragem. Estreou semana passada aqui na minha cidade.

Cristiano Contreiras disse...

Puxa, eu achei o X Men Origens melhor que o terceiro X Men da trilogia, acredite se quiser!

Bom, ainda não vi O Solista, mas adoro J. Wright, verei em breve!

ótimo blog este, viu! estou lendo aqui os arquivos...

Cristiano Contreiras disse...

Já sou seguidor!

Rafael Carvalho disse...

Exatamente Gustavo, inovador sem ser cabeça. T4 não chega a ser medíocre, se a gente for lembrar daquela porcaria que é o terceiro filme...

Wallace, eu também acho que o início do filme é bem melhor que a parte final, mas não acredito que isso aconteça por se basear mais na ação, mas porque a história toma muitos rumos incertos, não muito bem definidos. Mas pela originalidade da ideia, já vale a pena. E sim, vá ver O Solista, quem sabe você gosta do filme? E mesmo achando que a franquia Terminator não deveria ter mais continuações, pelo menos T4 não é uma vergonha total.

João Daniel, opiniões diversas quanto à trilogia X-Men, mas concordamos quanto a T4. Veja O Solista, mas se prepare para uma coisa bem diferente em tom daquilo que Joe Wright já nos deu. Justo por Bruno ser tosco e irregular que não gostei. Sim, passou Distrito 9 no cinema aqui. E só fui ver Lua Nova recentemente. Os Fantasmas de Scrooge nem sinal de passar por aqui.

Matheus, apesar da nota baixa, não acho que entram na lista de piores, se bem que é uma tentação colocar X-Men Origens: Wolverine.

Cinematranscendental, Distrito 9 é um sopro de renovação ao gênero (ou gêneros). E não vou muito nessa onda de desligar o cérebro para ver um filme, por isso o Wolverine se mostre tão desinteressante.

De fato Dudu, Distrito 9 subverte muitos lugares-comuns, pena que a parte final caia um pouco, mas já vale muito a pena. E concordo exatemente contigo, Stella é simples mas profundo. A atriz mirim é ótima.

Diego, acho Distrito 9 mais do que divertido, além de renovador, sabe cutucar a sociedade com uma crítica social das mais inteligentes. Mas concordo quanto a Bruno, poucas cenas realmente engraçadas. T4 pode ser regular, mas acho bem melhor que o terceiro da série. E já viu O Solista?

Entro em contato, Thays!

Cristiano, tu tá falando sério? Gosto muito do Confronto Final, por pouco não é melhor que o segundo. Mas enfim, são opiniões. Acho a história do Wolverine bastante mal contatda, a ação bem mal desenvolvida, e ainda com reviravolta golpista no final. Também adoro o Joe Wright, fiquei decepcionadíssimo com o fracasso de O Solista. E que bom que gostou do material do Moviola Digital, fico lisonjeado. Seja bem vindo ao humilde blog. Volte sempre.