domingo, 5 de setembro de 2010

O peso da perda

Direito de Amar (A Single Man, EUA, 2009)
Dir: Tom Ford



O fato de Tom Ford ser um famoso estilista que estava se enveredando no universo do cinema como diretor (eu, sinceramente, nunca tinha ouvido falar dele) não me parecia um atrativo muito grande para eu assistir a Direito de Amar. Mas acho que eu consegui gostar do filme mais do imaginei, e mais até do que muita gente que o apedrejou por aí, embora o resultado fique só no mediano.

Se de uma forma geral a narrativa é eficiente em sua proposta de transmitir o sofrimento da perda de um amor, o filme ainda tem aquele ar de direção novata que precisa afirmar que sabe fazer cinema e não está ali por puro capricho. Talvez por isso o filme insista numa narrativa não-linear, movimentos sinuosos de câmera, mudanças da palheta de cores reforçadas por flashbacks introspectivos, trilha sonora que faz questão de soar mais alta desde o início do filme, direção de arte e figurinos que insistem em se fazer presentes.

Não que esses quesitos sejam indispensáveis ao filme, e muito menos que sejam mal pensados ou fora de propósito; a fotografia, por exemplo, acompanha o estado de espírito da situação, seja o tom acinzentado para apresentar os dias melancólicos do personagem, seja o tom ensolarado dos flashbacks em que dois parceiros viviam felizes (mesmo um preto-e-branco do passado é radiante). O problema é que tudo soa como uma construção um tanto premeditada com o intuito de reforçar o filme como uma peça de arte genuína, seu valor estético dentro da feira de vaidades industrial que é o cinema.

Mas o filme ganha pela sutileza com que nunca soe previsível e nem forçado. Os caminhos trilhados pelo professor universitário que acaba de receber a notícia de que seu amado parceiro morreu em um acidente de carro são ao mesmo tempo doloridos, mas fazem todo o sentido para um personagem que precisava esconder e lidar com essa situação numa época (precisamente a década de 60, tão libertária nesse sentido) em que o homossexualismo não tinha a abertura que vem conquistando aos poucos (e que nem é tão aceito assim nos dias de hoje).

De qualquer forma, por mais que o tema seja bastante relevante ao diretor, um dos pontos positivos do filme é que isso nunca é usado como fator de compaixão. Transparece somente a dor que corrói o personagem.


Nesse sentido, é belíssima a atuação contida de Colin Firth, na medida exata da discrição num personagem que, na maior parte do tempo, está prestes a explodir. Com certeza, Tom Ford encontrou no ator um dos grandes pilares de seu filme, que eleva bastante a experiência de assisti-lo. E como se não bastasse há ainda outra performance à altura das melhores do ano, cortesia de Julianne Moore, atriz competente (que nem sempre acerta), fazendo aqui muito com o pouco tempo que tem na tela e a personagem complexa que lhe foi dada.

Ela é a fiel confidente, mas também a mulher que sempre o amou. O melhor momento do filme é o encontro em que os dois repassam suas vidas e avaliam o que poderia ter sido dos dois caso tomassem rumos diferentes (e convergentes). Mais adiante, uma outra possibilidade vai se apresentar ao caminho do protagonista, para além de sua decisão de se matar.

Ao final, Direito de Amar surpreende pela sensibilidade e ainda é bastante sincero e coerente para um personagem errante. Tom Ford mostra que, apesar de haver saídas, nem sempre o caminho é tão simples e fácil de alcançar.

2 comentários:

Cristiano Contreiras disse...

Gostei MUITO DO FILME, ...engraçado que também nem esperava tanto do filme, sério mesmo...até demorei de vê-lo em função disso. Ainda que goste dos trabalhos de Colin Firth.

A maneira de colocar o personagem mais intimo do publico - com a narrativa em off, a trilha bela de Abel Korzeniowski pontuando suas emoções e, principalmente, o recurso técnico visual da linda fotografia (como você disse no post) são pontos perfeitos no filme - o uso das cores fortes, densas, quando representam algumas sensações de George é incrível de se ver...

E é um filme que fala apenas de um homem que sente a perde de outro...de seu grande amor...um ser homossexual, sim...mas, o filme nem é panfletário...

Eu gostei muito deste filme!
Primoroso! Triste!

abs

Rafael Carvalho disse...

Realmente, Cristiano, o filme não tem nada de panfletário e essa é uma de suas melhores qualidades, mas ainda assim tem um ar de direção principiantes, cheio de recursos. Trilha sonora talvez seja o melhor quesito técnico.