
Vida Fuleira – Um Artista de Rua e a Bailarina (RJ/BR, 2007)
Dir: André Sampaio


Meio Poeta (BA/BR, 2008)
Dir: Caco Monteiro


Nossa Vida Não Cabe Num Opala (SP/BR, 2008)
Dir: Reinaldo Pinheiro


Mais um longa de um diretor estreante aporta na Mostra que vai revelando longas cada vez melhores nesse que é o penúltimo dia do evento. Vencedor do Cine PE deste ano, Nossa Vida Não Cabe Num Opala (título incomum) trouxe uma narrativa mais ágil e mais agressiva em sua proposta de voltar o olhar para uma família disfuncional e os dramas de seus componentes.
Os quatro irmãos da família Castilho vão se virando numa vida de marginalidade após a morte do patriarca (Paulo César Peréio). Monk (Leonardo Medeiros) é o mais velho, mais tranqüilo, e assume o comando da família; Lupa (Milhem Cortaz) faz o tipo ladrão-brutamontes-fuleiro enquanto o mais novo, Slide (Gabriel Pinheiro), se inclina para seguir os mesmos passos dos dois últimos, mesmo em conflito interior pela falta da mãe; Magali (Maria Manoella) é a única mulher, que se vê perdida naquele ambiente grotesco e do qual não parece encontrar saída. O surreal invade o filme à medida que o pai começa a aparecer, tentando dialogar com seus filhos e reparar os erros do passado.
O desarranjo de vida dos quatro irmãos parece ser resultado da própria experiência familiar. O pai lidava com roubo e desmanche de carros, numa vida de marginalidade embrutecida, algo que deixa de “herança” para os filhos. Monk e Lupa continuam os negócios do pai, relegando a todos o mesmo destino cruel e perverso. O filme é mais um estudo da disfuncionalidade familiar que retira o humano das pessoas e coloca pedras no lugar do coração. E é triste notar que nem sempre há volta.
A inclusão da personagem Sílvia (vivida por uma Maria Luísa Mendonça bastante expressiva) que seduz e leva os três irmãos homens para sua casa (um de cada vez), possui algo de grande afetuosidade já que em seu apartamento ela busca não só o sexo mas o carinho deles. Seria o grande contraponto em relação à rotina dura e bruta em que estão inseridos. Seu discurso sobre a solidão (não necessariamente explícito) é um dos grandes momentos do filme.
E se Milhem Cortaz arrasa em todas as cenas em que aparece, com seu jeito, cara e forma de pensar e agir de um marginal, é preciso dar destaque para todo o elenco que em conjunto funciona tão bem quanto em solo. Jonas Bloch precisa de muito pouco para imprimir a onipotência de seu personagem, o grotesco dono do negócio de desmanche, grande responsável pela vida desregulada e conseqüente morte do pai do quarteto. Marília Pêra fecha o time numa participação mínima, mas marcada por uma sensibilidade sem igual.
Com uma narrativa ágil e despojada, o filme talvez perca algum tempo em seqüências que soam mais como exercício de estilo (câmera em plongé giratório observa dois dos irmãos enquanto eles fumam e falam de drogas e mulheres; ou então uma edição entrecortada prevendo cenas que vão acontecer poucos minutos depois). Mesmo assim, é uma narrativa inventiva e cheia de originalidade. Talvez falte isso ao nosso cinema, coragem para ousar. Nesse caso, deu muito certo.
4 comentários:
Muito curioso para ver "Nossa Vida Não Cabe Num Opala", ainda mais depois dessa crítica...
Nooossa, que filme bom! Você sai da exibição com milhares de idéias, e está aí a maravilha de um bom drama, bem amarrado, com conflitos tão reais e possíveis...
Destaque para as personagens femininas, que apesar de aparecerem em menor quantidade, deixam seus conflitos pessoais muito bem demarcados. Um filme que me tocou, enfim...e começa marcando muito bem desde o título curioso e bem planejado.
Beijos, Rafa!
Gostei muito do filme. Fiquei imaginando como a história se desenrola no teatro( é claro rs) Ótimas atuações. Leonardo Medeiros está bem diferente de outros trabalhos que já vi dele, ótimo ator, sem falar em Jonas Bloch q vc definiu muito bem, ele tem uma excelente interpretação interna só pelo olhar ele transmite tudo o q o personagem é. As cenas de Maria Luisa Mendonça foi bem estilo Nelson Rodrigues mesmo, mas achei um pouco fraca diante do peso do roteiro, poderia ter sido melhor dirigida, o discurso dela sobre a solidão realmente foi marcante. Um filme q vale a pena!
Bjs!!
Esse título também me deixou muito curioso, Vinícius. E não sabia nada sobre o filme antes d vê-lo. Uma grata surpresa.
Indhy, foi justamente isso que aconteceu, o filme nos fez fazer reflexões interessantes sobre aquelio que tinhamos acabado de assistir. Esse é o resultado de um bom filme. Tod0os os personagens são muito interessantes.
Patty, que filmaço, hein! E você sempre pensando nos filmes para o teatro. Mas ficaria interessante mesmo. E o elenco é mesmo um caso à parte. Estava achando as cenas com a Maria Luisa Mendoça um pouco deslocadas (e mais para o fim se tornam um tanto repetitivas), mas é esse discurso dela que me pareceu tão importante e pertinente.
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