segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Dobradinha Murnau

Nosferatu (Nosferatu, Eine Symphonie des Grauens, Alemanha, 1922)
Dir: F. W. Murnau


Essa é a primeira versão da conhecida história do Conde Drácula para o cinema, adaptação livre e não autorizada da obra de Bram Stoker. O corretor de imóveis Hutter (Gustav von Wangenheim) é convocado a visitar o conde Orlok (Max Schreck) nos Montes Cárpatos para vender-lhe uma propriedade na cidade de Bremen, mas irá se surpreender com o assustador anfitrião, na verdade um milenar vampiro disposto a alastrar uma grande peste na cidade. Através de Hutter, Orlok irá se encantar por sua esposa, a doce Ellen (Greta Schröder).

O cinema de horror deve muito a Nosferatu como uma das grandes inspirações para o gênero, aliado às características do Expressionismo Alemão, corrente artística que se utiliza do jogo de sombras, o forte contraste do claro-escuro, a composição dos cenários, a expressão exagerada dos atores (devido também ao cinema mudo), tudo em prol do efeito dramático. É isso que faz as imagens soarem tão consistentes na sua intenção de criar atmosfera de suspense constante. O filme se beneficia disso para prender o espectador e fazê-lo se arrepiar com a simples aparição do príncipe das trevas na tela.


Tabu (Tabu: A Story of the South Seas, EUA, 1932)
Dir: F. W. Murnau



Depois de realizar Aurora, seu primeiro filme em solo norte-americano e um dos romances mais incríveis a que eu já tive oportunidade de assistir, a carreira do cineasta alemão F. W. Murnau se afasta um tanto do Expressionismo e ganha a seara dos filmes românticos. Esse aqui, seu último trabalho (ele morreu durante um acidente de carro pouco antes da estreia do filme) conta a história de amor impossível entre dois nativos da ilha de Bora Bora, então intocada pela civilização branca. A bela Reri (Anne Chevalier) foi escolhida para ser a virgem sagrada dos deuses que guardam a ilha. A partir de então, não pode ser cobiçada por homem nenhum; mas o amor de um jovem tentará quebrar a tradição.

Murnau continua dono de um apuro técnico impecável, filmando tudo com muita elegância; cada plano parece ser bem estudado e filmado com esmero. A trilha é outra acerto pois acentua belissimamente o triste destino dos amantes, obrigados a fugirem. Vale ressaltar que o roteiro foi co-escrito pelo pai do cinema documental Robert Flaherty (seu Nanook, o Esquimó é um marco no gênero), talvez por seu conhecido trabalho com civilizações desconhecidas. As divergências culturais entre os nativos e o homem branco é um fator bem explorado pelo filme, mas é a relação de amor impossível entre os protagonistas o grande centro da narrativa, acentuado por um final corajoso e sincero.

9 comentários:

Stella disse...

Revi "Nosferatu" recentemente e me impressionou a perfeição do trabalho de Murnau, que continua impressionante, mesmo tendo passado já tantos anos.

Gustavo H.R. disse...

Murnau, um dos primeiros grandes gênios do cinema cujas obras ainda não tive oportunidade de ver. NOSFERATU tem imagens tão clássicas que até dá impressão de já tê-lo visto.

Kamila disse...

NUNCA assisti a nenhum filme do Murnau! Que vergonha, hein???

Diego Rodrigues disse...

Sou fascinado por Murnau. Considero o seu Nosferatu uma das grandes obras-primas do Cinema.

Rafael Carvalho disse...

Stella, o trabalho do Murnau é de uma perfeição incrível mesmo. O domínio da técnica está lá, mesmo que de uma forma diferenciada. E sem dúvida esse é um dos filmes que ajudaram a aperfeiçoar a linguagem cinematográfica.

Gustavo e Kamila, vocês não sabem o que estão perdendo!!!! Descubram o quanto antes o cinema do Murnau que vocês não irão se arrepender.

Diego, também acho o Nosferatu um filme de alta grandeza, mas meu Murnau do coração é Aurora, obra-pima de primeiro grau.

Stella disse...

Vou procurar "Aurora". Espero que ainda exista nas locadoras do bairro.

Rafael Carvalho disse...

Procure mesmo, Stella. Aquilo é uma preciosidade sem fim!

Stella disse...

Rafael, gostei tanto de sua análise de "Nosferatu" que coloquei na minha postagem de hoje do By Star. Eu não poderia ter feito nada melhor... Linkei para seu blog, é claro. ;-)

Rafael Carvalho disse...

Stella, fico extremamente grato pela citação de meu texto no seu blog. Acho que por o filme ser um clássico, merecia uma análise maior e mais ampla, mas como ia demorar mais tempo para fazê-la, deixei assim mesmo. São filmes assim que nos instigam a escrever e a amar o Cinema.