sábado, 19 de janeiro de 2008

Reajuste

Desejo e Reparação (Atonement, Inglaterra, 2007)
Dir: Joe Wright



Desejo e Reparação é, acima de tudo, uma história de arrependimento, mas também de amor. Amor que encontrará barreiras não nas convenções da sociedade que poderiam distanciar a jovem e aristocrática Cecília Tallis (Keira Knightley) de Robbie Turner (James McAvoy), filho do caseiro da propriedade dos Tallis, mas sim de uma inconseqüente acusação da irmã mais nova de Cecília, Briony (a talentosíssima Saoirse Ronan). A pequena irá incriminar o rapaz por algo que não cometeu e tal ato mudará a vida de todos. E se o casal sofrerá a dor da separação, é Briony que passará por um dilema moral mais intenso que a acompanhará por toda vida.

A história avança e acompanha os personagens alguns anos depois do incidente. E é notável perceber o quanto o amor daquele casal resistiu ao tempo e às adversidades do destino. Para se livrar da prisão, Robbie vai lutar na Segunda Grande Guerra enquanto Cecilia, numa belíssima cena de reconciliação, jura esperá-lo o tempo que for preciso.

Ao mesmo tempo, Briony já crescida (vivida agora por Romola Garai) passa a entender a dimensão de seu ato e tenta repará-lo. E essa tentativa nos leva ao final do filme, num dos momentos mais marcantes da personagem, agora tendo em Vanessa Redgrave a sua última encarnação, quando descobrimos a única forma possível que encontrou para se redimir, numa cena tristemente reveladora.

O primeiro destaque do filme vai para as belas atuações de todo o elenco. Saoirse Ronan, embora novinha, nos revela a perversidade inocente de sua personagem, com expressividade incrível. Keira Knightley está bem, mas só. Ramola Gerai mantém o alto nível enquanto Vanessa Redgrave, em poucos minutos, expressa todo o ressentimento de sua personagem. Mas é James McAvoy quem entrega os melhores momentos, seja em sua paixão inicialmente reprimida, na dor de ser acusado injustamente e na firmeza adquirida para suportar a distância que o separa de sua amada.

Com um elenco desses, Joe Wright conduz o seu drama com segurança (vide o incrível plano-sequência da chegada ao campo de refugiados), como já havia provado em sua estréia na direção com Orgulho e Preconceito. Para não cair no melodrama, a trilha sonora sabe a hora certa de se apresentar, nunca se sobressaindo à trama. E uma fotografia bastante intensa no início, dá lugar a uma coloração mais densa adiante.

Aliado a um roteiro bem estruturado (embora eu não tenha lido a obra original), o filme é um exercício de construção de trama, que aos poucos vai revelando as reais intenções e anseios de seus personagens. Ao fim, uma história de amor tão bela é revelada numa última tentativa de reajuste, principalmente consigo mesmo.

5 comentários:

Anônimo disse...

Tendo lido a obra de Ian McEwan posso dizer que Joe Wright e o roteirista Christopher Hampton foram bastante fiéis ao estilo narrativo do autor. Os recursos narrativos mais importantes estão ali.

Os meus destaques foram os mesmos que os seus. As três atrizes que interpretam Briony (com destaque para a Romola Garai) e o James McAvoy. Acho que só a Keira Knightley destoou do resto do grupo.

Gustavo H.R. disse...

Joe Wright deve ser uma das revelações mais bem-vindas, no campo da direção, destes últimos cinco anos. Poderia se satisfazer com romances plasticamente belos porém vazios, mas os roteiros com que trabalha têm substância e, como no caso de ATONEMENT (nas suas palavras e de outros que assistiram, porque eu ainda não o vi) complexidade também.

Só é uma pena a lastimável quantidade de cópias com que estreou no Brasil, menos de 50...

Cumps.

Rafael Carvalho disse...

Que bom que está tendo a oportunidade de ler os livros do McEwan, Kamila, porque falam muito bem do trabalho de adaptãção do roteiro. E confesso que não sou muito fã da Keira, não.

Realmente Gustavo, o Wright é uma das boas coisas que Hollywood produziu recentemente. E olha que esse é só o segundo filme dele. Pra mim, meria muito mais a indicação de diretor no Oscar do que o Tony Gilroy.

Anônimo disse...

Gostei da crítica sem falar que adorei você ter apreciado tanto o filme - infelizmente algo que muita gente não fez. Eu achei maravilhoso, um pouco frio em alguns momentos, mas queria ver mais filmes como esse no cinema. Um belíssimo trabalho do Joe Wright...

Rafael Carvalho disse...

Realmente Vinícius, muita gente não apreciou tanto o filme. Acredita que eu li gente falando que achou o filme um melodrama com cara de novela mexicana? Pra mim, é um absurdo isso, mas aí é a opinião de outra pessoa. Cada um pensa diferente, não?