
Agora é pra finalizar. Impressões sobre os últimos filmes vistos no Panorama:
Trampolim do Forte (Idem, BA/BR, 2010)
Dir: João Rodrigo Mattos

O filme insere uma série de personagens infantis que transitam entre o rte do Porto da Barra e adjacências a fim de buscar um olhar sobre as mazelas sociais que afligem esses garotos de origem pobre que trabalham e perambulam pelas ruas da cidade. E aí reside um ponto negativo do filme: uma tentativa desesperada pela denúncia social que reduz uma série de outros personagens em caricaturas (os policiais corruptos, o estuprador misterioso, o pastor oportunista, etc.) e que faz a narrativa girar em torno de uma piedade para com seus personagens mirins.
Existe toda uma simplicidade na forma como o filme retrata esses meninos em seu cotidiano, muito provável a melhor coisa do filme (os melhores momentos surgem da interação entre os protagonistas, Felizardo e Déo). Mas quando aparecem na trama as reviravoltas, mistérios e meandros dramáticos que englobam uma série de personagens e situações, a narrativa perde em verossimilhança e leveza. Fica o gosto de mais uma oportunidade desperdiçada.
Transeunte (Idem, RJ/BR, 2010)
Dir: Eryk Rocha


Não se trata aqui de superação, é muito mais que isso. Expedito vai aprender a conviver com suas limitações de idade, seu ritmo próprio e sua condição solitária. E o grande mérito do filme é respeitar enormemente esse personagem, sem olhares de piedade. O ritmo lento, o preto-e-branco de uma fotografia belíssima e nunca carregada e os planos bastante fechados nesse personagem que perambula pelas ruas do Rio de Janeiro só reforçam a relação de observação que o filme mantém com Expedito e sua rotina do jeito que se inscreve, acompanhando-o aonde ele for, sem interferências.
Apesar das duas horas de projeção que fazem o filme parecer maior do é, até mesmo pela sua atmosfera contemplativa, Transeunte poderia ser mais palatável se fosse um pouco mais enxuto. Mas trata-se de uma história que surpreende pela demonstração de dignidade que o protagonista nos oferece, sem amargor.
Vigias (Idem, PE/BR, 2010)
Dir: Marcelo Lordello


O registro é dos mais válidos pela oportunidade de voz que dá a esses personagens anônimos do dia a dia, mas o que falta ao filme (ou aos personagens com suas falas) é um discurso que seja relevante, que tenha algo importante e não comum ou já esperado a ser dito. Não que as dificuldades e peculiaridades do ofício não sejam relevantes, mas soam como algo sem grande interesse.
Há ainda toda a discussão sobre o problema da violência e da necessidade pela segurança, o que acaba justificando o trabalho daquelas pessoas. Ainda assim, trata-se de algo que perpassa mais as entrelinhas do filme do que necessariamente uma preocupação temática forte evidenciada pelo longa. No fim das contas, Vigias se apresenta como um registro mais quadrado e sem grandes pretensões.
Nenhum comentário:
Postar um comentário