terça-feira, 23 de março de 2010

Descaminhos da inocência

Mother – A Busca pela Verdade (Madeo, Coreia do Sul, 2009)
Dir: Bong Joon-ho



É inegável como os sulcoreanos são mestres em nos oferecer histórias surpreendentes, com o propósito de nunca parecerem óbvios ou repetitivos. Existe um frescor imenso que emana daquela filmografia, coisa que pode ser bastante aproveitada em Mother – A Busca pela Verdade, filme sensação do mais novo queridinho Bong Joon-ho, que nos conta a história de uma mãe (Kim Hye-ja) buscando provar a inocência de seu filho (Won Bin).

Uma das maiores qualidades do filme é flertar com um gênero ou um esquema narrativo conhecidos, mas com uma capacidade brilhante de fazer a história seguir por caminhos outros, trazendo novas sensações e reações. Veja o caso de nossa heroína: não temos uma mãe destemida e superinteligente, a personagem tem vários defeitos, sua fraqueza é exposta por um ato condenável feito no passado e, em determinado momento, ela será capaz de uma grande perversidade.

Se a protagonista possui tanta complexidade, tudo se torna mais potente quando uma grande intérprete assume o papel. Kim Hye-ja constrói sua personagem da forma mais genial possível, se utilizando de uma expressão facial riquíssima em nuances. Toda fragilidade de sua mãe ganha destemor e coragem na sua determinação de salvar o filho. É desde já uma das melhores atuações femininas do ano, com o desafio de encontrar interpretação com mesma força e genialidade a se comparar. Destaque também para o filho demente interpretado por um ótimo Won Bin que passeia entre o demente e o ridículo.

O diretor nunca procura saídas fáceis. O filme se arrisca por caminhos inesperados, mas que são muito mais sinceros, por mais que ponha em cheque a credibilidade de seus personagens. Dessa forma, se torna muito mais sincero e humano. Além disso, terá coragem suficiente para conduzir a história a um desfecho cruel e sem concessões. Os personagens estão à mercê dos acontecimentos em que a verdade tem papel preponderante, para o bem e para o mal.


Bong Joon-ho confirma o grande cineasta que é pelo cuidado minimalista, seja na composição da história (os mínimos detalhes vão encontrando sua importância na narrativa), seja na construção das cenas. O pôr-em-cena, em suas mãos, torna-se um dos trabalhos mais gratificante do filme porque é possível perceber na tela o apuro de filmar cada tomada, muito embora o filme nunca soe calculado.

Além disso, o tom trágico da história ganha contornos cômicos da forma mais bizarra possível, tanto pela própria construção dos personagens (mãe ingênua e filho demente), mas também pelo desenrolar da narrativa. O equilíbrio perfeito entre essas duas atmosferas é o que confere a sensação de estranheza em torno do filme, mas das mais positivas porque nos dá a certeza de estarmos diante de um trabalho ao mesmo tempo atípico e refrescante.

7 comentários:

Gustavo H.R. disse...

Esse diretor é dos mais interessantes do atual panorama asiático, e me dá água na boca todo o material escrito sobre esse seu mais novo filme.

Unknown disse...

Po, o Bong Joon-ho é um senhor diretor! Adorei o trabalho dele em Tokyo! Vou catar este aí, com certeza!

Abs!

Wallace Andrioli Guedes disse...

É espetacular, como tudo do Joon-Ho que vi até hoje. Quando assisti, no Festival do Rio, fiquei impressionado, e cheguei a elegê-lo o melhor filme do Festival. A protagonista é maravilhosa e a cena final é brilhante!

Diego Rodrigues disse...

Bong Joon-ho, pra mim, é um dos melhores diretores atualmente. Seu cinema é sempre uma experiência única.

Adoro Mother, acho-o um grande filme, como em quase todos da carreira do diretor. Uma palavra apenas define Mother: Brilhante.

Rafael Carvalho disse...

Concordo contigo, Gustavo. O Bong Joon-ho é uma das gratas surpresas no cinema e mais uma vinda da Coreia do Sul, tão em alta ultimamente. Acho que você não vai se arrenpender ao ver esse Mother.

Dudu, acho o segmento do Bong em Tokyo o melhor de todos. É um diretor sensacional e que sabe o que está fazendo.

Wallace, não acho tudo do Bong sensacional. Assisti recentemente a um filme anterior dele chamado Cão que Ladra Não Morde, e achei bem fraquinho. Mas pra quem já fez esse Mother e Memórias de um Assassino, tá com crédito na praça. A cena final desse aqui é maravilhosa, assim como a inicial. E Kim Hye-ja já é a melhor atriz do ano. Tá difícil de alguém superá-la.

Diego, isso mesmo. O diretor é foda e o filme é fodaço. Simples assim.

bruno knott disse...

Gostei e concordo com sua interpretação do filme....

Excelente filme, mesmo!

Abs!

Rafael Carvalho disse...

Boa Bruno. Esse tem sido um filme bastante bem aceito no meio cinéfilo. Está no meu topo do ano até então.