quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Pop detetive

Sherlock Holmes (Idem, EUA, 2009)
Dir: Guy Ritchie


Eu não tenho nada contra adaptações personalizadas. Quando um cineasta se propõe levar para as telas personagens e histórias que já existem, faz muito bem ao incluir sua marca pessoal no projeto. O grande problema é quando essa interferência faz com que o personagem perca totalmente suas características intrínsecas. É justo isso que acontece no novo filme de Guy Ritchie.

Essa era inclusive a oportunidade do diretor em trabalhar com um material diferenciado, a fim de diversificar um pouco, porque todos os filmes dele parecem os mesmos (Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes e Snatch – Porcos e Diamantes), outros são péssimos (Revólver e RocknRolla). Pelo visto, Ritchie não quis arriscar, ou não pôde; ou os dois.

E olha que eu não sou dos maiores fãs do detetive londrino. Sei que a criação de Conan Doyle foi de enorme importância para a literatura policial (com reflexos na narrativa fílmica), mas o método de adivinhação via observação aguçada do Sherlock sempre me pareceu duvidoso, forçado.

De qualquer forma, é bastante desanimador que o filme utilize desses artifícios para promover uma atmosfera de ação e adrenalina quando o verdadeiro Sherlock era só concentração e uso das células cinzentas. Por que fazer dele um tresloucado fajuto? Por que usar o gosto do personagem por boxe e fazer dele um lutador de luta livre? Se o filme pretendia ser mais ousado, cadê a predileção do personagem pela maconha?

Então, pode-se questionar: se o personagem foi tão distorcido, por que o filme se chama Sherlock Holmes, e não Dois Detetives em Apuros? Resposta: desse jeito que está, o projeto atrai publico para um personagem reconhecível, garantindo apelo comercial. Elementar, caro Ritchie.

Sem falar nos recursos de edição que parecem tomados da síndrome Michael Bay. Na primeira cena de luta, os movimentos e cortes são tão rápidos, que aposto como ninguém sabe o que aconteceu; e isso se repete com outras cenas do longa. Robert Downey Jr. e Jude Law fazem um bom par, mas se o primeiro é construído como um lunático esperto, o outro possui aquele tom de ajudante que segue ordens e se deixa humilhar. Rachel McAdams só está ali para fazer caras e bocas.

Ainda assim, vale destacar os aspectos técnicos da obra, muito bem ambientada numa Londres sombria, através de fotografia que explora bastante os espaços escuros, e direção de arte e figurinos de encher os olhos. Mas é a trilha sonora o maior destaque do filme, o que ainda faz valer a experiência em meio a tanta distorção.

7 comentários:

Alex Gonçalves disse...

Rafael, não me canso de dizer por aí que ODEIO Guy Ritchie! "Snatch – Porcos e Diamantes" para mim é uma das maiores bobagens já feitas. E o que esperar de um sujeito cujo "melhor" filme (grandes aspas aí) é "Destino Insólito"? Apesar do elenco atraente, o nome de Ritchie na direção é o que mais me faz fugir do filme. Mas posso estar engano e acabar me divertindo. Vamos ver.

Diego Rodrigues disse...

Eu gosto mais por ser diveritidinho. Mas não posso negar que a trama é mesmo medíocre, e Guy Ritchie é um diretor bem ruimzinho mesmo - ele, no fundo, sonha em ser Tarantino.

Anônimo disse...

Sherlock é um personagem maravilhoso e poderia ter saído um filme maravilhoso... pena.

http://cinemaemdvd.blogspot.com/

bruno knott disse...

Achei este filme um bom passatempo... não esperava muito e acabei me surpreendendo até.

Sabe, não ligo muito quando um filme muda a imagem de um livro ou de um personagem de um livro. São coisas diferentes, é apenas uma inspiração.

Rafael Carvalho disse...

Alex, pena que eu não vi esse Destino Insólito, mas depois de tudo que vi dele, nem sei se tenho disposição de encarar. Não agora.

Mas Diego, se a trama é medíocre e o diretor é ruimzinho, como o filme pode ser divertido?

Kah, não precisava nem ser maravilhoso, mas um pouco de respeito ao material original não faz mal a ninguém.

Então Bruno, são coisas diferentes, mas à vezes esse diferente muda tanto o material original que não merece ser intitulado como o mesmo. Acho muito bizarro.

João Daniel Oliveira disse...

Cara,antes desse nunca tinha visto um filme do Ritchie inteiro,acredita?Vi trechos de Snatch e Destino Insólito na tv, e achei o que vi bem divertido - sim, o com a Madonna é tão tosco que dá pra passar o tempo. Vontade zero de ver os outros filmes dele, mas gostei desse Sherlock Holmes.

50% porque o Downey é sensacional, e o resto porque o filme é uma aventura vagabunda das boas. Vagabunda não por que é mal feito,mas porque é manjado e cheio de clichês, mas tem ótimas cenas,ele e Law tem química e a trilha sonora é um arraso.

Rafael Carvalho disse...

João, sabe que tu não tá perdendo muita coisa! Assista um só e vai parecer que já viu todos porque são muito parecidos. Existe mesmo um tom de divertimento nos filmes dele, de coisa nonsense, mas ele acaba se repetindo muito.

Sherlock também é divertido, mas por conta das liberdades tomadas, achei um saco e não consegui adentrar no filme. O Downey Jr. só podia estar sensacional mesmo com aquele personagem tresloucado que é a cara dele.