sábado, 24 de novembro de 2007

Dança da solidão

Cão Sem Dono (MG/BR, 2007)
Dir: Beto Brant e Renato Ciasca


Exala de Cão Sem Dono uma leveza na narrativa, uma pureza tão grande na forma com que o diretor conduz o romance de Ciro e Marcela que nem parece o mesmo cara responsável pelo tenso O Invasor. Depois de ter demonstrado sensibilidade no excelente Crime Delicado, Beto Brant, agora ao lado de Roberto Ciasca, emociona com um retrato da solidão de personagens em busca de um rumo para suas vidas. Juntos, eles se ajudam.

Ciro (Júlia Andrade), recém-formado em Literatura, procura por um emprego a fim de sair da dependência dos pais. Marcela (a linda Tainá Müller) é uma modelo com grandes ambições, mas ainda em início de carreira. O encontro dos dois parece efêmero, mas a necessidade de estar ao lado de alguém com os mesmo anseios une os personagens. Há ainda um cão perdido encontrado na rua que segue Ciro e passa a ser, como ele mesmo diz, um amigo.

Tudo é filmado com muita leveza e simplicidade. Luz natural, câmera na mão, planos comuns e momentos de puro silêncio embalam as idas e vindas do casal, que convergem sempre para a cama. As cenas mais íntimas surgem com uma naturalidade incrível, da mesma forma quando Ciro aparece conversando bêbado com outra pessoa. Sem falar que o texto nunca soa artificial.

Mesmo assim, a vida não pára e exige que seus personagens sigam seus caminhos. E quando menos se espera, a oportunidade bate à porta, como demonstra a excelente cena final. Aceitá-la pode ser uma decisão difícil, mas necessária. Principalmente quando o convite parte de alguém que conseguiu dar a volta por cima. Depois de O Cheiro do Ralo e Tropa de Elite, Cão Sem Dono é, com certeza, um dos melhores filmes brasileiros do ano; e da Mostra também.

4 comentários:

Wiliam Domingos disse...

Ainda não consegui ler todos os textos dos filmes da Mostra...
Mas estou fascinado por este festival!

Gostei de saber que Estamira foi exibido...um puta documentário!

Muito bom!

Cão sem dono não tem nada de novo, pelo menos em história...(opinião de quem ainda não viu o filme)Mas como vc disse...tem leveza, roteiro e direção diferentes! O que já merece todas as estrelas...
abraço!

Gustavo H.R. disse...

A filmografia brasileira está dando crias cada vez mais inteligentes, interessantes e criativmente sólidas. Apesar de eu nunca ter visto um de seus filmes, sei que Brant é um dos maiores expoentes de hoje.
Na minha cidade houve uma semana de celebração do cine nacional, com filmes como ESTAMIRA, REDENTOR e NINA, dentre outros.
O povo tem que ver, e está vendo, que não há necessidade de ficar com dois pés atrás.

Anônimo disse...

Não vi, mas parece ser muito bom!

Rafael Carvalho disse...

Pois é, o cinema nacional precisa ser mais conhecido por nós brasileiros. Estamos muito acostumados a valorizar os filmes de fora, mas não percebemos o quanto temos uma produção bacana. E isso com muito esforço, porque é bem difícil fazer filme aqui. Estou muito feliz por perceber o quanto nosso cinema tem crescido tanto e com uma qualidade incrível.

Wiliam e Ronald, recomendo que vejam Cão Sem Dono, é uma experiência agradabilíssima.

E Gustavo, o obra do Brant é bastante interessante justamente porque ele se reiventa a cada filme, o que pra mim é uma evolução.

Valeu galera!!!