terça-feira, 6 de setembro de 2011

Science fiction reprocessada

O Homem do Futuro (Idem, Brasil, 2011)
Dir: Cláudio Torres


Por essas ironias do acaso, eu acabei vendo esse filme, em cabine, na mesma época do Panorama Internacional Coisa de Cinema, que trouxe uma série de filmes nacionais bastante interessantes e de caráter muito mais autoral e libertário (citando alguns, Transeunte, O Céu Sobre os Ombros, A Alegria). Apesar de serem propostas diferentes de cinema, decepciona ver os produtos que realmente chegam às salas de cinema como esse O Homem do Futuro, os filmes mais pasteurizados e comuns, no sentido de sem inventividade mesmo, em detrimento de outros que têm mais coração.

Cláudio Torres começou a carreira de forma bastante promissora com o surpreendente Redentor. Mas o filme foi péssimo de público e ele quis fazer algo mais popular; resultou no terrível A Mulher Invisível. E agora, seguindo o mesmo caminho das bilheterias fáceis com filmes descartáveis, ele lança essa comédia romântica sem pouca inspiração narrativa.

De uma certa forma, os três filmes possuem em comum o interesse pela ficção científica e pelo tom fantasioso, cercado por comicidade. Mas nesse seu último trabalho, roteiro e execução se mostram os mais comuns, banais e previsíveis no desenrolar da narrativa, como repetecos de um tipo de cinema hollywoodiano que reprocessa suas fórmulas a cada novo filme lançados aos montes num mesmo ano.

Waner Moura, grande personalidade do cinema brasileiro depois de seu sucesso com Tropa de Elite, encarna aqui um cientista que, ao tentar criar uma nova forma de produzir energia, acaba encontrando uma maneira de voltar no tempo. É aí que ele resolve mudar seu passado, fazendo com que sua amada Helena (Alinne Moraes) fique com ele para o resto de sua vida e ele se torne um homem realizado.

Há de se pensar na utilização de cinema de gênero pelo filme, mas a história acaba caindo mais na comédia do que na exploração da ficção científica. Nada contra, caso o filme tivesse mais momentos realmente engraçados. Busca-se isso através da caricatura dos próprios personagens, a começar por Wagner Moura encarnando o cientista maluco nerd, sem jeito com as mulheres e abobalhado por natureza.

Aline Moraes, por sua vez, é a garota bonitaça, mas que parece perdida num roteiro que a faz ser convencida pelo personagem de Moura toda vez que ele aparece com uma nova história. Isso porque o protagonista retorna ao tempo mais de uma vez, já que uma das boas idéias do filme é mostrar como a mudança de nosso destino (considerando que ele já está pré-estabelecido) é mais complicada do que parece, apontando para a necessidade de aceitar os fatos como são, embora o protagonista insista em fazer essas modificações.

Seria corajoso se o longa assumisse de vez essa proposta, mas como não parece ser possível nesse tipo de projeto, o filme prefere se refugiar no conforto de um final feliz e que faz questão de explicar todas as “pontas soltas” (em aspas porque previsíveis) que foram deixadas no meio do caminho. Mais de um mesmo que o cinema brasileiro está aprendendo a imitar, O Homem do Futuro éoutra grande decepção de seu diretor.

8 comentários:

Dilberto L. Rosa disse...

Desde "Mulher Invisível", ando com um pé atrás com o Cláudio Torres... Assim como estou com você: aguardo resposta sobre as estrelinhas que perguntei na última postagem! E um comentário, também, ré, ré! Abração e bom feriado!

ANTONIO NAHUD disse...

Desconfiava que esse filme não é grande coisa. Gosto de REDENTOR e não suportei A MULHER INVISÍVEL.
Cumprimentos cinéfilos!

O Falcão Maltês

Gustavo disse...

Sci-fi+comédia não é uma mistura que me apetece, quanto mais vinda do Brasil, que tem pouca experiência no primeiro gênero.

Kamila disse...

Ainda não assisti este filme, acho que vejo amanhã, mas fico meio decepcionada de ver que o resultado do filme não era o que eu esperava. O trailer parecia ser tão legal....

ANTONIO NAHUD disse...

Amigo, venha participar do novo QUIZ!
Abraços,

O Falcão Maltês

Rafael Carvalho disse...

Dilberto, é incrível como ele conseguiu piorar os trabalhos dele. Uma grande pena porque representava uma alternativa de se fazer cinema popular e de boa qualidade no Brasil.

Antonio, o engraçado é que tem muita gente boa que está adorando o filme. Uma loucura isso. Mas quem sabe você não goste? Mas é um risco, viu!

Gustavo, mas esse é justamente um dos pontos interessantes do projeto, a investida num universo pouco comum no nosso cinema. O resultado não é dos piores nesse sentido, mas na parte de comédia é um terror.

Calma Kamila, talvez você ainda goste do filme. Tem dividido muitas opiniões.

Alex Gonçalves disse...

Pois nem em início de carreira Cláudio Torres mostrou a que veio, pois "Redentor" é, particularmente, uma lástima. Fui conferir este "O Homem do Futuro" de peito aberto e até estava entretido. No entanto, quando uma segunda viagem de volta ao passado acontece, o filme repete o mesmo problema de "A Mulher Invisível", pois a história nada mais faz do que começar novamente da estaca zero ao invés de apresentar elementos realmente novos. O desfecho então é uma tragédia, querendo se passar por esperto. Não gostei mesmo.

Rafael Carvalho disse...

Não acho Redentor uma lástima, pelo contrário. Existe um vigor no filme em oferecer um produto muito diferente do que se vê no cinema brasileiro, misturando vários gêneros e propostas, sempre surpreendendo pelos caminhos que a narrativa vai seguindo. Mas esse filme novo dele é preguiçosíssimo, e, pior de tudo, não tem praticamente graça nenhuma.