quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Filho bastardo

O Primo Basílio (Idem, BRA, 2007)
Dir: Daniel Filho





Confesso: esperava menos desse filme do Daniel Filho, até porque não sou muito fã de seu cinema comercial com cara de novela das oito. Com Se Eu Fosse Você dei até umas risadas, mas no geral o filme não passa de diversão gratuita acostumada com o formato TV. Já O Primo Basílio, que podia cair fácil no melodrama barato, foi bem tratado em sua adaptação da obra homônima do português Eça de Queiroz. O filme se mantém fiel ao enredo do livro embora a Portugal burguesa do final do século XIX dê lugar à São Paulo da década de 50, sem grandes perdas.

É um momento bastante propício para se atacar a elite brasileira na sua hipocrisia e falsidade no âmbito social (temática essa tão cara aos escritores Realistas). No filme, Luiza passa a trair o marido com seu próprio primo, mas é descoberta pela empregada que passa a chantageá-la. Com isso, não tem outra escolha senão aceitar as imposições da rancorosa mulher, criando assim um interessante jogo de inversão de papéis. Imaginem a patroa tendo que lavar as próprias roupas enquanto a empregada fica sentada ao sofá assistindo TV.

O filme perde quando o diretor se mostra por demais explícito ao desenvolver a história e bastante apressado em seu desenrolar (o que não deixa de acentuar um certo dramalhão), deixando para trás as sutilezas da obra escrita. Tudo é muito rápido e não nos dá tempo de se afeiçoar com os personagens ou com sua condição. Daí surge a impressão de que os personagens se acostumam fácil demais com sua situação ou são burros o suficiente para não a perceberem. Existem momentos de tensão, mas que parecem boicotados pela simples razão de levar a história adiante.

E se Débora Falabella me desapontou por se exagerar na composição de sua personagem, é Glória Pires o grande atrativo do longa. Sua vilã é perversa, claro, mas nunca cai no exagero ou na performance batida das vilãs novelescas; nada de maniqueísmos. O cinismo de Basílio ganha dimensão exata na figura de Fábio Assunção e acredito que ninguém espera que o Gianecchini atue bem de verdade alguma vez na vida.

Com uma trilha sonora óbvia demais e fotografia sem grandes atrativos, O Primo Basílio é mais um filme nacional que carece de vitalidade e motivo maior de existir a não ser o de atrair o grande público. Mais um filho bastardo de um cinema que tem tanto de bom para oferecer.

9 comentários:

Kamila disse...

Concordo, Rafael. Gloria Pires é o melhor elemento do filme. A atuação dela é muito boa mesmo. A Debora, uma atriz que eu adoro, está exagerada demais. E o Fabio Assunção, completamente inexpressivo. Não vou nem falar do Giannechini.

Eu não gostei muito de "Primo Basílio". Um dos piores filmes do ano, na minha opinião.

Anônimo disse...

Quando esse filme terminou eu não aguentei, dei uma gargalhada e um amigo olhou pra mim e fez o mesmo. A gente passou o filme inteiro discutindo a mediocridade na direção desse filme. Nos anteriores já era evidente, mas nesse filme ficou tão clara, que o drama, pra mim, virou comédia pastelão. Nem o elenco dá para levar a sério. Gosto demais da Glória Pires, mas acho que em Primo Basílio não há sequer um personagem que não seja caricato. Até mesmo Simone Spoladore (por quem tenho verdadeira paixão, é uma das atrizes mais completas do nosso país), nas mãos do Daniel, fica de dar dó.

Desculpa o desabafo, mas acho que passei a odiar ainda mais esse filme depois que um palhaço disse pra quem quisesse ouvir que: "não acreditava em produções de baixo custo" e investiu 5 milhoes (3 só pra publicidade) em Primo Basílio, quando por pouco a gente não tem acesso ao melhor filme nacional do ano, O Cheiro do Ralo.
o/

Anônimo disse...

Daniel Filho é um homem de televisão, não de cinema. Tudo bem: ele cansou da Rede Globo (quem é que não cansa, tendo um mínimo de cultura?), mas daí a achar que poderia ser cineasta vai um grande abismo (quem viu Muito gelo e dois dedos d'água sabe do que estou falando). Cinema não é isso: isso é tv na tela grande. Primo Basílio é só mais uma repetição do que eu estou falando.

(http://claque-te.blogspot.com): Notas sobre um Escândalo, de Richard Eyre.

Anônimo disse...

Não tive nem vontade de ver esse filme. Apesar do sucesso nas bilheterias, fica claro que sua qualidade é discutível. E fiquei surpreendido com todos aprovando a atuação da Glória Pires.

Até mais!

Alex Gonçalves disse...

Estou iniciando a leitura do conto de Eça de Queiroz. Não posso dizer muito, pois estou nas primeiras páginas. E tenho uma mórbida curiosidade em ver o filme, mas ficará mesmo para o DVD. Se o filme proporcionar a mesma tensão que o próprio trailer foi capaz de despertar em mim, devo aprovar o resultado.

Wiliam Domingos disse...

Esse estilo do cinema nacional, essa coisa bem Global....num curto não!
Nem arrisco...
Mas....gostei do teu texto, ficou equilibrado!
Abraço!
(tem mr. mestre no eco social)

Victor disse...

Eis um filme que passa longe da minha vontade de assitir.
Não gosto mesmo do tipo..altamente comercial, com cara de tv.
E ainda deste 2 estrelas e meia! O que eu acredito ser uma façanha estrondosa!..heheh


Abs!

Anônimo disse...

Em partes concordo com o cométario Rafa. Modificaria um detalhe: Débora Falabella. Ela está fántastica. Fiquei aguiniado por varias vezes na situação dela.
E outra coisa: o filme é ADORÁVEL! Fui contemplado em minhas expectativas.
Ah! até que enfim tô comentando em amigo... rsrsrsrrss... PARABÉNS pelo blog viu. Tá muito legal. Tentarei ser fiel e assíduo aqui.

Anônimo disse...

Rafa, parabéns pela crítica. Muito bem construída.