domingo, 25 de março de 2012

Descontínuo

Raul Seixas – O Início, o Fim e o Meio (Idem, Brasil, 2012)
Dir: Walter Carvalho



Em determinado momento de Raul Seixas – O Início, o Fim e o Meio, me incomodou demais uma cena em que, durante uma entrevista com Paulo Coelho, o entrevistado fecha a porta de sua casa, depois de já ter falado no filme (transparecendo a ideia de que a conversa tinha acabado). Mas minutos depois surge o escritor novamente dando continuidade a seu depoimento. O que poderia parecer um erro de montagem (e o filme realmente tem alguns), na verdade, logo me deu uma sensação de descontinuidade, justamente o que o título parece querer traduzir (o fim antes do meio) como se a vida de Raul Seixas, tão atribulada, não pudesse ser contada de forma comum, linear.

Nesse sentido, é pertinente pensar então num documentário que seguisse uma narrativa mais livre, fora de padrões, que se permitisse mais em ousar, anarquizar e chacoalhar como o próprio biografado fez em toda sua vida e carreira, fonte de sua própria inspiração criativa e artística. Mas o filme de Walter Carvalho tem poucos desses momentos de inventividade maior, preferindo muitas vezes o caminho convencional do documentário mais clássico. Não que isso seja um demérito, mas por vezes o filme ensaia algo que pudesse partir para novas possibilidades narrativas, mas nunca concretizadas.

Daí que o longa se vale bastante do rico acervo de imagens e, principalmente, dos depoimentos de muitas pessoas que viveram muito próximas de Raul em diversos momentos de sua vida. Acertadamente, o filme busca conferir-lhe o status merecido de mito da música brasileira, um dos ícones do rock nacional, que imprimiu uma marca bastante pessoal e revolucionária na sua música, servindo como ponto de referência. Embora o tom de reverência seja evidente, algo que no fundo não merece condenação, o personagem é também desnudado em suas fragilidades e desacertos, mas sem julgamentos.

E um dos maiores acertos do longa é de não focar somente na herança musical de Raul (sua mistura do rock de Elvis Presley e o baião de Luis Gonzaga era algo de genioso), mas também tentar entender um pouco de sua personalidade marcante, o que de certa forma contribuiu para a fama e popularização de seu trabalho. A alcunha de “maluco beleza” seria, portanto, o fruto de um quase estilo de vida, tendo a própria música de Raul e suas letras poético-filosóficas como manifesto desse modo de viver.

Ainda que Walter Carvalho, um dos maiores diretores de fotografia em atividade no Brasil, já tenha dirigido, no campo do documentário, o interessante Moacir – Arte Bruta e codirigido com João Jardim o belo Janela da Alma, ele ainda peca no autocontrole. Parece sobrar no filme alguns momentos que soam bastante deslocados. É o caso dos depoimentos de Daniel de Oliveira (extremamente dispensável), a fala e composição exagerada de Pedro Bial, o aparecimento mudo de Zé Ramalho, a mulher que teatraliza a entrada numa piscina (?!?) e mesmo o cover de Raul que abre o filme, mas não tem muito a dizer quando aparece depois. É como se houvesse um certo apego do diretor por determinados entrevistados e cenas, mas que não acrescentam muita coisa ao filme (que se alonga um tanto demais, por sinal). Merecia, portanto, uma montagem mais zelosa.

Caindo aqui e ali em ritmo em alguns momentos, Raul Seixas – O Início, o Fim e o Meio consegue ser um belo retrato biográfico desse ícone da cultura nacional, tendo como grande aliado o talento de Raul e o interesse por sua história. Poderia se arriscar mais como parece ser o intento inicial, mas sempre cai no classicismo, realizando ainda assim um bom trabalho. Porque para Raul, a porta nunca estará fechada.

quarta-feira, 21 de março de 2012

Caminhos cruzados

A Separação (Jodaeiye Nadar az Simin, Irã, 2011)
Dir: Asghar Farhadi



Quando o cinema iraniano despontou com visibilidade na década de 90, chamando atenção para o fôlego que sua produções conseguiam imprimir nos filmes, acentuando nomes como os de Abbas Kiarostami, Jafar Panahi, Bahman Ghobadi, dentre outros, a filmografia do país ficou marcada por uma certa ligação com o neorrealismo italiano e com o teor de denúncia social em um país que vive num regime sociopolítico castrante e opressor. O problema é que os filmes começaram a se repetir esteticamente, o que geralmente engessa a produção, apesar de ótimos trabalhos ainda serem feitos nesses termos.

Mas Asghar Farhadi parece fugir um tanto desses caminhos (assim como Abbas Kiarostami tem buscado sempre novas perspectivas para seus filmes). Foi assim com seu trabalho anterior, o ótimo e tenso Procurando Elly, e tem continuidade com esse seu mais novo filme, A Separação. Ambos se caracterizam pela abordagem naturalista, a discussão moral que envolve uma sociedade ainda teocrática, patriarcal e arbitrária, e um olhar para a vida urbana do Irã contemporâneo.

O filme problematiza o que parece ser a principal questão da história já na sua primeira cena, um plano único com os dois protagonistas, o casal em processo de desunião, diante do juiz. Na verdade, é a esposa Simin (Leila Hatami) quem luta por se divorciar do marido, mas tentando garantir alguns direitos, como a guarda da filha, o que a justiça iraniana lhe nega veementemente. Mas isso que poderia ser visto como o tema principal do longa, ganha outros contornos morais, políticos, jurídicos e religiosos, que engrandecem a película, num crescendo de complicações que sufocam os personagens em seus próprios problemas (como também acontecia de forma exemplar em Procurando Elly).

Pois A Separação é mais do que um filme sobre um casal em processo de divórcio. É sobre o que fazer quando o fim do casamento prenuncia uma série de desentendimentos e erros cometidos. Em torno de todo o drama familiar (estando a filha do casal no meio da turbulência), Nader (Peyman Moadi), o marido, ainda vai se envolver com a acusação de ter provocado o aborto da empregada contratada depois que sua mulher resolve sair de casa. Os embates dele com o marido desempregado da servente (Shahab Hosseini) são os mais intensos no filme, porque é possível se identificar com os dramas de cada um.


É aí que o roteiro, escrito pelo próprio Farhadi, é exemplar em desnudar as fragilidades daquelas pessoas, sem maniqueísmos ou facilidades, acrescentando a cada sequência contornos mais complexos da vida de cada um, para o bem ou para o mal, o que os humaniza bastante. Todos são sujeitos das circunstâncias, ninguém está livre das consequências que uma ação provoca, e todos sofrem bastante com isso. É assim que o filme põe o espectador em xeque, em posição de desconforto, pois é muito difícil escolher lados (apesar da predisposição em se identificar com os protagonistas, o que o filme também consegue quebrar). Ou melhor, talvez não seja necessário separar porque estão todos no mesmo barco que afunda aos poucos, agentes e pacientes de suas próprias atitudes.

Ao filmar com câmera na mão, valorizando os planos mais fechados, Fahadi se aproxima dos conflitos dos personagens como um observador atento, em sintonia com um elenco formidável na naturalidade com que compõe cada personagem em suas fraquezas. O texto do filme ainda coloca em evidência questões da moral iraniana e religiosa (a cena em que a empregada telefona para uma central estatal para saber se ela pode trocar a roupa do homem doente de quem cuida é bem marcante nesse sentido).

Como representante de novos caminhos para o cinema iraniano (lembrar que venceu, dentre outras coisas, o Urso de Ouro no Festival de Berlim e ainda o Oscar de Filme Estrangeiro), A Separação é um conto moral que tem sua força na maneira como seus conflitos se sucedem numa onda de desacertos, expondo a fragilidade das pessoas ali envolvidas. Num mesmo encadeamento de ações dramáticas envolvendo aquele grupo de personagens, peças de uma mesma rede social, o filme consegue ser bruto e também tocante. Tudo sem concessões, assim como a própria sociedade que os abriga.

segunda-feira, 19 de março de 2012

Reafirmação da estupidez

Projeto X – Uma Festa Fora de Controle (Project X, EUA, 2012)
Dir: Nima Nourizadeh



Imagens de adolescentes norte-americanos se embriagando, se envergonhando e só pensando em sexo em festas são bastante difundidas pelo cinema, quase como uma marca cultural daquele povo. E parece não haver ocasião melhor para se evidenciar a estupidez de um grupo social marcado pela turbulência dos hormônios e a intransigência comportamental, principalmente quando se trata de uma classe média-alta em evidência, esbanjando impertinência e sentimento de dominação de mundo.

Pois Projeto X – Uma Festa Fora de Controle é o coroamento desse tipo de reunião conjunta, elevada à potência da imbecilidade à medida que uma tal festa organizada por três amigos pouco populares no colégio (vividos por Thomas Mann, Oliver Cooper e Jonathan Daniel Brown), em busca justamente por reverter essa situação, ganha proporções inesperadas e que evolui para um show de horrores dos mais nonsense que o cinema já viu (exemplos disso, o anão no forno, o traficante incinerador).

Não que um grupo similar de adolescentes brasileiros ou de qualquer outra parte do mundo também não possuam os mesmos traços característicos, as mesma vontades de reafirmação do eu enquanto adultos que ainda não são (e os melhores momentos do filme são quando isso fica mais evidente, vide as cenas com os seguranças mirins). Mas parece uma imagem tipicamente norte-americana (um filme típico do país) por toda a carga de imagens que o cinema já nos legou nesse sentido. Acaba, portanto, soando como um reflexo de uma sociedade cada vez mais idiotizada (Michael Moore que o diga).

Mas um dos grandes pecados do filme é corroborar com uma visão conformista de toda a calamidade perpetrada pelo trio de protagonistas e as consequências, inclusive futuras, como se fossem um mero detalhe, em prol de algo maior a ser conquistado (a atitude final do pai, então, é bastante sintomática nesse sentido, em contraste com o comentário que ele é pego fazendo no início). De qualquer forma, o filme tem momentos engraçados, e a própria descida ao caos vai se configurando como uma ladeira de bizarrices que nos vai sendo apresentada durante a festa em vertiginosa queda, quase sempre improváveis.

Em defesa do longa, está também o fato de trabalhar no registro da total subjetividade (é mais um filme em que os personagens detém o poder da câmera), o que reforça a ideia de ponto de vista (imaturo) dos garotos. E isso faz um contraponto muito interessante com o recente Poder Sem Limites, que traz a mesma necessidade juvenil de reafirmação perante os adultos, só que num registro mais dramático e fantasioso (o que não deixa de ser uma mistura curiosa, pena que num filme raso).

Entre a estupidez e a necessidade de imposição, Projeto X chega a ser exemplar na sua construção de um certo grupo social, numa certa sociedade, que reflete muito bem o modo de vida construído e valorizado atualmente por eles. É o tipo de imagem (no sentido moral mesmo) construída por uma indústria que reflete tão bem o seu lugar de origem.

quarta-feira, 14 de março de 2012

Amor de menos

W.E. – O Romance do Século (W.E., Reino Unido, 2011)
Dir: Madonna


Um dos desafios de escrever sobre um filme dirigido por Madonna é desvinculá-la da imagem de ídolo pop que a cantora carrega consigo, tentando enxergar seu filme como um produto independente. É como falar de uma pessoa desconhecida que entra no ramo do cinema através de uma nova função, muito embora essa já seja a segunda investida dela por trás das câmeras. E não é das melhores visto a falta de tato em levar adiante um projeto interessante, mas que não possui alma, não tem conceito.

Em W.E., ela aposta no melodrama para contrapor a história de duas mulheres que buscam no amor o preenchimento de suas vidas. À história verídica da Wallis Simpson (Andrea Riseborough), mulher divorciada que se envolve com o rei Edward VIII (James D’Arcy) a ponto de fazê-lo abdicar do trono inglês, em meados do século passado, segue a trajetória de Wally (Abbie Cornish), na Nova York atual, uma mulher casada com um homem alcoólatra e infiel, passando a se envolver com um segurança de origem russa (Oscar Isaac).

De início, parece haver uma proximidade óbvia demais entre as duas protagonistas: a começar pelas inicias suas e dos homens por quem elas irão se apaixonar, mas principalmente, pela fixação que Wally nutre pela história de Wallis, por seu ponto de vista sobre o caso polêmico e pelos desdobramentos da crise que se sucedeu na monarquia britânica com o romance. No entanto, o filme tenta não correlacionar as duas tramas paralelas (o que seria um desastre maior), embora seja sabotado pela sua própria falta de tato em equilibrar os dois segmentos.

É como se a necessidade de intercalar (e relacionar) as histórias deixasse em segundo plano o aprofundamento de cada uma delas em separado, na medida em que o filme quer justamente manter o interesse em ambas. Sem falar que o conflito vivido por Wallis soa muito mais interessante e curioso pelo seu peso romântico e histórico, enquanto que o drama contemporâneo de Wally soa mais raso e redundante (e o fato dele ser fictício depõe muito contra o roteiro do filme, crédito dividido entre a própria Madonna e Alek Keshishian).

Mas o maior problema de W.E. é que Madonna parece um tanto deslocada no lugar de diretora, essa figura que precisa saber como filmar a história que quer contar, precisa decidir como transformar isso em imagens em movimento. E o que se vê é um despreparo em resolver a narrativa. Algumas sequências começam com câmera na mão, abusando dos closes e cortes rápidos, e de repente assumem um tom mais sóbrio, com planos fixos, sem motivos aparentes. A montagem por vezes surge rápida demais, sem coesão, com cortes apressados. Não parece haver, portanto, uma mão firme para dar conceito a esses elementos.

É a mesma falta de tato, por exemplo, com que o som do filme é editado e mixado. Em alguns momentos, a trilha sonora, belissimamente composta por Abel Korzeniowski, soa mais alto que os diálogos, como se quisesse se sobressair, mostrar sua força, mas acaba atrapalhando a narrativa, abusando no tom. Parece haver vontade demais em contar essa história, mas talento de menos em traduzi-la em cinema.

sábado, 10 de março de 2012

No seu lugar

John Carter – Entre Dois Mundos (John Carter, EUA, 2012)
Dir: Andrew Stanton



John Carter – Entre Dois Mundos é a grande aposta do momento para ocupar o lugar de blockbuster que pode gerar uma nova franquia valiosa no cinema comercial. Ao investir uma soma milionária na produção, a Disney espera conquistar o público com a fantasiosa história do combatente desertor da Guerra Civil norte-americana que, misteriosamente, é transportado para o planeta Marte, onde se vê envolvido numa série de conflitos entre os povos que habitam o lugar.

É, portanto, um prato cheio de delícias aventurescas e de grande apelo visual numa história curiosa e repleta de intrigas. Em Barssom (como o planeta é chamado), os povos que ali vivem (os Tharks, alienígenas esverdeados de quatro braços, os de aparência humana de Helium e os de Zodanga) estão em guerra pelo controle do planeta. Quando John Carter (vivido pelo ator Taylor Kitsch, com ótima pinta de herói) chega ao lugar repentinamente, com a habilidade de saltar por elevadas altitudes na atmosfera do lugar, é visto como aquele que pode acabar com os conflitos no planeta.

E apesar de todo o tom fantasioso, é interessante pensar nas aproximações políticos que a história traça entre as brigas “barsomnicas” e o próprio conflito nos Estados Unidos entre o Sul escravocrata e o Norte industrial do qual o personagem John Carter esteve ligado. As ideias são do escritor Edgar Rice Burroughs que escreveu a série de histórias sobre o herói nos distantes idos do início do século passado (no entanto, o autor ficou bem mais conhecido por ter criado o personagem Tarzan), sendo esse primeiro filme adaptado do livro A Princesa de Marte, escrito por Burroughs em 1912, há exatos cem anos.

Uma pena que a história começa a capengar quando os personagens precisam fazer uma série de deduções e achismos para se chegar a determinadas respostas e, assim, prosseguir com o enredo cada vez mais cheio de desdobramentos. Mas roteiro não é o forte de John Carter, que preza muito mais pelo visual deslumbrante de seu universo mítico. E consegue compor um trabalho técnico de primeira grandeza. Para além do deslumbre do cenário e das naves espaciais criadas por computação gráfica, salta aos olhos a qualidade da interação entre seres digitais e os “reais”, mérito devido ao diretor Andrew Stanton.

Vindo da área da animação, Stanton (dirigiu e co-roteirizou a pequena obra-prima Wall-e, além de estar envolvido em diversos outros projetos de sucesso da talentosa Pixar) administra muito bem as criaturas feitas em computador (a maioria em processo de captura de movimento, com atores no estúdio), principalmente porque muitos deles contracenam como os personagens humanos, como os tharks, que têm importância crucial na história. Além disso, o diretor se sai bem num filme que precisa de ação constante para manter seu interesse.

O que pode incomodar um tanto é de como a história se alonga num arco narrativo que envolve a morte de Carter na Terra e a vinda de seu sobrinho (o próprio Burroughs transformado em personagem) para assumir os bens milionários do tio, o que acontece logo no início do filme, muito embora esse arco se feche no final (com um pouco de forçação de barra, diga-se), mesmo que abrindo espaço para novos seguimentos, é claro. Porque isso é tudo o que os envolvidos no projeto desejam: a longevidade da aventura de John Carter da Terra, agora pertencente a um outro mundo, encontrando seu lugar. Com um refinamento maior de enredo e contando com o já espetacular trabalho técnico e visual, John Carter promete bons momentos futuros.

terça-feira, 6 de março de 2012

Porcos sem diamantes

Billi Pig (Idem, Brasil, 2012)
Dir: José Eduardo Belmonte



O problema maior de Billi Pig não é ele ser um péssimo filme, mas de ser um péssimo filme dirigido por José Eduardo Belmonte. O diretor, nessa sua primeira investida na comédia, demonstra tão pouco talento pra o gênero, seja na falta de timing cômico, como no reprocessamento de ideias desgastadas e estereotipadas, construídas por um roteiro dos mais desinteressantes (assinado por Belmonte em pareceria com Ronaldo D’Oxum). Quando se pensa que Belmonte é a pessoa responsável por filmes de alto teor dramático, como o curioso A Concepção e o ótimo Se Nada Mais Der Certo, fica evidente o quanto ele está deslocado nesse seu mais novo projeto.

Não há nada mais desastroso numa comédia do que a ausência de graça, do humor que faz um filme valer a pena mesmo quando os personagens ou a história não são lá grandes coisas. Em Billi Pig, além dessa carência de comicidade, a história é rasa e se perde em si mesma, cada desenrolar da trama é mais sem noção do que o próximo.

Os planos de Wanderley (Selton Mello) para sair da pindaíba geral e dar uma vida melhor (leia-se glamourosa) para sua mulher Marivalda (Grazi Massafera), uma aspirante a atriz, passam pelo golpe aplicado num rico traficante local através de um possível milagre a ser perpetrado pelo padre picareta Roberval (Milton Gonçalves): ele terá que ressucitar a filha querida do mafioso.

Uma falta muito sentida no filme é a simpatia por esses personagens, o que dificulta demais o entrosamento do público com a trama já estapafúrdia. À ausência de carisma pelo grupo de picaretas, acrescenta-se um humor mais escrachado, com personagens se portando como idiotas, exagerando nos trejeitos, caindo no caricatural. Tudo parece contribuir para o efeito contrário, para o desânimo diante de tanta falta de mão firme para a comédia.

Se Grazi Massafera, como atriz principiante, se esforça bastante para fazer rir com a breguice de Marivalda, o que poucas vezes consegue, é muito pior ver grandes atores como Selton Mello e Milton Gonçalves, donos de personagens tão desinteressantes quanto estereotipados, terem que proferir diálogos dos mais banais e sem tino cômico, forçando um tom mais engraçado que quase nunca vem. Além disso, a investida em personagens secundários, como as secretárias bizarras, a dona da funerária (vivida por uma péssima Preta Gil) e o próprio porco de plástico de Marivalda (razão de ser do título do filme), revelando a faceta fantástica do filme, pois ele ganha vida e começa a falar com a protagonista, tuso isso não passa de perca de tempo já que não conseguem acrescentar muita coisa num filme já cheio de desperdício de talentos.

É cada vez mais difícil encontrar no cinema brasileiro pessoas que pensem e façam comédia de qualidade (alta exceção feita a Domingos de Oliveira e seu texto afiado e safado). A maioria deles provém da TV (em particular da Rede Globo e seu modelo estúpido de sitcoms), recauchutando nas telonas o que faz sucesso na grande televisiva (e este ano já tivemos outra prova dos maus ventos da comédia no cinema nacional com o temível As Aventuras de Agamenon, O Repórter).

Há de se pensar também em todos os problemas de distribuição que Belmonte enfrentou para levar seus filmes anteriores para as salas de cinema. Não eram obras fáceis para o grande público, histórias duras para poucos de estômago forte. Agora, na comédia, Belmonte parece querer um caminho mais fácil a fim de atingir a plateia (e lucrar com isso), o que de forma nenhuma é um demérito. O problema é quando falta talento envolvido para a empreitada.

quinta-feira, 1 de março de 2012

Filmes de fevereiro


1. Agente 117 (Michel Hazanavicius, França, 2006) ***½

2. Star Wars: Episódio IV – Uma Nova Esperança (George Lucas, EUA, 1977) ****

3. Os Descendentes (Alexander Payne, EUA, 2011) ****

4. A Música Segundo Tom Jobim (Nelson Pereira dos Santos e Dora Jobim, Brasil, 2011) ***½

5. Star Wars Episódio V – O Império Contra-Ataca (Irvin Kershner, EUA, 1980) ****

6. Star Wars: Episódio VI – O Retorno do Jedi (Richard Marquand, EUA, 1983) ***

7. Star Wars Episódio I – A Ameaça Fantasma 3D (George Lucas, EUA, 1999) **½

8. J. Edgar (Clint Eastwood, EUA, 2011) ***½

9. Faça-me Feliz (Emmanuel Mouret, França, 2009) ***½

10. A Invenção de Hugo Cabret (Martin Scorsese, EUA, 2011) ****

11. O Despertar (Nick Murphy, Reino Unido, 2011) **½

12. Millennium – Os Homens que Não Amavam as Mulheres (David Fincher, EUA/Suécia/Reino Unido/Alemanha, 2011) ***

13. Histórias Cruzadas (Tate Taylor, EUA/Índia/Emirados Árabes, 2011) **

14. O Artista (Michel Hazanavicius, França/Bélgica, 2011) ****½

15. O Espião que Sabia Demais (Tomas Alfredson, Reino Unido/França/Alemanha, 2011) ****

16. OSS 117 – Rio ne Répond Plus (Michel Hazanavicius, França, 2009) ****

17. Furyo – Em Nome da Honra (Nagisa Oshima, Reino Unido/Japão, 1983) ***

18. Cavalo de Guerra (Steven Spielberg, EUA, 2011) ***½

19. As Confissões de Schmidt (Alexander Payne, EUA, 2002) ***½

20. Encurralado (Steven Spielberg, EUA, 1971) ****

21. Stalker (Andrei Tarkovski, União Soviética, 1979) ****½

22. Uma Vida Melhor (Chris Weitz, EUA, 2011) **½

23. Chico & Rita (Fernando Trueba, Tono Errando e Javier Mariscal, Espanha/Reino Unido, 2010) ***

24. O Pornógrafo (Bertrand Bonello, França/Canadá, 2001) ***½

25. Tão Forte e Tão Perto (Stephen Daldry, EUA, 2011) *½

26. O Homem que Mudou o Jogo (Bennet Miller, EUA, 2011) **½

27. A Separação (Asghar Farhadi, Irã, 2011) ****

28. A Dama de Ferro (Phyllida Lloyd, Reino Unido/França, 2011) *

29. 2Coelhos (Afonso Poyart, Brasil, 2012) ***½

30. Guerreiro (Gavin O’Connor c/ Tom Hardy, Joel Edgerton, Nick Nolte, / 2011) ***½

31. Poder Sem Limites (Josh Trank, EUA/Reino Unido, 2011) **

32. Bullhead (Michael R. Roskam, Bélgica, 2011) **

33. Reis e Ratos (Mauro Lima, Brasil, 2012) **


Revisões:

34. Sideways – Entre Umas e Outras (Alexander Payne, EUA, 2004) ***½