sábado, 28 de fevereiro de 2009

Para nós que amamos tanto o cinema

Nós que Nos Amávamos Tanto (C’Eravamo Tanto Amati, Itália, 1974)
Dir: Ettore Scola



Esse filme para mim foi uma surpresa. Um sebo-café daqui da cidade (o Viela) tem uma programação cultural para o final de semana e nas quintas-feiras sempre exibe filmes. Foi divulgado que o filme da última semana seria Tudo Sobre Minha Mãe, do Almodóvar. Mas quando chego lá, descubro que o filme tinha mudado e seria exibido Nós que Nos Amávamos Tanto, do Ettore Scola. Já tinha ouvido falar dessa obra, mas nunca tinha assistido a nada do diretor. Vi o filme com grande admiração do começo ao fim.

No pós-Guerra conhecemos um trio de grandes amigos: o enfermeiro despojado Antonio (Nino Manferdi), o advogado inicialmente idealista Gianni (Vittorio Gassman) e o cinéfilo-esquerdista Nicola (Stefano Satta Flores). Logo, Antonio se apaixonará por Luciana (Stefania Sandrelli), aspirante a atriz que mudará os rumos da amizade dos três. Tudo isso transcorre entre os anos 45 e 75, permitindo ao filme fazer um apanhado histórico desse período.

O filme sabe ser político, romântico e engraçado, sem tentar forçar nenhum desses aspectos, e ainda faz uma deliciosa homenagem ao próprio cinema italiano. Os personagens centrais representam uma geração de idealistas que têm seus caminhos atravessados por outros propósitos. Os amigos, exaltados após a expulsão dos nazistas, vão se deparar com o desencanto de defender a causa revolucionária. Gianni se vê tentado a defender o lado burguês, enquanto Nicola é capaz de abandonar a família para ainda se manter fiel a seus propósitos.

Com uma leveza beirando o poético, o roteiro é ágil em estabelecer a relação entre os personagens ao mesmo tempo que condensa tanto tempo através da narrativa, aliado a diálogos maravilhosos, seja de pureza romântica ou de comentário político que surge pertinentemente ao longo do filme. Ettore Scola filma tudo com muita graça, se importando com cada um de seus personagens e compondo um painel geral da sociedade italiana do período.

O filme também brinca com a própria linguagem cinematográfica, como quando se paralisa toda ação ao redor para dar ênfase ao pensamento de algum personagem; ou mesmo na utilização da cor, já que a primeira metade do filme é feita em preto-e-branco, só ganhando cores quando a narrativa alcança a década de 60.
Há também um prazer cinéfilo em referenciar o cinema italiano, retratada na obsessão de Nicola por Ladrões de Bicicleta, filme importantíssimo para o neo-realismo italiano, do qual ele é defensor fervoroso; ou então a deliciosa seqüência em que presenciamos o set de filmagens de A Doce Vida quando Fellini filmava a cena de Anita Ekberg se banhando na Fontana de Trevi (inclusive, com as participações em carne e osso do próprio Fellini e de Marcello Mastroianni). Aqui, o cineasta parece reverenciar não só a importância dessa época do cinema italiano, como apresentar suas próprias influências.

No fim das contas, Nós que Nos Amávamos Tanto se junta ao panteão das grandes obras do cinema tais como os filmes a que presta homenagem. Obras que nos fazem esquecer do mundo ao nosso redor para entrar em universos outros, nos encantar e deixar uma sensação de contentamento enorme durante e depois da exibição.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Lavando a louça suja

O Casamento de Rachel (Rachel Getting Married, EUA, 2008)
Dir: Jonathan Demme

Talvez o último grande filme de Jonathan Demme tenha sido Filadélfia, em 1993, depois do sucesso de O Silêncio dos Inocentes. E por pensar nesses filmes, chega a ser inusitado que justo ele faça um filme como esse O Casamento de Rachel, drama familiar de acerto de contas, com gosto agridoce no fim da sessão. É o tipo de filme agradável de se ver, porque as escolhas de direção e roteiro são certeiras, mas cuja situação não gostaríamos de vivenciar. Mesmo.

Kym (Anne Hathaway) sai por um tempo da clínica de reabilitação de uso de drogas direto para os preparativos do casamento da irmã Rachel (Rosemarie DeWitt, linda). Quando volta para casa, faz reviver os dramas e dificuldades que tanto abalaram a família, também marcada por uma tragédia da qual ela é responsável. Junta-se a isso a personalidade difícil e por vezes descontrolada de Kym, ainda não totalmente recuperada.

Com uma corretíssima câmera na mão, acentuando o desconforto do momento, Demme espreita cada detalhe e capta cada mudança de expressão ou um pequeno e significativo gesto, revelando aos poucos informações sobre cada personagem, ao mesmo tempo que o passado volta e meia ressurge para incomodar a todos. O clima festeiro da cerimônia se contrapõe aos amargos fantasmas do passado.

O excelente roteiro é assinado pela estreante Jenny Lumet, filha do veterano diretor de mesmo nome, e tem um texto ágil que podia cair na fácil discussão de respostas rápidas e frases de efeito, mas sabe ser inteligente o suficiente para dinamizar a narrativa, fugindo dos possíveis clichês. É uma surpresa, por exemplo, presenciar uma cena de discussão que muda surpreendentemente de rumo com a revelação de uma notícia por uma das personagens. Ou mesmo a excelente sequência da brincadeira de arrumar a lava-louça, tão ingênua, mas que acaba de forma arrasadora.

Seria muito fácil, também, inserir um subtexto sobre racismo, já que o noivo de Rachel, e toda sua família, são negros; ou então uma visão esperançosa sobre os dependentes de drogas. Mas o filme não quer falar disso, mais importante para a narrativa é o comportamento das pessoas a partir da simples presença de Kym, sua personalidade catalisadora e as angústias que traz consigo.

Anne Hathaway, minha preferida entre as indicadas ao Oscar, está iluminada, compõe sua personagem no tom exato e parece manter em sua expressão a dimensão de sua personalidade marcante. Rosemarie DeWitt é também um grande destaque, acrescido da presença de Bill Irwin como o pai das duas. Debra Winger, a mãe, pouco aparece e um tanto apagada, mas tem uma grande importância na história.

A visita da ovelha negra da família só faz abrir as feridas que ainda estão cicatrizando. Mesmo assim, o filme não põe um ponto final na situação. O drama daquela família é tão orgânico que não podia simplesmente se resolver em duas horas de filme. E pelo visto, as feridas continuarão abertas por muito tempo.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

É, foi aquilo!


Quem quer ganhar um monte de Oscars? Em tempos de crise, faça um filme “pra cima”, com história de superação, favelado que só se lascou na vida, mas não parece ser importar com isso, vê a grande chance de se tornar milionário e ainda reencontrar seu amor de infância, ambiente a história num país de terceiro mundo, seja descolado, pop-kitsch, conte a história em flashbacks e no final faça um número musical com uma canção chiclete para que o público saia do cinema com aquela sensação de “porra, que filme massa!”. Como já era de se esperar Quem Quer Ser um Milionário? foi o grande vencedor do Oscar 2009, com 8 vitórias. Mas os prêmios foram bem previsíveis, com a grande surpresa recaindo na vitória do japonês Okiburito (Departures) como filme estrangeiro. E minha decepção foi maior porque queria muito que Mickey Rourke ganhasse, embora Sean Pen esteja ótimo em seu filme. Enfim, foi aquilo mesmo, né?

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Minhas previsões – Oscar 2009

Com jeitinho, dessa vez consegui assistir aos indicados dos principais prêmios desse Oscar 2009, e minha avaliação é de que esse ano a qualidade não foi tão alta como em anos anteriores. Não costumo comentar os prêmios da temporada, considerados prévias para o Oscar, embora os acompanhe. Mesmo assim, entro na brincadeira de tentar prever os possíveis vencedores do prêmio da Academia desse ano:



Melhor Filme

O Curioso Caso de Benjamin Button
O Leitor
Frost/Nixon
Milk – A Voz da Igualdade
Quem Quer Ser um Milionário?

Há bons filmes aqui, mas espera-se de uma seleção do Oscar um mínimo de excelência. Nenhum está à altura. Todos os quatro primeiros são bastante corretos, corretos até demais. Justamente o mais exagerado, o mais manipulativo, auto-espetacularizado, querendo ser pop, é o mais cotado para vencer. Difícil Slumdog não ganhar, porque vem colhendo vitórias por onde passa. Só consigo pensar que ele é o único da seleção que anuncia um final para cima, com protagonista se dando bem na vida, algo que a Academia e todos os outros prêmios anteriores parecem adorar. Os melhores para mim, Frost/Nixon e Milk, não parecem ter chance alguma. Mas não seria nada mal se Button vencesse. Quem sabe? Tem cara de Oscar.

Meu palpite: Quem Quer Ser um Milionário?
Minha ordem de preferência: Frost/Nixon; Milk – A Voz da Igualdade; O Curioso Caso de Benjamin Button; O Leitor; Quem Quer Ser um Milionário?


Melhor Direção

Danny Boyle (Quem Quer Ser um Milionário?)
David Fincher (O Curioso Caso de Benjamin Button)
Gus Van Sant (Milk - A Voz da Igualdade)
Ron Howard (Fros/Nixon)
Stephen Daldry (O Leitor)

A seleção se mostra mais fraca ainda nessa categoria porque, apesar de bons filmes, não vejo nenhum grande trabalho de destaque no quesito direção. A Academia foi pouco ousada ao repetir todos os indicados a filme e pelo visto Danny Boyle ganha a dianteira pela paixão por seu novo filme. Uma escolha bastante curiosa porque ele, que já comandou ótimos filmes (Cova Rasa, Trainspotting, Extermínio, Alerta Solar), dirige esse aqui como se fosse um novato, um garoto brincando com a câmera, buscando um meio termo pop-kitsch. David Fincher pode ser uma surpresa caso a Academia resolva dividir os votos ou mesmo Stephen Daldry, já que eles o adoram, e sempre foi indicado por suas obras. Howard e Van Sant são azarões, esse último um dos melhore da seleção.

Meu palpite: Danny Boyle
Minha ordem de preferência: Gus Van Sant; David Fincher; Ron Howard; Stephen Daldry; Danny Boyle


Melhor Ator

Brad Pitt (O Curioso Caso de Benjamin Button)
Frank Langella (Fros/Nixon)
Mickey Rourke (O Lutador)
Richard Jenkins (Aprendendo a Viver)
Sean Penn (Milk – A Voz da Igualdade)

Desde que O Lutador estreou no Festival de Veneza e começaram a cotar o nome de Mickey Rourke para o Oscar, eu acreditei nele. E fez uma ótima campanha até que Sean Penn apareceu no ringue. Dois grandes atores e dois grandes trabalhos, garantindo uma bela luta. O veterano que retorna depois de um período difícil na carreira contra o queridinho respeitado, cheio de trejeitos. Mas Penn já tem um Oscar e não faz muito tempo que ganhou. Rourke está dando a volta por cima, eles adoram isso. Frank Langella é um ótimo Nixon, o grande azarão. Richard Jenkins é uma grande surpresa, mas seu filme é pequeno. Como não me empolguei com o trabalho de Brad Pitt, acho que ele só enche a lista.

Meu palpite: Mickey Rourke
Minha ordem de preferência: Mickey Rourke; Richard Jenkins; Sean Penn; Frank Langella; Brad Pitt


Melhor Atriz

Angelina Jolie (A Troca)
Anne Hathaway (O Casamento de Rachel)
Kate Winslet (O Leitor)
Melissa Leo (Rio Congelado)
Meryl Streep (Dúvida)

Meryl Streep é veterana, está excelente em seu filme, a Academia a adora e ganhou prêmios importantes nessa temporada. Mas entre ela que já possui 2 Oscars em casa (além do recorde de indicações – 15), e Kate Winslet, várias vezes indicada e nunca ganhadora, acredito na vitória da inglesinha. Streep pode surpreender. Angelina Jolie por pouco não entra, mas é dona de uma ótima interpretação. Melissa Leo conseguiu uma vaga por um filme indie, não ganhar por nada, e nem é assim tão excelente. Mas seria ótimo se Anne Hathaway vencesse por um trabalho excelente, chegou a ser favorita um dia.

Meu palpite: Kate Winslet
Minha ordem de preferência: Anne Hathaway; Meryl Streep; Angelina Jolie; Kate Winslet; Melissa Leo


Melhor Ator Coadjuvante

Heath Ledger (Batman – O Cavaleiro das Trevas)
Josh Brolin (Milk – A Voz da igualdade)
Michael Shannon (Foi Apenas um Sonho)
Philip Seymour Hoffman (Dúvida)
Robert Downey Jr. (Trovão Tropical)

Bem, pode dar Heath Ledger se a Academia quiser premiar um talento que já se foi, ou então Heath Ledger como compensação porque o filme do morcegão ficou de fora em muita coisa, ou mesmo Heath Ledger se o prêmio for para uma grande atuação. Todos os outros estão muito bem, com exceção de um Josh Brolin somente correto em Milk. Alguém sabe por que ele foi indicado? Será algum tipo de compensação por terem o esnobado em Onde os Fracos Na Têm Vez? Seymour Hoffman e Downey Jr. não fariam feio se ganhassem. Michael Shannon foi a grande surpresa, numa participação mínima, mas intrigante.

Meu palpite: Heath Ledger
Minha ordem de preferência: Heath Ledger; Philip Seymour Hoffman; Robert Downey Jr.; Michael Shannon; Josh Brolin


Atriz Coadjuvante

Amy Adams (Dúvida)
Marisa Tomei (O Lutador)
Penélope Cruz (Vicky Cristina Barcelona)
Taraji P. Hanson (O Curioso Caso de Benjamin Button)
Viola Davis (Dúvida)

Acredito que a única atriz que ameaçava Penélope Cruz era Kate Winslet, caso a Academia engolisse o lobby dos irmãos Weinstein e a indicasse em coadjuvante por O Leitor. Sem ela, a atriz amodovariana de Woody Allen parece que vai levar a melhor. O minimalismo de Viola Davis e Amy Adams se contrapõe ao exagero caricatural da atuação de Taraji P. Hanson. A primeira tem potencial, mas possui pouco tempo em tela; a vitória da última pode ser uma consolação para Benjamin Button. Adams não oferece risco. E embora eu goste muito da Marisa Tomei, acho que ela já esteve muito melhor antes. No geral, categoria fraca a desse ano.

Meu palpite: Penélope Cruz
Minha ordem de preferência: Viola Davis; Marisa Tomei; Penélope Cruz; Amy Adams; Taraji P. Hanson


Melhor Roteiro Adaptado

Dúvida (John Patrick Shanley)
O Curioso Caso de Benjamin Button (Eric Roth e Robin Swincord)
Frost/Nixon (Peter Morgan)
O Leitor (David Hare)
Quem Quer Ser um Milionário? (Simon Beaufoy)

Curiosamente as melhores adaptações para mim foram feitas a partir de peças de teatro, ambas muito bem sucedidas na tela: os longos diálogos de Dúvida ainda têm muito de teatral, mas funciona muito bem; já Frost/Nixon em pouco lembra os palcos, é bem dinâmico e com texto afiado. Mas nenhum deve vencer. Parece que a Academia está disposta mesmo a premiar a trajetória simplista do favelado que virou milionário, história de superação supervalorizada. Eric Roth fez bom trabalho em crescer o conto do Fitzgerald, mesmo com deslizes, e é uma segunda opção. Não acredito na força de O Leitor.

Meu palpite: Quem Quer Ser um Milionário?
Minha ordem de preferência: Dúvida; Frost/Nixon; O Curioso Caso de Benjamin Button; O Leitor; Quem Quer Ser um Milionário?


Melhor Roteiro Original

Milk – A Voz da Igualdade (Dustin Lance Black)
Na Mira do Chefe (Martin McDonagh)
Rio Congelado (Courtney Hunt)
Simplesmente Feliz (Mike Leigh)
Wall-E (Andrew Stanton)

Pelo menos aqui os indicados são mais ousados, sendo que Milk é o único indicado a Melhor Filme, justo em quem aposto, pois parece que a Academia gostou do filme, aparece em categorias importantes e, se Sean Penn não ganhar, essa seria uma ótima consolação. Na Mira do Chefe e Simplesmente Feliz são ótimos trabalhos, mas os filmes não tiveram tanta visibilidade. Rio Congelado veio acompanhado pela indicação de Melissa Leo, somente para preencher a lista. Mas se houver surpresa, aposto em Na Mira do Chefe, quem sabe? Premiar o roteiro de Wall-E é uma ousadia, não acredito, mas seria excepcional.

Meu palpite: Milk – A Voz da Igualdade
Minha ordem de preferência: Wall-E; Na Mira do Chefe; Simplesmente Feliz; Milk – A Voz da Igualdade; Rio Congelado


Melhor Animação

Bolt – Supercão
Kung-Fu Panda
Wall-E

É, Wall-E não passa daqui, devia estar na categoria principal, mas isso é discussão ultrapassada. Bolt é bonitinho, mas só preenche a lista. Mas o meu maior receio é com uma possível surpresa de Kung-Fu Panda, filme fraquíssimo, que ganhou tudo no Oscar da animação, o Annie Awards, deixando Wall-E a ver navios. Que medo!!!!!!!

Meu palpite: Wall-E
Minha ordem de preferência: Wall-E; Bolt – Supercão; Kung-Fu Panda


Melhor Filme Estrangeiro

Daar Barden Meihof Complex (Alemanha)
Derpatures (Japão)
Entre os Muros da Escola (França)
Revanche (Áustria)
Valsa com Bashir (Israel)

Daqui só vi Valsa com Bashir e gostei muito, só não me parece o tipo de filme (animação pessimista) para a Academia premiar. Mesmo assim, é o mais cotado e que tem coletado vários prêmios nos EUA. Mas como nessa categoria a quantidade de votantes é menor, porque é preciso ver todos os indicados, existem muitas de surpresa e nesse sentido Entre os Muros da Escola, última Palma de Ouro em Cannes, é uma possibilidade. Mas a surpresa pode vir de qualquer lugar.

Meu palpite: Valsa com Bashir
Minha ordem de preferência: Valsa com Bashir (o único a que assisti)


Melhor Montagem

Meu palpite: Quem Quer Ser um Milionário?
Minha ordem de preferência: Batman – O Cavaleiro das Trevas; Frost/Nixon; Quem Quer Ser um Milionário?; O Curioso Caso de Benjamin Button; Milk – A Voz da Igualdade


Melhor Fotografia

Meu palpite: Quem Quer Ser um Milionário?
Minha ordem de preferência: O Curioso Caso de Benjamin Button; Batman – O Cavaleiro das Trevas; A Troca; Quem Quer Ser um Milionário?; O Leitor


Melhor Trilha Sonora

Meu palpite: Quem Quer Ser um Milionário?
Minha ordem de preferência: Wall-E; O Curioso Caso de Benjamin Button; Quem Quer Ser um Milionário?; Um Ato de Liberdade; Milk – A Voz da Igualdade


Melhor Canção Original

Meu palpite: Jai Ho
Minha ordem de preferência: Jai Ho; O Saya; Down to Earth


Melhor Direção de Arte

Meu palpite: O Curioso Caso de Benjamin Button
Minha ordem de preferência: A Troca, O Curioso Caso de Benjamin Button; Batman – O Cavaleiro das Trevas; A Duesa; Foi Apenas um Sonho


Melhor Figurino

Meu palpite: A Duquesa
Minha ordem de preferência: O Curioso Caso de Benjamin Button; Milk – A Voz da Igualdade; A Duquesa; Austrália; Foi Apenas um Sonho


Melhor Maquiagem

Meu palpite: O Curioso Caso de Benjamin Button
Minha ordem de preferência: O Curioso Caso de Benjamin Button; Hellboy II – O Exército Dourado; Batman – O Cavaleiro das Trevas


Melhores Efeitos Visuais

Meu palpite: O Curioso Caso de Benjamin Button
Minha ordem de preferência: O Curioso Caso de Benjamin Button; Batman – O Cavaleiro das Trevas; Homem de Ferro


Melhor Edição de Som

Meu palpite: Batman – O Cavaleiro das Trevas
Minha ordem de preferência: Wall-E; Batman – O Cavaleiro das Trevas; O Procurado; Homem de Ferro; Quem Quer Ser um Milionário?


Melhor Mixagem de Som

Meu palpite: Batman – O Cavaleiro das Trevas
Minha ordem de preferência: Wall-E; Batman – O Cavaleiro das Trevas; O Curioso Caso de Benjamin Button; O Procurado; Quem Quer Ser um Milionário?


Ranking dos filmes:

Jogando tudo num saco só, fiz essa listinha com minha ordem de preferência dos filmes que aparecem nessa edição do careca dourado a que eu assiti:

Wall-E *****
O Lutador ****½
Batman – O Cavaleiro das Trevas ****½
Dúvida ****
O Casamento de Rachel ****
Vicky Cristina Barcelona ****
Na Mira do Chefe ****
Frost/Nixon ****
Simplesmente Feliz ****
Homem de Ferro ****
Valsa com Bashir ****
Milk - A Voz da Igualdade ****
O Curioso Caso de Benjamin Button ***½
Trovão Tropical ***½
Foi Apenas um Sonho ***½
Hellboy II – O Exército Dourado ***½
Bolt – Supercão ***½
Aprendendo a Viver ***
O Leitor ***
Rio Congelado ***
A Duquesa ***
Austrália **½
Quem Quer Ser um Milionário? **½
A Troca **
Um Ato de Liberdade **
Kung Fu Panda **
O Procurado *

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Lutando até o fim

O Lutador (The Wrestler, EUA, 2008)
Dir: Darren Aronofsky


Antes de mais nada, o novo filme de Darren Aronofsky não é sobre lutas, nem sobre vencer na vida, algo já bastante desgastado em filmes do gênero. É sobre um homem e suas limitações, e principalmente a persistência de ser manter o que sempre foi: um lutador. Mickey Rourke parece ser o ator ideal para o papel. Além da intensidade da interpretação, sem exageros, ele próprio possui um passado de decadência. Aqui, ele ressurge das cinzas.

Randy “The Ram” (Rourke), como era conhecido, é esse homem cujo passado foi de sucesso e grandes vitórias no ringue de luta livre, mas atualmente participa de lutas fajutas e arranjadas, em que os oponentes decidem previamente quem vai ganhar e como, enquanto uma pequena platéia de loucos sádicos brada a plenos pulmões, querendo sangue.

Mas Ram já sente o peso da idade e das limitações de seu corpo. Quando ele é levado para o hospital ao passar mal depois de uma luta, o médico o alerta que está na hora de parar, tanto com as lutas quanto com as drogas. Se antes ele já se mostrava decadente, endividado, e precisava fazer bicos como carregador de mercadorias, agora ele precisa de um outro rumo na vida, evidenciado por um trabalho como atendente na delicatessen de um supermercado.

A relação dele com a prostituta Cassidy (Marisa Tomei, ótima) é uma das coisas mais acertadas do longa. Ela já não é tão novinha como suas colegas e começa a se ver rejeitada pelos clientes. Assim como Ram, depende do seu corpo para o benefício de continuar seguindo o trabalho, e o sustento de um filho. Nesse ponto, eles são parecidos e uma possível aproximação é ensaiada embora o filme não caia na facilidade de unir os dois personagens, apesar da grande vontade disso acontecer. Mas não é tão simples assim.

Fácil também não é a relação de Ram com a filha Stephanie (Evan Rachel Wood), há anos separados e, a despeito de seus problemas de saúde, resolve procurá-la. Logo vemos uma explosão emocional, já que ela tanto foi marcada pela ausência do pai. Mas o filme também não facilita essa relação, mesmo com a possibilidade de se reconciliarem. Ram continua sendo o mesmo homem solitário, não parece estar pronto para ter responsabilidades com outra pessoa, por mais que ele queira tentar.

Agraciado com o Leão de Ouro no Festival de Veneza do ano passado, O Lutador não é um filme de fazer alarde. Surpreende bastante a sobriedade de Aronofsky, deixando de lado as pirotecnias visuais dos filmes anteriores que dividiram tanto as opiniões. Com câmera na mão, sem chamar muita atenção para isso, ele acompanha seus personagens com interesse e distanciamento. Até a música, do sempre ótimo Clint Mansell, está mais discreta. O destaque vai para os rocks metálicos dos anos 80. As ótimas atuações são outro atrativo.

Interessante notar como esse brutamontes desaba diante da pressão emocional, algo com o qual não estava acostumado a lidar. Mas no final das contas, ele ainda não desistiu. A vida dele é lutar, é isso que ele sabe fazer. A cena final é a síntese disso. Mesmo sentindo o coração (re)clamar, ele continua na batalha, independente das consequências. Fighters fight, não? Até o fim.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

A dor do silêncio

O Leitor (The Reader, EUA/Alemanha, 2008)
Dir: Stephen Daldry


O Leitor nada mais é do que uma história bem contada, embora o filme não traga nada de novo e por um momento eu me peguei pensando em como ele conseguiu ser indicado ao Oscar, para logo depois me lembrar de como a Academia adora esse tipo de obra. Existem idéias no filme que poderiam ser melhor exploradas, como a questão da culpa que parecer ser a grande razão de ser de toda a narrativa.

A alemã Hanna Schmitz (Kate Winslet), uma mulher de meia idade, conhece e passa a ter um caso com um jovem adolescente Michael Berg (David Kross). Enquanto ela inicia o garoto nos prazeres do sexo, ele passa o resto do tempo lendo para ela, das mais variadas obras da literatura universal. Tempos depois de terminado o relacionamento, eles se reencontram no tribunal, onde ele, estudante de advocacia, presencia o julgamento de Hanna, acusada de trabalhar num campo de concentração nazista e responsável pela morte de diversos judeus. Por fim, agora interpretado por Ralph Fiennes, ele irá encontrá-la na prisão.

Dessa forma, o filme se apresenta a partir de três núcleos narrativos bem definidos, que mantêm o bom andamento da narrativa sem grandes problemas, sem uma ser melhor que a outra, embora o tom de cada momento seja distinto. O início é filmado com cautela na medida em que Michael vai conhecendo o sexo e aquela mulher um tanto rude, misteriosa e escapista. A relação dos dois parece ser bastante frágil, embora muito importante para ele.

Quando o filme apresenta as cenas do tribunal, O Leitor ganha densidade ao apresentar o drama dessa mulher acusada de trabalhar por livre vontade no campo de concentração de Aushwitz. Ela sabia o que estava fazendo, e uma grande falta do filme é retratar a personagem com certa ingenuidade pelo que fazia, pelos judeus que matou. Mas o filme vai mais além ao expandir a responsabilidade daquilo tudo a todo o povo alemão.

Não podemos esquecer que Hitler e toda sua trupe tinha o grande apoio da sociedade alemã. Havia, é claro, aqueles que o apoiavam por medo, mas a classe média e a aristocracia do país sempre estiveram ao lado do amado füher. Daí vem a pergunta: se todas aquelas pessoas estavam de acordo com o que Hitler praticava e pregava, se elas conheciam as atrocidades cometidas, por que somente umas cinco pessoas são condenadas? O resto não se sente culpado? É esse ponto que o filme pretende alfinetar e incomodar, pois sugere que é mais fácil culpar algumas pessoas e se isentar da responsabilidade.

Algo semelhante é o que acontece com Michael quando decide não revelar um segredo que poderia salvar Hanna ou pelo menos deixá-la em uma situação diferente (algo que o filme tenta explorar como uma grande revelação, e que não funciona). Mas Michael não o faz, talvez em respeito à atitude dela. É com seu silêncio, em nenhum momento repreendido, que ele se sente culpado; a dor o perseguirá pelo resto da vida.

Stephen Daldry, depois do excelente As Horas e do ótimo Billy Elliot, compõe aqui uma obra sem grandes riscos, se apoiando numa história coesa e significativa. Kate Winslet, mais uma vez, constrói o personagem com talento (confesso que ainda prefiro sua atuação em Foi Apenas um Sonho), embora o personagem central da história seja Michael e o remorso que carrega. Nesse sentido, tanto o novato David Kross quanto a expressão melancólica de Ralph Fiennes cumprem bem seu papel. Lena Olin aparece em duas curtas cenas, mas causa ótima impressão. A trilha sonora de Nico Muhly embala tudo num misto de tristeza e carinho, quase no limite de extrapolar o tom.

Numa cena bastante curiosa percebemos como a protagonista se envergonha quando Michael está lendo para ela um trecho um tanto picante de O Amante de Lady Chatterley (escrito por D. H. Lawrence). Hanna o censura, mas não percebe que algo semelhante àquilo é o que ela própria pratica com Michael. Talvez O Leitor seja sobre isso: sobre fazer algo e não ter noção disso. Noção do quão perverso podem custar nossas atitudes.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Amarga incerteza

Dúvida (Doubt, EUA, 2008)
Dir: John Patrick Shanley


A história gira em torno da madre superiora de uma escola cristã que desconfia e tenta acusar um padre de abuso sexual contra um garoto negro de 12 anos. Só aqui Dúvida revela que vai tocar não só na questão da pedofilia, como dos abusos cometidos por religiosos, e também sobre racismo. O melhor é que nada disso é levantado como bandeira, como mera crítica social, e sirva mais como propulsão para uma narrativa cheia de nuances e incertezas que joga na mão do espectador a possibilidade de tirar suas próprias conclusões.

Depois de escrever Dúvida para o teatro, e ganhar prêmio Pulitzer em 2005 pelo texto, John Patrick Shanley resolveu adaptá-lo para o cinema, com resultados que ainda assim têm algo de palco, mas se resolvem muito bem na tela. E o texto é um dos maiores trunfos do filme, rico em detalhes e precisão, construindo aos poucos um confronto que promete duras consequências adiante. Os diálogos, longos, mas bem articulados, fogem daquele ritmo cortante de respostas rápidas; há tempo para que possamos pensar e refletir sobre os desdobramentos da história e as intervenções de cada um.

Além disso, os personagens são construídos com muita riqueza e complexidade, não só pelo texto, mas por um grupo de atores extremamente competentes. Philip Seymour Hoffman é o Padre Flynn, talvez o personagem mais enigmático pois, embora acusado de pedofilia, se mostra o tempo todo um sujeito atencioso e amável; o personagem se torna complexo quando se recusa a revelar seus segredos, o que pode ou não esconder atos hediondos do passado. A madre superiora Irmã Aloysius de Meryl Streep parece ser a pessoa mais chata, odiosa e amarga do mundo, e é sua acusadora, embora não tenha provas concretas contra o padre.

Amy Adams, ingênua como a Irmã James, é quem levanta a suspeita da madre, porém passa a estar disposta a crer nas palavras do padre. Sua personagem é a que mais cresce durante o filme, pois é como se ao fim perdesse sua inocência, ao mesmo tempo que conserva sua pureza. Tudo se torna mais complexo ainda quando entra em cena a mãe do garoto, vivida por Viola Davis. Interessante perceber como sua personagem surge tão calmamente e vai evoluindo num crescendo emocional arrasador, tendo no rosto de Viola Davis a expressão máxima que vai da calmaria ao desespero velado, diante da revelação mais chocante e triste do filme; e isso em menos de 10 minutos em cena.

Pode parecer um lugar comum dizer que o trabalho desses quatro atores é uma aula de interpretação, mas o minimalismo de cada um, a tentativa de sempre trazer complexidade a seus personagens é coisa de profissionais. Aqui, um olhar torto, o tom da voz que se eleva, uma lágrima que demora a cair, um gaguejar, uma pausa, tudo é valioso.

Apesar das várias seqüências de confronto verbal entre os personagens, o texto de Shanley tenta também parecer mais cinematográfico, como a cena do travesseiro rasgado (metáfora da fofoca), ou quando, durante uma acentuada discussão, a câmera se inclina, tornando a situação bastante desconfortável. Curiosamente, uma trilha sonora que podia muito bem cair na facilidade de procurar tensão todo o tempo, se mostra, acertadamente, bastante discreta. A força do texto consegue sustentar muito bem essa tensão.

“A dúvida pode ser um elo tão poderoso e sustentável como a certeza”, diz o Padre Flynn no início do filme com o sermão que parece ser a tônica dominante da obra, cujo grande mérito é instaurar na mente do espectador incertezas que só enriquecem a história.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Insustentável leveza

Ninho Vazio (El Nido Vacío, Argentina/Espanha/França/Itália, 2008)
Dir: Daniel Burman



A questão da paternidade deve perseguir o cineasta argentino Daniel Burman pois em seus últimos dois filmes, os ótimos As Leis de Família e O Abraço Partido, esse assunto é o que move as narrativas. Em Ninho Vazio ela também está presente, mas o diretor acrescenta outros detalhes para dar vida a um homem em crise de meia idade, com prováveis reflexos negativos em seu casamento. Tudo é filmado com muita discrição, cuidado e sem grandes rompantes dramáticos, chorosos ou gritantes, e talvez por isso com muita verdade.

Leonardo (Oscar Martinez) é um escritor de relativo sucesso na Argentina, que não parece estar muito satisfeito com seu trabalho, com a mulher que voltou a estudar e, principalmente, com a saída de seus três filhos de casa (que nem chegamos a ver no início do filme). Daí a idéia do ninho (ambiente familiar) que se esvazia, deixando-o solitário em casa, com muito tempo para pensar nos rumos de seu casamento, cada dia mais a perigo, uma vez que sua esposa Martha (Cecilia Roth – protagonista de Tudo Sobre Minha Mãe, do Almodóvar) é vista agora sempre na companhia dos colegas de faculdade, um deles um ex dela.

Numa semana em que Foi Apenas um Sonho entra em cartaz ao mesmo tempo que esse aqui, é interessante notar como ambos os filmes lidam com a desintegração de um casamento. Enquanto no trabalho de Sam Mendes a história vai ensaiando aos poucos um caminho trágico, é muito bom perceber como Daniel Burman (também roteirista) consegue orquestrar os elementos de uma crise matrimonial (o maior tempo que a faculdade de Martha a ocupa, o ex que a cerca, o caso extraconjugal de Leonardo, a terapia de casal), mas ao mesmo tempo apontar para a possibilidade de mudança, de renovação, apesar dos erros de cada um. E Leonardo vai aprender a lidar com suas próprias angústias e limitações.

E tudo isso é filmado sem julgamentos, um grande mérito do filme. Mesmo a personalidade de difícil convivência de Leonardo, sua implicância para com todos, em especial o noivo israelita de sua filha, não faz dele um personagem tedioso, pelo contrário. Burman acompanha suas desventuras com interesse, para alcançar um final que subverte as expectativas, a despeito das discussões que acompanham o casal no início do filme.

Jorge Drexler, ganhador do Oscar de canção com Al Otro Lado Del Río, por Diários de Motocicleta, marca presença aqui com outra música bem gostosinha, Un Instante Antes de Levantar Vuelo, parte de uma trilha sonora cheia de um jazz charmoso e de outros toques musicais que soam sutilmente aqui e ali durante o longa. Sutil também é a atuação de Oscar Martinez, mais afeito aos pequenos gestos e olhares significativos, revelando aos poucos a insegurança de seu personagem e evoluindo a um estágio de aprendizagem.

Ninho Vazio é uma grata experiência e mostra que os bons dramas não precisam ser efusivos, nem chamar tanta atenção para si mesmos. Mesmo assim, há muita verdade na crise daquele casal como também muita leveza em dois corpos tranquilos boiando na água.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Criançinhas

Foi Apenas um Sonho (Revolutionary Road, EUA/Inglaterra, 2008)
Dir: Sam Mendes


Em determinado momento de Foi Apenas um Sonho me lembrei da premissa do bom Pecados Íntimos, de Todd Field. Ali, personagens se veem rodeados de problemas nos seus relacionamentos e acabam agindo como crianças mimadas ao enfrentá-los. O problema é que esse não é o caminho pretendido pelo mais novo trabalho de Sam Mendes, mas é por aí mesmo que o filme envereda, no que parece uma DR interminável (muita gente deve concordar que discutir relação é um saco!). No entanto, boas atuações salvam a obra, assim como alguns diálogos inspirados, e o filme consegue captar essa sensação de não conseguir fugir do sistema.

Encaixar-se nos padrões do modo de vida americano é tudo que Frank (Leonardo DiCaprio) e April (Kate Winslet) não querem, mas do qual não conseguem se desvencilhar. A aparente felicidade e satisfação escondem um casal frustrado com a vida apática que levam (tema que Sam Mendes já tratou brilhantemente em Beleza Americana). Ela é uma atriz fracassada que agora vive como a dona do lar; ele passa o dia num trabalho burocrático e enfadonho de escritório. Os dois planejam viver em Paris para a total estranheza do círculo íntimo de amigos do casal

De início, parece um tanto ingênuo se mudar para Paris, onde ela trabalharia como secretária em alguma agência governamental enquanto ele se divertiria na cidade de Luz (?!?). Por outro lado, é dessa estranheza que emana o sentimento de angústia dos personagens e sua motivação em fugir daquela vida padronizada, mesmo que a solução não seja das mais comuns. No entanto, não conseguem escapar do sistema, e daí, dá-lhe discussões e mais discussões que vão se tornando repetitivas durante o filme. Isso quando elas não soam infantis, como quando April, nervosíssima, grita para Frank: “Se você tocar em mim, eu vou gritar”. Adivinha o que ele faz? Pega nela. Adivinha o que ela faz? Ela grita!

Nesse sentido, é muito interessante quando entra na história o filho com problemas mentais do casal de vizinhos. John (vivido intensamente por Michael Shannon e indicado ao Oscar de Coadjuvante, a despeito do pouco tempo em cena), um “louco”, é justamente aquele que consegue captar, entender e jogar na cara a situação de aparências pela qual os dois passam. Assim como o April e Frank, ele está aparte do mundo, não se encaixa no padrão, foge da regra, e por isso mesmo os entende tão bem.

O texto parece melhor porque temos aqui bons atores que sustentam seus personagens e as situações com muita verdade e afinco. Com destaque para uma Kate Winslet intensa e sóbria, sem exageros, o filme ainda tem essa passagem desconcertante de Michael Shannon. A trilha sonora de Thomas Newman vai do agradável ao prenúncio de uma tragédia, nunca querendo ser maior que o filme, bem discreta.

Dessa forma, a incapacidade de fugir do sistema só pode levar à desestruturação do casamento, algo que se torna muito evidente pelos casos extraconjugais que ambos arranjam em momentos distintos. A Estrada Revolucionária, rua onde os personagens vão morar no início do filme, é a mais pura ironia para vidas que precisavam justamente disso, de uma revolução, mas continuam presas. Presos ao sistema, presos em si mesmos. Como crianças que não sabem o que fazer quando desaba o castelo de areia.