segunda-feira, 29 de setembro de 2008
Beleza e talento juntos num só ser
domingo, 28 de setembro de 2008
Adeus a Paul Newman
sexta-feira, 26 de setembro de 2008
Curtinhas
Dir: Mamoru Hosi
Além de ser um filme pouquíssimo visto no país, o japonês Escola do Riso é uma grande surpresa que em seus primeiros momentos não chega a prever o alto nível alcançado pela película em sua metade final. Se pensarmos que o filme se passa quase completamente dentro de uma sala com dois personagens dialogando, a coisa fica mais interessante ainda. No Japão dos anos 40, um sensor (Kôji Yakusho, visto posteriormente em Memórias de uma Gueixa e Babel) analisa roteiros de peças de teatro e corta tudo aquilo que em sua visão fere a moral e os bons costumes da sociedade. A paródia de Romeu e Julieta feita por um jovem roteirista (Goro Inagaki) é o mote central do filme. No embate entre os dois, o roteiro é constantemente escrito e discutido. Escola do Riso constitui uma defesa da pura comédia como forma de libertação do homem. Faz isso com graça, mas alcança momentos dramáticos quando faz um estudo do sensor enquanto um homem sério e solitário, escravo do sistema repressor, mas que após aquela experiência irá enxergar um lado mais cômico da vida. A cada nova cena, um novo enquadramento, um ângulo inusitado, uma iluminação apropriada, um movimento de câmera específico. Tudo para que a história não se torne enfadonha. Um grande acerto.
Irina Palm (Idem, França/Bélgica/Inglaterra/Luxemburgo/ Alemanha, 2007)
Dir: Sam Garbarski
Quando soube da existência desse filme há alguns meses, imaginava que se tratava de algo mais cômico e irreverente. Ora, o que esperar de um filme em que a protagonista, uma senhora de meia idade, a fim de pagar o caro tratamento médico do neto, passa a trabalhar num clube privê masturbando os clientes? Isso mesmo, a atriz e roqueira Marianne Faithfull interpreta Maggie, uma viúva londrina, recata e cheia de amigas da alta sociedade, que secretamente faz esse sacrifício pelo neto. Com mãos suaves e eficientes, acaba se tornando um grande sucesso entre homens que freqüentam o local; Irina Palm é seu nome de guerra. Mas o filme não possui nada de jocoso. Nessa trajetória, somos testemunhas da relação um tanto difícil dela com o filho, repleto de dívidas e que não parece ter a mesma garra que a mãe para conseguir o dinheiro necessário. É quase como se aquela situação fosse um fardo para ele. Ao mesmo tempo, Maggie se mostra uma pessoa solitária e que busca ajudar a todos ao seu redor. Nesse sentido, uma discussão sobre moralidade fica bem evidente: como podemos julgar uma personagem que se submete a um trabalho visto por muitos como degradante por uma causa maior? Sem moralismo, o filme leva sua personagem ao caminho do bem estar pessoal uma vez que Maggie faz o que faz por um motivo digno. No final, há recompensas.
Braking News – Uma Cidade em Alerta (Daai si Gin, Hong Kong, 2004)
Dir: Johnnie To
Descobri que o cineasta Johnnie To produz uma média de três a quatro filmes por ano, uma marca incrível se considerarmos o grande esforço e trabalho para a realização de um longa. E mesmo estando mais ligado ao gênero policial, seus filmes parecem trazer sempre algo de interessante e novo. Se em Exilados ele trava de companheirismo e lealdade, em Breaking News ele desmascara a possibilidade de manipulação da mídia jornalística. Numa Hong Kong cada vez mais violenta, um grupo de assaltantes promove um tiroteio com a polícia no meio da rua (um plano-seqüência memorável), e a mídia passa a acusar o sistema policial de ineficaz. Quando o mesmo grupo invade um edifício fazendo algumas reféns, é a vez de o governo mostrar o seu trabalho e equipa os policiais com câmera para registrar as ações em que eles mostram serviço. O material é logo veiculado nas tevês para que todos vejam o trabalho da polícia. Mas ao mesmo tempo, os bandidos, dentro dos prédios, também começam a filmar e registrar os momentos em que eles conseguem impedir o avanço das forças policiais. Essas imagens também são enviadas para a mídia. E agora, em que acreditar? Aliado a essa discussão tão atual e pertinente, To ainda cria excelentes cenas de ação, que apesar de alguns momentos confusos, não desmerecem a competência de seu realizador.
Kika (Idem, Espanha/França, 1993)
Dir: Pedro Almodóvar
Não sei por que mas sempre achei que esse filme do Almodóvar seria por demais exagerado e escrachado. Kika tem lá seus excessos (em Almodóvar podemos chamar algo de excesso, ou simplesmente de personalidade?), mas desenvolve sua narrativa com vigor e uma inventividade cheia de esquisitices. A maquiadora Kika (Veronica Forqué) tem um caso com o escritor Nicholas (Peter Coyote) e quando o enteado dele, Ramón (Alex Casanovas), é dado como morto, ela é chamada para maquiar o defunto quando descobre que o rapaz está vivo. Os dois se apaixonam e vão viver juntos. Mas essa é só a ponta de uma história cheia de reviravoltas (que na segunda metade enfraquece um pouco a narrativa) e que vai da mais pura comédia, passando pelo humor negro até alcançar ares de mistério e filme policial. Outros personagens estranhos completam o quadro: a empregada lésbica (Rossy De Palma) apaixonada pela patroa; seu irmão ex-ator pornô e perturbado mentalmente (Santiago Lajusticia), responsável pela cena de estupro mais hilária que eu já vi, elevando a carga de humor negro do filme; e principalmente Andrea Caracortada (Victória Abril), a apresentadora de um programa de TV sensacionalista que apela para a desgraça da vida das pessoas. O colorido intenso e característico do diretor espanhol perpassa e intensifica toda a narrativa. Kika parece um ensaio, um filme de transição entre a afetação e a maturidade próspera de seu realizador.
O Procurado (Wanted, EUA, 2008)
Dir: Timur Bekmambetov
O Procurado começa mal e continua no mesmo nível baixo até o seu fim. Imagine aí uma sociedade secreta que tem como função matar pessoas que farão mal à humanidade. Sabe como eles descobrem isso? Através de um código binário que se identifica pelas fibras de tecido confeccionado por um tear (??????). Wesley Gibson (James McAvoy), um medíocre contador, descobre que seu pai era membro da tal sociedade e acabou de ser assassinado; Wesley precisa assumir o lugar deixado por ele. Passa a ser treinado por Fox (Angelina Jolie, com cara de machona o tempo todo) sob a supervisão do líder da sociedade (Morgan Freeman). Habilidades especiais à lá Matrix vão surgir nele logo, logo. O absurdo da trama só perde para as cenas de ação forçadas, manipuladas e na quais se tenta incluir algumas pitadas de humor que não têm graça nenhuma. Na verdade, o filme todo possui essa tentativa de trazer humor, principalmente através do personagem do McAvoy, que surge meio abobalhado na maioria das cenas. E o pior são os estereótipos ridículos que aparecem em outros personagens como a chefe chata e gordona de Wesley ou seu amigo cara-de-pau que está transando com sua namorada rabugenta. E nos créditos finais eu ainda tomei um susto quando vi que a trilha sonora era assinada por Danny Elfman. Ou esse é um homônimo daquele Danny Elfman que eu estou pensando ou isso é o que conhecemos por decadência.
quinta-feira, 25 de setembro de 2008
Mostra Cinema Conquista
domingo, 21 de setembro de 2008
Cúmplices da tortura
Dir: Michael Haneke
Assistindo novamente ao Violência Gratuita feito em 1997 pelo mesmo diretor descobri um gosto muito maior pelo filme do que quando vi pela primeira vez; essa versão atualizada (copiada, na realidade), sendo exatamente igual a primeira, possui as mesmas qualidades. Só peca por ser algo já visto, sem novidade alguma. Mas Michael Haneke continua um grande provocador e nesse(s) projeto(s) leva o espectador a um estado de tensão poucas vezes alcançado.
Ao passar as férias na casa de campo, uma família se vê ameaçada por dois jovens que aparecem misteriosamente na propriedade. O que inicialmente se mostra uma aproximação amigável, vai tomando ares de intimidação até chegar ao ponto da mais pura humilhação e tortura física. Tudo gratuitamente.
Por isso mesmo gosto bastante do título em português que considera toda a violência como algo sem propósito (nunca sabemos os reais motivos por que aqueles dois fazem aquilo). Seria uma crítica à banalização da violência que vai mais adiante ao criar com o espectador uma relação de cumplicidade. Num jogo metalingüístico, os agressores olham diretamente para a câmera e conversam com o público, como se fossemos coniventes com tudo aquilo e a sede do espectador por violência fosse o alimento da continuidade dos atos dos personagens.
Ao mesmo tempo, a idéia de funny games (jogos engraçados, do título original) entrega toda aquela situação como uma brincadeira perversa. Os níveis de tensão aumentam a cada situação opressora, mas não é isso que vemos como qualidade? Além disso, o título entrega o próprio filme como um truque, uma armação, do qual também somos coniventes (estamos assistindo a uma ficção, mas não deixamos de nos envolver emocionalmente com a estória). Numa cena espetacular, um dos jovens, depois de um acontecimento que o desagrada muito, pega um controle remoto, faz voltar a ação (o filme retrocede imediatamente) para desfazer o ato. Esse é o jogo e são eles que o controlam.
Embora Haneke copie cena a cena seu filme anterior, fica evidente uma direção segura e visivelmente bem planejada em todos os momentos. E mesmo que o filme se utilize da violência para discuti-la, ela nunca é usada como forma de promoção do filme já que as cenas mais pesadas nunca são mostradas. O filme apela para a memória coletiva do público que já viu e foi exposta a várias cenas de violência e tortura (principalmente no cinema). Talvez esse seja um dos maiores acertos do diretor.
Além disso, um elenco de peso faz jus a todos os atores do filme anterior. Tim Roth e Noimi Watts interpretam o casal, ambos marcados pela sutileza de seus personagens que mais tarde dão lugar a um desgaste físico impressionante. Mesmo o ator mirim Devon Gearhart, como o filho do casal, surge com uma expressividade ímpar. Já Michael Pitt e Brady Cobert são de um cinismo absurdo, nunca soando exagerados como os “vilões” da história. Mas se a história possui mesmo um vilão, não seria ela a exposição à/da violência?
terça-feira, 16 de setembro de 2008
1 ano e 10 filmes
sábado, 13 de setembro de 2008
Infelizes para sempre
Dir: Noah Baumbach
Depois de um A Lula e a Baleia maravilhoso, o diretor de cinema independente Noah Baumbach continua no mesmo caminho ao abordar o tema familiar, mas esse mais novo Margot e o Casamento é bem diferente de seu trabalho anterior. Na tentativa de fugir dos clichês das fitas indie, o filme acaba por ser uma tanto mais afetado na medida em que aumenta a carga de “esquisitices” do roteiro. Mesmo assim, promove bons momentos, principalmente quando envolve o estudo de personalidade da protagonista e sua irmã.
Margot (Nicole Kidman, em grande fase depois de um tempo fazendo bobagens) há muito não vê a irmã Pauline (Jennifer Jason Leigh) que está preste a se casar pela segunda vez. Margot resolve reatar relações e parte com o filho para a casa onde sua irmã vive com o noivo (Jack Black) e uma filha do primeiro casamento. Nem é preciso dizer que esse retorno vai mexer com a vida das duas personagens.
Tudo no início parece muito familiar e aprazível para elas, mas é aos pouco que surgem as pendências amargas do passado das duas irmãs. Detalhes como o abuso e agressão cometidos pelo pai de ambas e o fato de que o primeiro casamento de Pauline tenha acabado por interferência de Margot, surgem como se fossem detalhes sem importância. Nesse sentido, o filme, sabiamente, não expõe claramente todos os pormenores da vida de Pauline e Margot, preferindo deixar tais aspectos subtendidos na narrativa. E eles são cruciais para entendermos as atitudes delas.
Ainda assim, o filme sempre procura assumir um tom mais cômico e leve, a despeito da delicada situação de Pauline (revelado de forma bem sutil, aliás). Ela sempre viveu à sombra dessa irmã prepotente, mas nunca levantou voz contra ela. Todas as vezes que Margot faz alguma coisa que possa prejudicá-la, ela nunca responde à altura. Ela parece fazer questão de esconder as cicatrizes, talvez para que elas não voltem a doer. Não nota que com isso os rumos de sua vida sempre vão estar sujeitos às interferências de outras pessoas. Margot, por sua vez, mantém o seu ar controlador e independente, se fazendo de forte, mesmo machucando aqueles ao seu redor.
Daí partimos para o ótimo nível de atuação de Nicole Kidman e Jennifer Jason Leigh. Uma naturalidade muito grande exala da química entre as duas, embora farpas estão a todo momento sendo disparadas em pequenas doses, até o clímax em que as personagens, Jennifer Jason Leigh em especial e com muita competência, explodem. Sobra Jack Black que, na tentativa de fazer drama com uma pitada de comédia, ficou enroscado entre as duas coisas e soa perdido, mal aproveitado.
O tratamento dado às duas personagens é o grande atrativo do filme, mas o roteiro em alguns momentos se torna inconstante, marcado por cenas que não chegam a contribuir em nada para a obra (Margot ficando presa na árvore, o sapato que ela tenta devolver aos vizinhos). Com uma narrativa mais seca e direta, Margot e o Casamento transita entre o sutil e o excêntrico; um balanceando o outro.
quarta-feira, 3 de setembro de 2008
Dobradinha turco-germânica
Contra a Parede (Gegen Die Wand, Alemanha/Turquia, 2004)
Do Outro Lado (Auf der Anderen Seite, Alemanha/Turquia/Itália, 2007)