segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Últimas curtinhas do ano


Jovens Adultos (Young Adults, EUA, 2011)
Dir: Jason Reitman


Quando o diretor Jason Reitman e a roteirista Diablo Cody fizeram Juno, o sucesso do filme se devia a um roteiro rico de sutilezas, driblando todo tipo de simplismos e facilidades dramáticas. Retornando a parceria em Jovens Adultos, é justamente o roteiro que parece não se desenvolver a contento aqui. A ideia de uma mulher adulta que age como uma adolescente imatura acaba sendo reiterada a todo instante, a começar pela escolha óbvia da profissão dela como escritora de romances para adolescentes. É como se o filme precisasse que ela aja repetidamente como uma teen até chegar em seu clímax explosivo no final. Engraçado que uma história sobre mentalidade pessoal peca justamente por um roteiro um tanto engessado, especialmente depois de um filme tão "crescido" como Juno.

Uma pena porque o filme conseguiu uma intérprete à altura para entender o comportamento e a psicologia atrasada de sua protagonista. Charlize Theron defende sua personagem megera com propriedade, fazendo dos pequenos gestos e expressões a medida ideal da imaturidade escondida por traz da altivez que ela estampa na cara – e nesse sentido, direção de arte e figurinos são acertadíssimos em compor esse universo duplo da protagonista. Mas também como comédia o filme não parece funcionar como promete, o que torna Jovens Adultos arrastado e decepcionante.


L’Apollonide – Os Amores da Casa de Tolerância (L’Apollonide – Souvenirs de la Maison Close, França, 2011)
Dir: Bertrand Bonello 


O submundo do sexo, da exploração/venda do corpo e dos prazeres, parece ser o maior interesse do cineasta francês Bertrand Bonello. Se em seus filmes anteriores, Tirésia e O Pornógrafo, a temática aparecia de forma um tanto suja ou mais explícita, em L’Apollonide – Os Amores da Casa de Tolerância, que recebeu no Brasil um subtítulo eufemístico, esse submundo está lá, mas cercado por um ambiente mais aristocrático – mesmo que sujeito às intempéries que cercam o trabalho das prostitutas – que nos transportam a um outro tempo. O bordel de luxo vive seus últimos dias na passagem do século XIX para o seguinte, dentro de uma atmosfera carregada de melancolia.

Não há um centro narrativo de guia, mas um emaranhado de situações que se desenrolam com essas meninas. Obviamente, algumas delas ganham destaque no percurso (como a Mulher que Ri, marcada por uma fatalidade na profissão), isso porque Bonello tem um carinho imenso pelas putas e acompanha o dia-a-dia de trabalho, sonhos e frustrações que se acumulam, enquanto a casa tenta se manter de pé. Todo o filme é cercado por uma atmosfera latente de tepidez e decadência, mas é evidente o cuidado que aquelas meninas mantém entre si, uma espécie de família construída em torno de ofício tão socialmente rejeitado. Desse ambiente deprê, L’Apollonide expõe um retrato luxuoso do declínio de uma época, mas não de uma maneira de ganhar a vida, como fica evidente na também triste cena final.


Marcados para Morrer (End of Watch, EUA, 2012)
Dir: David Ayer 


Da onda de mocumentários que tem surgido recentemente, Marcados para Morrer parece conseguir o que a maioria deles pretende enquanto artefato estético: uma relação mais próxima com o real, apesar desse ser um termo difícil de definir. Toma como registro a rotina de dois parceiros policiais, vividos por Jake Gyllenhaal e Michael Peña, no dia-a-dia de trabalho nas ruas de Los Angeles, na sua relação de amizade e na vida familiar que constroem. Trata-se de um filme policial sem o glamour das cenas de perseguição e heroísmo dos filmes de ação. Seu grande mérito é se aproximar de um retrato cru da vida de policial, enfrentando o destemor dos bandidos e a corrupção dentro da própria instituição que trabalham. São, portanto, agentes e reféns de um sistema maior e mais complexo do que eles imaginam.

Mas seguem fazendo seu trabalho, com um mínimo de honestidade, também sabendo se aproveitar de seu lugar como detentores de autoridade. Mesmo assim, há uma certa ingenuidade no ar, especialmente pelo personagem de Gyllenhaal, justo quem decide registrar com sua câmera caseira tudo que lhe acontece, ideal para representar essa profissão perigo através de uma ótima mais realista. A fronteira entre a brincadeira e a seriedade é bastante fina, nunca se sabe o que virá a seguir. Marcados para Morrer, como o próprio nome indica, nos coloca no universo da criminalidade e do perigo constante do qual o cinema já nos ensinou a ver e compreender nos filmes do gênero, mas que aqui ganha proporções mais palpáveis, sem firulas, e por isso mesmo mais verdadeiras.


Tropicália (Idem, Brasil, 2012)
Dir: Marcelo Machado 


Dos documentários musicais brasileiros que viraram modinha nos últimos anos, pode-se dizer que Tropicália é um dos mais felizes na sua inventividade conceitual. Ao falar do movimento artístico que frutificou a partir do fim da década de 1960, quando os artistas baianos (notadamente Caetano Veloso e Gilberto Gil) despontaram com sua música de sonoridade renovada, o filme se apropria de um certo tom libertário, fugindo da narrativa tradicional, mas ainda assim sendo bastante elucidante sobre o tema. Sem se limitar somente à música, o filme faz um apanhado das confluências artísticas que frutificavam no Brasil à época e que foram os pilares do Tropicalismo enquanto movimento artístico.

O filme traz um recorte riquíssimo de imagens de arquivo, especialmente algumas pouco vistas e conhecidas, além de reveladoras (como a cena que abre o filme, retirada de um programa de TV em Portugal com a participação de Caetano e Gil assim que chegaram exilados na Europa). Com esse rico material, o diretor Marcelo Machado faz um trabalho de montagem incrível e inventivo, sem perder o percurso que traça do movimento, entremeando os descaminhos políticos que o Brasil vivia, com as interferências e desmandos do governo militar, essenciais para se entender o momento histórico quando tudo aquilo ganhava forma. Daí que não é de se espantar que imagens de Terra em Transe, de Glauber Rocha, ganhe tonalidades coloridas, ou que imagens das fotos antigas sejam recortadas e ganhem animação. Na profusão do movimento artístico, Tropicália se entrega ao pop e à modernidade e nos entrega uma narrativa deliciosa de acompanhar. Definitivamente, trata-se de um filme tropicalista.


Deus da Carnificina (Carnage, França/Alemanha/Polônia/Espanha, 2011)
Dir: Roman Polanski 


A maior surpresa em relação a esse filme é que se trata de um registro cômico, e não dramático, como o tema tenderia a ser. Apesar da origem teatral do texto, baseado na peça da francesa Yasmina Reza, Polanski conseguiu impor um narrativa cinematográfica, passeando com a câmera pelos espaços do apartamento, sempre variando ângulos e enquadramentos. Porque a força da história dos dois casais de pais que discutem a briga de seus filhos na casa de um deles está justamente nos diálogos e nos desdobramentos que aquele encontro, aparentemente amigável, poderia ter. No fundo, o texto original foi feito para ser encenado num espaço só, não é preciso esconder isso, e sim fazer dele uma foça narrativa.

Por mais que o desenvolvimento da longa conversa nem sempre se sustente – incomoda, por exemplo, as desculpas utilizadas pelos personagens para que o casal visitante permaneça na casa discutindo –, o filme ganha no desenho que faz daquelas pessoas, expondo sua visão de mundo e também seus conflitos internos. O tom cômico acentua bem a hipocrisia dos personagens, tom esse que vai crescendo até chegar numa espécie de pastiche, um retrato de adultos portando-se como crianças imaturas (enquanto as crianças parecem lidar muito melhor com suas desavenças, como demonstra a cena final). Por isso nem incomoda que Jodie Foster e John C. Reilly beirem uma atuação mais histriônica. Chega-se a um estado de calamidade para aqueles quatro, seu reino de aparências e brio arranhados, uma carnificina só.


O que Eu Mais Desejo (Kiseki, Japão, 2011)
Dir: Hirokazu Kore-eda 


Retornando ao universo dos personagens infantis, como já fez no maravilhoso Ninguém Pode Saber, Hirokazu Kore-eda cometeu mais um filme sensível que tem nas atitudes das crianças sua maior força de sinceridade. Mas diferente da tristeza do anterior, O que Eu Mais Desejo tem algo de mais animador, que se esconde pela sutileza da narrativa, uma das marcas do cineasta japonês. Como o ponto de vista aqui é o das crianças, fica mais fácil ainda aliar a ingenuidade delas com a história bonitinha. Koichi (Koki Maeda) e Ryunosuke (Ohshirô Maeda) são irmãos que vivem, cada um, com os pais separados. Quando descobrem que no momento em que dois trens bala se cruzam a energia emitida é tão forte que é possível acontecer um milagre, eles e alguns amigos partem na tentativa presenciar esse encontro e desejar que seus pais possam voltar a viver juntos. Simples assim.

É o tipo de história que só parece fazer sentido pela visão de crianças e sua imaginação fértil, embora Kore-eda aproveite para explorar a rotina da família que vive separada. Mas mesmo assim, não há pesar nem problemas duros que agravem o cotidiano dos garotos, mas somente o retrato de uma situação tão comum entre as famílias hoje. O ritmo do filme por vezes se torna um tanto arrastado, e o filme podia ser um pouco mais enxuto, mas Kore-eda prefere o registro intimista, também outra de suas características estilísticas. Mas O que Eu Mais Desejo tem também uma das cenas mais belas do ano, no clímax da história quando os garotos chegam a seu destino, e quando um ato do irmão mais velho indica um pequeno amadurecimento em relação à forma como vê sua própria vida em família. Do conto singelo de crianças esperançosas por um milagre, o filme ganha um tom de rito de passagem, da forma mais sutil possível.


Liv & Ingmar – Uma História de Amor (Liv & Ingmar, Noruega/Índia/Reino Unido, 2012)
Dir: Dheeraj Akolkar 


O cinema de Ingmar Bergman possui algo de tão pessimista, frio e duro que qualquer registro mais amoroso que o envolva parece um tanto estranho. Não que se queira aqui duvidar da amorosidade e ternura de seus relacionamentos pessoais, mas esse documentário tenta imprimir um tom tão forçado na relação entre ele e a atriz Liv Ullman, uma das grandes atrizes que ele descobriu, que, na maior parte das vezes, soa como algo deslocado, difícil de comprar, até mesmo oportunista. Ajuda muito que Liv Ullman seja a voz única aqui, seu relacionamento com o cineasta sueco sendo dissecado por suas lembranças e sentimentos, que em nenhum momento parecem falsas. Portanto, um retrato bastante íntimo e personalizado.


Mas outro grave problema do documentário é a forma como se constrói como narrativa através das imagens que servem de apoio para as falas de Liv. Usa-se uma série de cenas dos filmes que Bergman dirigiu da forma mais óbvia possível: quando se fala da separação, imagens de Cenas de um Casamento; quando o assunto é morte, cenas de O Sétimo Selo, e assim por diante. Dá a impressão errônea de que todos os filmes de Bergman estão, de alguma forma, ligados ao relacionamento dos dois. Não se nega aqui que a filmografia dele tem muito de autobiográfica, mas o recurso demonstra a falta mesmo de uma forma mais interessante de ilustrar os depoimentos de Liv. Tudo é muito pessoal e a história deles é realmente bonita, apesar do temperamento forte e peculiar do diretor, mas merecia um tom menos melodioso e mais sincero com seus personagens.

sábado, 15 de dezembro de 2012

Lá, outra vez


O Hobbit: Uma Jornada Inesperada (The Hobbit: An Unexpected Journey, EUA/Nova Zelândia, 2012)
Dir: Peter Jackson 
  

Da leitura de O Hobbit, feita há alguns anos, a marca maior da história deixada por J. R. R. Tolkien era a aventura desenfreada e despretensiosa, circundada pela mitologia fantasiosa daquele universo criado genialmente pelo escritor inglês. Era diferente de O Senhor dos Anéis que carregava reflexões mais profundas e sérias sobre a gana pelo poder, sem abandonar o lado épico e fabular. Pois era esse mesmo espírito aventuroso que se esperava encontrar nessa nova empreitada de Jackson e não me decepcionei, apesar do inchaço que ele inevitavelmente promoveu aqui.

Para além das questões de ordem técnica (vi o filme em 2D, na versão normal em 28 fps) e das possíveis polêmicas e/ou inovações que o formato em 48 frames por segundo possam gerar, O Hobbit, enquanto narrativa, é uma delícia de filme. Suas quase três horas de duração não deveriam espantar porque passam com muita tranquilidade, pelo equilíbrio de ritmo que o filme tem. É como se, ao começar a aventura, ela não quisesse mais parar, dando tempo somente para algumas suspiradas.

Daí que as páginas de O Hobbit não foram suficientes para que Jackson saciasse sua vontade de levar para as telas mais uma trilogia épica. Há algo de oportunismo nisso tudo, é evidente, mas só de fugir do desastroso, a experiência se torna das mais agradáveis. Sendo uma história essencialmente infanto-juvenil, as saídas narrativas seriam carregadas de ingenuidade, sem perder o senso de perigo constante.

Mas não é essa a atmosfera que Jackson quis imprimir ao filme, por isso há uma insistência aqui em tudo soar grandioso, ameaçador, um tom de gravidade que se nota nas próprias referências e interconexões com O Senhor dos Anéis (até na rima visual da cena do anel caindo no dedo de Bilbo “acidentalmente”), com seus personagens e detalhes na trama. 

Assim, também estão de volta o portentoso dos cenários, o detalhismo dos figurinos e da reconstituição de todo o universo mítico e fabular da Terra-Média, além do encher dos olhos dos efeitos especiais e design de produção, tudo muito cuidadoso e vistoso, bonito mesmo. As criaturas animadas digitalmente, com destaque evidente para Gollum e sua persona medonha e também ingênua, mais uma vez muito bem interpretado por Andy Serkis, são outro espetáculo à parte. É o espírito de encantamento que um filme desses também inspira no espectador, o atrativo de vislumbrar o espetáculo da aventura, por mais firulas e ampliações que são encaixadas na trama, praticamente todas muito bem dosadas no filme (só é difícil engolir, por exemplo, aquela segunda introdução em que Frodo aparece).

O Hobbit é, no fundo, um filme sobre a descoberta da viagem, das possibilidades de aprendizado, dos riscos de se estar e se mover no mundo, principalmente se este mundo está recheado de surpresas e ameaças mortais. Pois Bilbo Bolseiro (Martin Freeman), vivendo sossegado na sua abastada casa no condado dos hobbits, é surpreendido por esse ímpeto, com o propósito de auxiliar o grupo de anões, com Gandalf (Ian McKellen) por mentor, que deseja reaver suas terras e tesouros da posse do temido dragão Smaug, soando mais como um pretexto para por o pé na estrada.

Mas não demora muito para entendermos que esse pretexto se torna seriedade nas mãos ávidas de Peter Jackson. Assim como Bilbo é levado nessa jornada meio que a contragosto, as escolhas por um projeto mais audacioso também era uma preocupação no filme, mas é bem possível se entregar à aventura e se aproveitar dela. Jackson nos negou um filme mais ingênuo, contudo nos trouxe mais uma história épica com a grandiosidade peculiar, ao seu gosto. Não sei se há motivos para reclamação.

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Adrenalina da fuga


Argo (Idem, EUA, 2012)
Dir: Ben Affleck
 


Entre ser um thriller e uma história de viés político, Argo consegue a proeza de, no meio do caminho, ainda imprimir um pequeno retrato da indústria hollywoodiana vista de dentro. Nada que muitos tantos outros filmes já não tenha feito em todos esses campos ou subgêneros, mas essa nova investida de Ben Affleck como diretor é correta e cuidadosa, sem querer dar um passo a mais do que pode e do que sua história representa: um plano de fuga.

O ano é o de 1980, pouco depois de iniciada a Revolução Iraniana que levou ao poder o aiatolá Khomeini, dando início ao governo islâmico mais duro no país. Essa contextualização abre o filme, demarcando para o espectador a crise política que se intensifica entre os dois países naquele momento (e que perdura até hoje, com outros desdobramentos). Inimigo dos Estados Unidos, o governo iraniano impede a saída de um grupo de diplomatas que trabalhava na embaixada americana no Irã.

É desse clima de tensão política que o filme se nutre e encontra, paradoxalmente, o universo hollywoodiano. Isso porque a saída encontrada para resgatar aquelas pessoas é forjar as filmagens de um filme de ficção científica que teria locações no Irã, dando brecha para que os diplomatas fossem tidos como membros da equipe do falso filme, chamado Argo.

Se por trás das câmeras Ben Affleck tem encontrado uma vocação de onde extrair alento, Argo é talvez seu filme mais bem acabado e também o mais festejado, um forte candidato que já começa a despontar nessa temporada de premiações. Mesmo que ainda prefira seu filme de estreia, Medo da Verdade (mais pela coragem do roteiro, é fato), Argo trabalha no campo do classicismo americano, montando com agilidade a tensão que ronda o desdobrar daquele plano que soa tão improvável, em contraponto às cenas cheias de humor quando o filme se concentra na Los Angeles dos produtores de Hollywood.

Com esse misto inusitado de comédia e drama angustiante dos foragidos, sem nunca perder o ritmo e o interesse pela história, o filme consegue esse equilíbrio difícil, mas sem necessariamente chamar muita atenção para a complexidade das situações. Não adentra a questão política, nem busca alfinetar com acidez as excentricidades da indústria cinematográfica e de quem a faz. Prefere se deter no plano de fuga e na adrenalina do risco que aquilo tudo representa. Embora se saia bem nesse quesito, a impressão é de que o filme poderia render bem mais. 

No entanto, o que menos funciona no enredo é o desenvolvimento do personagem do agente da CIA Tony Mendez (interpretado pelo próprio Affleck, com sua habitual falta de talento nessa área). Apesar de ser o centro da história (é dele a execução e o plano de resgate), seus problemas com a família distante é mais uma dentre tantas outras questões e personagens que o filme possui, não contribuindo em nada para a história. Daí que sobra espaço para que os coadjuvantes brilhem, em especial Alan Arkin, como o produtor que abraça a causa do filme falso, John Goodman, vivendo o maquiador que também ajuda no plano, e ainda a dureza de Bryan Cranston, como o chefe de Mendez.

Destacando o fato de ser baseado em fatos reais, os créditos finais insistem em mostrar as pessoas verdadeiras que tomaram parte naquela história, como se o filme fizesse questão de provar sua autenticidade, tipo de insegurança que torna tudo sem muito risco, no campo do correto. Argo é assim, bom com thriller político, mas sem querer se atrever muito.


segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Filmes de novembro




1. 007 – Operação Skyfall (Sam Mendes, EUA/Reino Unido, 2012) ***

2. A Febre do Rato (Cláudio Assis, Brasil, 2011) ***

3. Marcados para Morrer (David Ayer, EUA, 2012) ***½

4. Argo (Ben Affleck, EUA, 2012) ***

5. Ritos de Passagem (Chico Liberato, Brasil, 2012) **

6. Sudoeste (Eduardo Nunes, Brasil, 2012) ****

7. Minha Terra, África (Claire Denis, França/Camarões, 2009) ****

8. As Quatro Voltas (Michelangelo Frammartino, Itália/Alemanha/Suíça, 2010) ***½

9. Irmãs Jamais (Marco Bellocchio, Itália, 2010) **

10. Perseguição (Patrice Chéreau, França/Alemanha, 2009) *½

11. Éden (Bruno Safadi, Brasil, 2012) ***

12. O Processo (Orson Welles, França/Alemanha Ocidental/Itália, 1962) ****½

13. A Dama de Xangai (Orson Welles, EUA, 1947) **½

14. A Hipótese do Quadro Roubado (Raúl Ruiz, França, 1979) ****½

15. Cosmópolis (David Cronenberg, Canadá/França/Portugal/Itália, 2012) ***½

16. A Vida Útil (Federico Veiroj, Uruguai/Espanha, 2010) ***½

17. Em Nome de Deus (Brillante Mendonza, Filipinas/França/ Alemanha/Reino Unido, 2012) ***½

18. Looper – Assassinos do Futuro (Rian Johnson, EUA/China, 2012) ***½

19. Moonrise Kingdom (Wes Anderson, EUA, 2012) ***½

20. Sexo às Avessas (Fauzi Mansur, Brasil, 1982) **½

21. As Aventuras do Sr. Hulot no Trânsito Louco (Jacques Tati, França/Itália, 1971) ***

22. Ruby Sparks – A Namorada Perfeita (Jonathan Dayton e Valerie Faris, EUA, 2012*) ***


Revisões:

23. Capitães da Areia (Cecília Amado, Brasil/Portugal, 2011) **

24. Quincas Berro D’Água (Sérgio Machado, Brasil, 2010) ***

25. O Bandido da Luz Vermelha (Rogério Sganzerla, Brasil, 1968) *****



quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Mostra SP – Ranking geral



Pronto, acabou. Pouco mais de 15 dias de cinema e o saldo são 66 filmes vistos com suas múltiplas emoções, uma leva de textos apressados sobre as obras, encontros com gente boa e a certeza de que eu preciso de costas novas. Abaixo, um ranking com todos os filmes vistos, em ordem de preferência. Já tô querendo mais.


Tabu (Miguel Gomes, Portugal/Brasil/França) ****½
Um Alguém Apaixonado (Abbas Kiarostami, Japão/França) ****
Elena (Petra Costa, Brasil) ****
Postcards from the Zoo (Edwin, Indonésia/Alemanha/Hong Kong) ****
O Som ao Redor (Kleber Mendonça Filho, Brasil) ****
Na Neblina (Sergei Loznitsa, Rússia/Alemanha/Letônia/Holanda/Bielorússia) ****
Os Selvagens (Alejandro Fadel, Argentina) ****
Reality (Mateo Garrone, Itália/França) ****
A Feiticeira da Guerra (Kim Nguyen, Canadá) ****
A Caça (Thomas Vinterberg, Dinamarca) ****


O Gebo e a Sombra (Manoel de Oliveira, Manoel de Oliveira) ***½
A Cara que Mereces (Miguel Gomes, Portugal) ***½
Perder a Razão (Joachim Lafosse, Bélgica/Luxemburgo/França/Suíça) ***½
A Bela que Dorme (Marco Bellocchio, Itália/França) ***½
No (Pablo Larraín, Chile/França/EUA) ***½
Aqui e Ali (Antonio Méndez Esparza, Espanha/EUA/México) ***½
Invasion (Dito Tsintsadze, Alemanha/Áustria) ***½
Linhas de Wellington (Valeria Sarmiento, Portugal/França) ***
Après Mai (Olivier Assayas, França) ***
Super Nada (Rubens Rewald, Brasil) ***


Salsipuedes (Mariano Luque, Argentina) ***
Jards (Eryk Rocha, Brasil) ***
Bloqueio (Sergei Loznitsa, Rússia) ***
A Parte dos Anjos (Ken Loach, Reino Unido/França/Bélgica/Itália) ***
O Lago Balaton (Péter Forgács, Hungria) ***
Melhor Não Falar de Certas Coisas (Javier Andrade, Equador) ***
O Sorriso do Chefe (Marco Bechis, Itália ***
Como Um Homem (Safy Nebbou, França) ***
Eu, Anna (Barnaby Southcombe, Reino Unido/Alemanha/França) ***
Ladrão (Matt Rusking, EUA) ***


Estrada de Palha (Rodrigo Areias, Portugal/Finlândia) ***
Além das Montanhas (Cristian Mungiu, Romênia/França/Bélgica) **½
Era Uma Vez Eu, Verônica (Marcelo Gomes, Brasil) **½
Mistery (Lou Ye, China/França) **½
O Cordeiro (John McIlduf, Reino Unido) **½
Chamada a Cobrar (Anna Muylaert, Brasil) **½
Alois Nebel (Tomás Lunák, República Tcheca) **½
Eu Não Faço a Menor Ideia do que Eu Tô Fazendo com a Minha Vida (Matheus Souza, Brasil) **
You and Me (Kaspar Munk, Dinamarca) **½
Indignados (Tony Gatlif, França) **½


Paraíso (Panagiotis Fafoutis, Grécia) **½
Imperdoável (André Téchiné, França) **
La Noche de Enfrente (Raúl Ruiz, Chile/França) **
Antiviral (Brandon Cronenberg, EUA/Canadá) **
Keyhole (Guy Maddin, Canadá) **
Satyrianas, 78 Horas em 78 Minutos (Daniel Gaggini, Fausto Noro e Otávio Pacheco, Brasil) **
Amanhã? (Christine Laurent, França/Portugal) **
Meus 13 Anos (Christian Klandt, Alemanha) **
Ballet Aquatique (Raúl Ruiz, França) **
Herança (Hiam Abbass, França/Israel/Turquia/Palestina) **


O Quase Homem (Martin Lund, Noruega) **
Speed – Em Busca do Tempo Perdido (Florian Opitz, Alemanha) **
Brutal (Markus Busch, Alemanha) **
A Riqueza do Lobo (Damien Odoul, França) **
Tiro na Cabeça (Pen-Ek Ratanaruang, Tailândia/França) **
Hot Hot Hot (Beryl Koltz, Luxemburgo) **
A Memória que Me Contam (Lúcia Murat, Brasil/Itália/França) *½
25/11 – O Dia em que Mishima Escolheu o Seu Destino (Kôji Wakamatsu, Japão) *
L (Babis Makridis, Grécia) *
Cine Holliúdy (Halder Gomes, Brasil) *
O Frágil Som do Meu Motor (Leonardo António, Portugal) *


Hors Concours:

 
Nosferatu
(F. W. Murnau, Alemanha, 1922) *****
O Sacrifício (Andrei Tarkovski, Suécia/França) ****½
Tubarão (Steven Spielberg, EUA, 1975) ****½
Lawrence da Arábia (David Lean, Reino Unido, 1962) ****
Nostalgia (Andrei Tarkóvski, Itália/União Soviética) ****


Mensões honrosas (filmes já vistos antes, mas que merecem destaque):


O Que Se Move (Caetano Gotardo, Brasil) ****
Boa Sorte, Meu Amor (Daniel Aragão, Brasil) ****
Minha Felicidade (Sergei Loznitsa, Rússia/Ucrânia/Alemanha) ***½
Aquele Querido Mês de Agosto (Miguel Gomes, Portugal) ***½


terça-feira, 20 de novembro de 2012

Mostra SP – Encerramento




Nosferatu (Nosferatu: Eine Symphonie des Grauens, Alemanha, 1922) 
Dir: F. W. Murnau



O céu permaneceu nublado durante todo o dia e noite no feriado de Finados e mesmo assim não choveu durante a exibição ao ar livre do clássico alemão Nosferatu, no Parque do Ibirapuera. O encerramento da 36ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo foi um misto de beleza, pela admirável sessão que tivemos, e também de horror pelo que Nosferatu representa, como encarnação de um Drácula maldito.  

Não bastasse a experiência do filme ao ar livre, na noite frienta de São Paulo, com cópia restaurada, o maior atrativo mesmo foi a orquestração ao vivo que acompanhou a exibição do filme, comandada pelo maestro alemão Pierre Oser que regeu a Orquestra Petrobras Sinfônica e de Coral. Apesar de alguns pequenos incômodos (pessoas caminhando, vendedores ambulantes pirracentos, vizinhos de chão fazendo piquenique), a coisa toda teve ar majestoso, imponente, depois de dias intensos de cinema.  

Nosferatu é a primeira versão da conhecida história do Conde Drácula para as telonas, adaptação livre e não autorizada da obra de Bram Stoker. O corretor de imóveis Hutter (Gustav von Wangenheim) é convocado a visitar o conde Orlok (Max Schreck) nos Montes Cárpatos para vender-lhe uma propriedade na cidade de Bremen, mas irá se surpreender com o assustador anfitrião, na verdade um milenar vampiro disposto a alastrar uma grande peste na cidade. Através de Hutter, Orlok irá se encantar por sua esposa, a doce Ellen (Greta Schröder).

O cinema de horror deve muito a esse filme como uma das grandes inspirações para o gênero, muito também por sua adesão aos dogmas do Expressionismo Alemão. A cópia zero bala nos dá uma maior clareza do jogo de sombras, o forte contraste do claro-escuro, a composição dos cenários, a expressão exagerada dos atores, tudo em prol do efeito dramático. Isso é o que faz as imagens soarem tão consistentes na sua intenção de criar atmosfera de suspense constante, ao mesmo tempo que nos transporta para uma fábula de horror que não encontra mais lugar no cinema atual. É um filme que pertence a um tempo seu, mas que ainda hoje encanta pela forma como inspira medo e calafrios.

É o tipo de experiência que se intensifica pelo próprio lugar no encerramento de um evento desse porte, cuja marca principal é a celebração da cinefilia. Em seu aniversário de 90 anos, Nosferatu é exibido como filme ainda de interesse para um público imenso e bastante heterogêneo. É dessas sessões marcantes que a gente nunca cansa de buscar. E é preciso agradecer por poder ver isso, do jeito que foi.
 

domingo, 18 de novembro de 2012

Mostra SP – Parte 11





Antiviral (Idem, Canadá/EUA, 2012)
Dir: Brandon Cronenberg


Ao contrário do que possa parecer em primeira vista, Antiviral não é um filme de epidemias. Ou melhor, não se insere nas narrativas clássicas da infecção viral que sai contaminando pessoas, distribuindo caos, muito embora algumas marcas clássicas desse subgênero marcam presença aqui no filme de estreia de Brandon. Filho do mestre David Cronenberg, o diretor novato resolveu se aventurar por um caminho que lembra em muito os trabalhos do pai (especialmente em sua primeira fase), especialmente no fator gore e grotesco da situação.

E esse pode ser um dado contra seu próprio trabalho já que o filme é bem mais conceitual do que necessariamente gráfico ou algo eletrizante. E aí reside outro problema, porque depois da apresentação do conflito, o enredo cai numa morosidade que só. Antiviral está muito mais interessado em montar uma crítica feroz contra o mundo das celebridades e da bajulação dos fãs que chegam a se contaminar pelas doenças de seus ídolos, sendo o comércio desses vírus um novo e lucrativo mercado, fonte de vício e lucro, retrato de uma sociedade doentia.

Daí que a composição visual do filme é bastante interessante ao apresentar ambientes sempre muito limpos, assépticos, em contraste com o grotesco da doença e infecções que as pessoas passam a desejar para si. Mas o filme vai se perdendo na desinteressante história de Syd March (Caleb Landry), funcionário de uma dessas clínicas virais que se infecta com o vírus da nova doença de uma famosa super modelo prestes a morrer. Mas sua história passa por tantas reviravoltas, acrescentando desdobramentos tão desinteressantes, que pouco contribuem para o todo. É assim que Antiviral desperdiça um grande ponto de partida num enredo insosso demais.


Perder a Razão (À Perdre la Raison, Bélgica/Luxemburgo/França/Suíça, 2012)
Dir: Joachim Lafosse 


Não fosse a cena inicial desse filme uma antecipação de uma tragédia anunciada, sendo o filme composto pelo recurso do flashbabck, pouca coisa nos daria a noção do futuro trágico de seus personagens. Porque logo de início conhecemos o jovem casal Mounir e Mourielle (Tahar Rahim e Émilie Dequenne, ela numa das atuações femininas mais intensas vistas aqui nessa Mostra), alegres por estarem juntos. Nem o fato dele ser um imigrante ilegal, que vive na França há tempos aos cuidados do médico e seu protetor Pinget (Niels Arestrup) parece atrapalhar o casal enquanto impedimento de vida a dois.

Na verdade, para ele é um ótimo negócio porque assim consegue nacionalidade francesa. De qualquer forma fica claro que eles se amam. Daí que Perder a Razão parte desse amor jovem e avança na vida de casados, fazendo surgir os problemas do matrimônio. Eles continuam vivendo na mesma casa que Pinget, sob os cuidados financeiros dele, já que possuem empregos não muito rentáveis, à medida também que vão nascendo os filhos do casal (três ao todo). As relações entre o provedor e essa família vão se tornando cada vez mais difíceis, apesar da adoração que existe ali de todos entre si.

Numa história que se equilibra tão bem em expor o drama e as dificuldades desse trio de personagens, é muito interessante como a narrativa vai se afunilando e dando destaque a Murielle e seus problemas psicológicos e de comportamento. Trabalhando o tempo todo com o registro da câmera na mão, sempre muito colocada a seus atores, Lafosse sabe intensificar o uso desse recurso, que ganha ares de desestabilização emocional, mas sem nunca forçar a mão. Os minutos finais, de uma sutileza incrível, são também o desenlace trágico de uma história que teve sua origem no mais puro sentimento entre homem e mulher. Um filme intenso que põe em xeque a própria razão humana.


Na Neblina (V Tumane, Rússia/Alemanha/Letônia/Holanda/Bielorússia, 2012)
Dir: Sergei Loznitsa 


Na Neblina é desses filmes que nos deixam assim sem saída, sem esperança, uma das sessões que mais funcionaram para mim durante a Mostra no sentido de nos deixar levar (ou aprisionar) por sua atmosfera. Aqui, tem-se um sentimento de acuamento que reflete a própria situação de seu protagonista, o ferroviário Sushenya (Vladimir Svirskiy, numa grande interpretação) acusado de colaborar com as tropas inimigas alemãs que ocupavam a Bielorrússia durante a Segunda Guerra Mundial.

É mais um filme pujante desse cineasta nascido na Bielorrússia, passando a morar na Ucrânia desde pequeno, mas que se interessa em expor os atos de opressão que a União Soviética sempre infligiu a seu povo. Aqui, como o protagonista que desconhece as razões de sua própria perseguição, o espectador é posto como um refém do estado de brutalidade que o dia-a-dia da guerra e os laços de partidarismo impõem.  

Assim como no ótimo Minha Felicidade, Loznitsa busca um registro rigoroso, valorizando os planos longos e a câmera na mão, nunca como modismo, mas antes como representação visual de um estado de coisas impiedoso com o ser humano, fazendo pesar o sofrimento sobre os menos favorecidos. Mas diferente desse seu primeiro longa de ficção, Na Neblina é um pouco mais linear, menos intricado na forma, mas ainda assim persiste como um estudo complexo de atitudes, quase como se questionasse o quanto a guerra pode modificar (e endurecer) o homem.

Ao mesmo tempo, o filme não deixa de pontuar um senso de amizade e de amor à família que ainda persiste no coração humanos, mesmo que o entorno aponte para direções mais endurecidas. Em sua proposta sem concessões, para espectador e personagens, o filme se eleva como produto brutal sobre os abalos que a guerra provoca. Uma curiosa sensação que equilibra filme tão bonito de se reconhecer como arte, e obra tão forte que nos faz se perder dentro da névoa mais densa da estupidez humana.


Minha Felicidade (Schastye Moye, Rússia/Ucrânia/Alemanha, 2011)
Dir: Sergei Loznitsa 



Aproveitando a retrospectiva de Sergei Loznitsa na Mostra, dá pra acessar aqui texto que fiz sobre Minha Felicidade, primeiro longa de ficção do cineasta. O filme precisava de revisão, o que não pude fazer durante o evento, mas ficam essas primeiras impressões de um trabalho também potente.


A Caça (Jagten, Dinamarca, 2012)
Dir: Thomas Vinterberg 


Preciso dizer, eu não gosto dos filmes do Thomas Vinterberg. Daí que não fossem as boas recomendações para ver este seu novo filme, não sei se teria me arvorado. E não é que desta vez o cineasta dinamarquês fez uma obra madura? Intensa, sobre tema sério e espinhoso, consegue montar uma história que, sob o ensejo de discutir a questão da pedofilia, é na verdade um estudo complexo sobre a mentira.

Porque sabemos desde o início que o professor de uma escola infantil, Lucas (Madds Mikkelsen), não cometeu nenhum tipo de ato indecente contra a pequena Klara (Annika Wedderkopp) que, por se sentir “rejeitada” por ele, passa a sustentar o fato dele ter se mostrado nu para ela. Por sua vez, a posição de homem divorciado e de pouco trato com as mulheres, representada bem demais por Mikkelsen, ajuda a compor a fragilidade desse homem diante de acusações tão fortes, ainda mais vindas de uma criança tomada por inocente, e que encontram na pequena cidade em que vive repercussões das mais negativas e arrasadoras para ele.

A vida de Lucas então se torna um inferno, e o filme acompanha seu esforço para manter a dignidade e lutar por inocência. É mais um filme duro, que sabe dar a dimensão exata de humanidade e consideração por todos os personagens, seja por Lucas e sua família que também sofre com as acusações, seja por seus amigos e colegas de trabalho que passam a enxergar o professor de forma mais cruel. Sem julgar nenhum deles, o filme monta uma situação que afunda em sua própria natureza corrosiva da fidelidade humana.

Filmado com a tensão que a história exige, mas sem abusar tanto da câmera trêmula, Vinterberg acertou bem a mão para lidar com o tempo do filme, pausado na medida certa a fim de valorizar a experiência emocional que é acompanhar esse homem acuado em sua própria comunidade. Nesse ponto, a única ressalva é um epílogo um tanto desnecessário que arrasta o final do filme por minutos a mais, mastigando um pouco a resolução da história. Mesmo assim, faz questão de pontuar que, uma vez tido como caça por seus próprios pares, depois de permanecido na mira da vigilância social, um homem leva por muito tempo dentro de si o estigma da perseguição.