Nosferatu (Nosferatu: Eine
Symphonie des Grauens,
Alemanha, 1922)
O
céu permaneceu nublado durante todo o dia e noite no feriado de Finados e mesmo
assim não choveu durante a exibição ao ar livre do clássico alemão Nosferatu, no Parque do Ibirapuera. O
encerramento da 36ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo foi um misto de
beleza, pela admirável sessão que tivemos, e também de horror pelo que Nosferatu
representa, como encarnação de um Drácula maldito.
Não
bastasse a experiência do filme ao ar livre, na noite frienta de São Paulo, com
cópia restaurada, o maior atrativo mesmo foi a orquestração ao vivo
que acompanhou a exibição do filme, comandada pelo maestro alemão Pierre Oser
que regeu a Orquestra Petrobras Sinfônica e de Coral. Apesar de alguns pequenos
incômodos (pessoas caminhando, vendedores ambulantes pirracentos, vizinhos de
chão fazendo piquenique), a coisa toda teve ar majestoso, imponente, depois de
dias intensos de cinema.
Nosferatu é a primeira
versão da conhecida história do Conde Drácula para as telonas, adaptação livre e
não autorizada da obra de Bram Stoker. O corretor de imóveis Hutter (Gustav von
Wangenheim) é convocado a visitar o conde Orlok (Max Schreck) nos Montes
Cárpatos para vender-lhe uma propriedade na cidade de Bremen, mas irá se
surpreender com o assustador anfitrião, na verdade um milenar vampiro disposto
a alastrar uma grande peste na cidade. Através de Hutter, Orlok irá se encantar
por sua esposa, a doce Ellen (Greta Schröder).
O
cinema de horror deve muito a esse filme como uma das grandes inspirações para o
gênero, muito também por sua adesão aos dogmas do Expressionismo Alemão. A cópia
zero bala nos dá uma maior clareza do jogo de sombras, o forte contraste do
claro-escuro, a composição dos cenários, a expressão exagerada dos atores, tudo
em prol do efeito dramático. Isso é o que faz as imagens soarem tão consistentes na
sua intenção de criar atmosfera de suspense constante, ao mesmo tempo que nos
transporta para uma fábula de horror que não encontra mais lugar no cinema atual. É um filme que pertence a um tempo seu, mas que ainda hoje encanta pela forma
como inspira medo e calafrios.
É
o tipo de experiência que se intensifica pelo próprio lugar no encerramento de um
evento desse porte, cuja marca principal é a celebração da cinefilia. Em seu
aniversário de 90 anos, Nosferatu é
exibido como filme ainda de interesse para um público imenso e bastante
heterogêneo. É dessas sessões marcantes que a gente nunca cansa de buscar. E é preciso agradecer por poder ver isso, do jeito que foi.
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