terça-feira, 20 de novembro de 2012

Mostra SP – Encerramento




Nosferatu (Nosferatu: Eine Symphonie des Grauens, Alemanha, 1922) 
Dir: F. W. Murnau



O céu permaneceu nublado durante todo o dia e noite no feriado de Finados e mesmo assim não choveu durante a exibição ao ar livre do clássico alemão Nosferatu, no Parque do Ibirapuera. O encerramento da 36ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo foi um misto de beleza, pela admirável sessão que tivemos, e também de horror pelo que Nosferatu representa, como encarnação de um Drácula maldito.  

Não bastasse a experiência do filme ao ar livre, na noite frienta de São Paulo, com cópia restaurada, o maior atrativo mesmo foi a orquestração ao vivo que acompanhou a exibição do filme, comandada pelo maestro alemão Pierre Oser que regeu a Orquestra Petrobras Sinfônica e de Coral. Apesar de alguns pequenos incômodos (pessoas caminhando, vendedores ambulantes pirracentos, vizinhos de chão fazendo piquenique), a coisa toda teve ar majestoso, imponente, depois de dias intensos de cinema.  

Nosferatu é a primeira versão da conhecida história do Conde Drácula para as telonas, adaptação livre e não autorizada da obra de Bram Stoker. O corretor de imóveis Hutter (Gustav von Wangenheim) é convocado a visitar o conde Orlok (Max Schreck) nos Montes Cárpatos para vender-lhe uma propriedade na cidade de Bremen, mas irá se surpreender com o assustador anfitrião, na verdade um milenar vampiro disposto a alastrar uma grande peste na cidade. Através de Hutter, Orlok irá se encantar por sua esposa, a doce Ellen (Greta Schröder).

O cinema de horror deve muito a esse filme como uma das grandes inspirações para o gênero, muito também por sua adesão aos dogmas do Expressionismo Alemão. A cópia zero bala nos dá uma maior clareza do jogo de sombras, o forte contraste do claro-escuro, a composição dos cenários, a expressão exagerada dos atores, tudo em prol do efeito dramático. Isso é o que faz as imagens soarem tão consistentes na sua intenção de criar atmosfera de suspense constante, ao mesmo tempo que nos transporta para uma fábula de horror que não encontra mais lugar no cinema atual. É um filme que pertence a um tempo seu, mas que ainda hoje encanta pela forma como inspira medo e calafrios.

É o tipo de experiência que se intensifica pelo próprio lugar no encerramento de um evento desse porte, cuja marca principal é a celebração da cinefilia. Em seu aniversário de 90 anos, Nosferatu é exibido como filme ainda de interesse para um público imenso e bastante heterogêneo. É dessas sessões marcantes que a gente nunca cansa de buscar. E é preciso agradecer por poder ver isso, do jeito que foi.
 

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