terça-feira, 30 de novembro de 2010

Feliz por recordar

A Suprema Felicidade (Idem, Brasil, 2010)
Dir: Arnaldo Jabor



Por mais que tenha lá seus defeitos, A Suprema Felicidade parece ser peça rara no cinema brasileiro. Filme vigoroso que não teme ser over, obsceno, carnavalesco, alegre. Arnaldo Jabor, depois de 24 anos de jejum cinematográfico, resolveu contar uma história que apela para a memória, numa grande ode ao recordar e ao que isso tem de construção, de encenação.

Nesse sentido, no início do filme, a impressão é de que estamos diante de um projeto um tanto egocêntrico, a partir do momento em que determinados personagens e situações se apresentarem somente por puro capricho do realizador – o que parece forçar determinados momentos, como a história que o padre cota na sala de aula, a apresentação do grupo de anões. Talvez o algo de autobiográfico que o filme possui seja um outro empecilho.

Mas esse tom do filme parece dever muito a seu autor, o tipo de projeto que só podia ser dele, seja na carga exagerada de algumas cenas, como quando as pessoas começam a dançar no meio da rua ou a aquela da casa de prostituição à luz do dia em que uma das mulheres é brutalmente ferida, seja na amoralidade sacana presente em toda a narrativa, forma de chacoalhar o conservadorismo da sociedade – influência óbvia de Nelson Rodrigues, o que confere frescor e despudor bastante saudáveis ao filme.

Dessa forma, é possível perdoar o filme por todos os seus excessos a partir do momento em que percebemos que o filme se constrói a partir desses excessos. Se a história é protagonizada por um Paulinho vivido por vários atores com o passar do tempo fílmico (da criança ao adolescente), A Suprema Felicidade é repleto de outros personagens interessantes, tipos excêntricos e marcantes que nem sempre fazem tanta diferença assim na trama.

Mas, se pensarmos no filme como uma colcha de memórias costuradas, esses personagens são, muitas vezes, a grande graça da narrativa, que se misturam com as referências histórias da narrativa. Além disso, o apelo às recordações nostálgicas aproxima bastante o longa de Amarcord, obra-prima de Fellini, ou, numa referência mais próxima de nós, de Eu Me Lembro, do baiano Edgard Navarro, com quem o filme possui muitas semelhanças.

Montado de forma não-linear, como seria próprio do aflorar das lembranças, o filme reconstrói um Rio de Janeiro de meados do século passado com um primor técnico de encher os olhos. Do belíssimo trabalho de figurinos, à excelente fotografia responsável pelo tom de saudosismo, passando por uma direção de arte caprichada, tudo isso traz muito orgulho à filmografia brasileira (para a qual Jabor já tinha contribuído antes com vários de seus trabalhos, de certa forma, anárquicos como Eu Sei que Vou Te Amar, Toda Nudez Será Castigada e Opinião Pública).

Se o elenco mais jovem apresenta um trabalho mediano e outros não encontrem tanto espaço para brilhar – caso de João Miguel – é preciso dar um grande viva a Marco Nanini e todo seu talento contido, mas cheio de vigor, da mesma forma que para Maria Flor, surgindo, surpreendentemente, impressionante como uma ninfomaníaca que parecia pouco importante à narrativa, mas que acrescenta momentos de delírio bem-vindo ao filme. Uma das melhores atuações coadjuvantes do ano, num filme que é uma grande surpresa por sua audácia e vivacidade.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Melhores filmes da década

A Sociedade Brasileira dos Blogueiros Cinéfilos (SBBC) divulgou ontem a lista final com o resultado da votação para escolher os melhores filmes da década passada. A relação dos 20 mais é bem clichezinha, repleta de filmes oscarizados, tipo de lista previsível. Só tem um filme nacional (Cidade de Deus) e somente dois falados em língua não inglesa (O Fabuloso Destino de Amélie Poulain e Fale com Ela).

Quem quiser dar uma espiada, é só clicar aqui. Abaixo, seguem os meus votos, numa difícil seleção dos 20 melhores filmes dos últimos 10 anos:


1. Lavoura Arcaica

2. Kill Bill Vol. 1 e 2

3. Onde os Fracos Não Têm Vez

4. Oldboy

5. Dogville


6. Irreversível

7. Amores Brutos

8. Jogo de Cena

9. Antes do Pôr-do-Sol

10. Cidade dos Sonhos


11. A Viagem de Chihiro

12. Abril Despedaçado

13. Wall-e

14. Amor à Flor da Pele

15. Sangue Negro


16. A Criança

17. Mal dos Trópicos

18. Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças

19. Sobre Meninos e Lobos

20. Marcas da Violência

Morre Mario Monicelli


Ao pular da janela do hospital onde estava internado, Mario Monicelli deixa esse mundo da forma mais inesperada possível. Talvez da mesma forma que um personagem seu faria, pois seu cinema, partindo da comédia escrachada, revelava muito do grotesco da sociedade italiana, mas sem nunca perder o bom humor negro. Que descanse em paz!

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Preparando o terreno

Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 1 (Harry Potter and the Deathly Hallows: Part 1, EUA/Reino Unido, 2010)
Dir: David Yates


Quando anunciaram que a última aventura da saga Harry Potter seria dividida em dois filmes, a notícia parecia muito bem-vinda. Agora, visto o filme, surge um desapontamento, pois essa primeira parte possui os mesmos defeitos dos outros longas: narrativa apressada, que, na tentativa de dar conta de tantas situações e personagens, atropela detalhes, tornando muitos momentos insatisfatórios.

Isso porque, se tomarmos como base toda a narrativa do último livro (que o filme segue fielmente), o roteiro dessa primeira parte termina no que eu chamaria de terço final do livro, momento em que a história ganha um ritmo alucinante até o fim apoteótico (o que aumenta consideravelmente as expectativas para a segunda parte do filme).

Faço essas considerações porque, como um relativo fã da história, é difícil se desprender dessas nuances de adaptação, muito embora, cinematograficamente, o diretor David Yates conduz com certa eficiência a narrativa. Não chego a adorar nenhum dos filmes da série (manterei essa esperança até meados do ano seguinte quando a saga tem fim no cinema), mas é inegável o fôlego que a história consegue manter até aqui.

Na verdade, o grande mérito é da escritora J. K. Rowling que desenvolveu uma trama que foi ganhando em complexidade com o passar dos livros, e em vários aspectos. Aqui, Harry precisa se defrontar definitivamente com Voldemort – e ambos sabem que esse embate é inevitável e mortal para um deles –, buscando destruir as horcruxes, peças malignas nas quais o lorde das trevas depositou partes de sua alma. Por sua vez, o temido vilão só pensa em encontrar e matar Harry definitivamente para consolidar seu poder.


Por conta desse perigo iminente e pela atmosfera constante de medo, tudo no filme é muito sombrio (e, diferente dos demais, por anteceder o confronto final, o perigo ganha uma seriedade maior). Para isso, fotografia e direção de arte criam uma ambientação sufocante, enquanto a trilha sonora de Alexandre Desplat, sempre competente, garante a tensão. Entre as atuações, por mais que seja recheado de grandes nomes, destaque para o Voldemorte de Ralph Fiennes que, se tivesse mais tempo em tela, renderia grandes momentos.

Com cenas de ação mais rápidas, Yates se preocupa mais em desenvolver o percurso dos personagens nessa reta final. O que poderia enfraquecer o filme, acaba sendo uma de sua maiores qualidades, garantindo seu valor entre os demais longas da série. Uma aposta arriscada, mas que prepara bem o caminho para o clímax final.

domingo, 14 de novembro de 2010

A queda do herói

Tropa de Elite 2 – O Inimigo Agora é Outro (Idem, Brasil, 2010)
Dir: José Padilha



A continuação de um filme de sucesso é visto muitas vezes como forma de duplicar o rendimento com um trabalho similar. Pouco são os projetos que realmente têm algo mais a dizer, caso desse Tropa de Elite 2 – O Inimigo Agora é Outro, que reúne mais uma vez José Padilha na direção e no roteiro que divide com Bráulio Mantovani, os mesmos responsáveis (juntamente com o ex-capitão do Bote, Rodrigo Pimentel, no primeiro filme) pelo alto nível de discussão que Tropa de Elite trouxe sobre a violência no Rio de Janeiro e uma séries de fatores que isso envolve.

De volta, a dupla lança um olhar sobre o mesmo problema da violência e seus meandros, mas dessa vez incluindo com mais ênfase o ponto de vista político, dando outros ares ao filme. Ao mesmo tempo, o argumento da história procura desconstruir uma ideia feita sobre o Capitão Nascimento, visto por muitos como um herói em sua implacabilidade contra o crime (daí as acusações, errôneas, a meu ver, do filme ser fascista).

Se eu já gostava muito do primeiro trabalho, esse segundo se mostrou bem mais redondo, completo, dentro daquilo a que se dispõe discutir. O desencanto do Capitão Nascimento pelo próprio Bope enquanto instituição que estaria destinada a lutar infinitamente contra o tráfico se transfere agora para a esfera política da qual ele fará parte. Encontramos o personagem como subsecretário de segurança pública do Rio de Janeiro, contra sua vontade. A partir disso, ele fará um autoestudo de seus atos no batalhão e, dentro do novo sistema, vai mostrar o quanto ele é podre e corroído. Ou seja, está cercado de inimigos.

O subtítulo do filme, O Inimigo Agora é Outro, só reforça essa ideia de inadequação dentro do poder. E um dos maiores exemplos dentro do filme é de como as milícias estão intrinsecamente ligadas ao poder público, gerando ondas de corrupção que poucos conhecem. Da mesma forma, a mídia, usando a favor seu poder de persuasão e tomando para si a alcunha de “voz do povo”, apoia, sem o nosso conhecimento, esse mesmo sistema de corrupção que ninguém parece ver por estar tão por baixo do pano (e que a narrativa do filme se empenha em denunciar).

Curioso que a película comece com uma mensagem de que a narrativa é pura ficção. Parece até brincadeira porque tudo que o filme expõe está tão presente na nossa sociedade, seja na polícia, na política, no jornalismo, enfim, no nosso dia-a-dia, que “real” é a palavra que logo vem à mente, essa impressão de que o filme é muito próximo de nós, daquilo que nos é muito fácil entender que acontece nos bastidores do poder.

Se Wagner Moura, mais uma vez, reprisa uma performance cheia de vigor, todo o resto do elenco continua em total sintonia, ganhando ótimos reforços. Irandhir Santos talvez seja o melhor deles, trazendo força e ao mesmo tempo e equilíbrio a um personagem importantíssimo, o aspirante a deputado Fraga que funciona no filme como um sopro de renovação dentro da política.

Interessante pensar no encontro entre esses dois personagens, que se dá não só na esfera política, mas também dentro de um contexto familiar bastante importante no filme, uma vez que Fraga se encontra casado com a ex-mulher de Nascimento e quase ocupando o papel de pai do filho do ex-casal. Esse núcleo é importante para aproximar e criar um estudo maior dos personagens, num roteiro que equilibra (melhor que no primeiro filme) esses dois âmbitos.

Tecnicamente, só basta dizer que a competência do filme anterior retorna aqui com o mesmo apuro, talvez somente com uma trilha sonora mesmo impactante e uma fotografia menos pesada, mas da mesma forma eficiente. Sobressai um trabalho de montagem primoroso e uma qualidade da banda sonora que só traz orgulho para o nosso cinema. O mesmo tipo de orgulho por saber é que é possível, no Brasil, se realizar um filme importante não só pelo seu conteúdo, mas também pelo primor técnico. Tropa de Elite 2 merece todo o sucesso que vem alcançando. E o povo brasileiro precisa de mais filmes assim.

sábado, 6 de novembro de 2010

Profundezas da fantasia

Ponyo – Uma Amizade que Veio do Mar (Gake No Ue No Ponyo, Japão, 2008)
Dir: Hayao Miyazaki


O cinema de Hayao Miyazaki pode ser dividido entre aqueles filmes mais inocentes, claramente voltados para o público infantil (Meu Vizinho Totoro) e aqueles que possuem uma complexidade a mais inserida em meio à história (caso de A Viagem de Chihiro e O Castelo Animado). Mas, em ambas as propostas, existe um ponto de união: a defesa da fantasia, pura e simples, um verdadeiro louvor ao poder da imaginação.

E isso só parece ser possível porque seus personagens são, em maioria, crianças, as únicas que aceitam a fantasia sem estranheza. Ao mesmo tempo, essa fantasia também parte delas próprias como fontes inesgotáveis de imaginação fértil que lhes são próprias. Nesse sentido, Miyazaki seria uma eterna criança em corpo de adulto, pois o seu poder criativo parece ilimitado (e talvez só encontre pária – ou um pupilo, seria melhor – no cinema recente do mexicano Guillermo Del Toro).

Ponyo – Uma Amizade que Veio do Mar se enquadraria na primeira categoria citada acima, talvez um filme sem grandes pretensões, mas que defende a fantasia através da aventura da peixinha do título que, ao fugir do mar, conhece o garoto Sosuke. A amizade entre os dois se torna tão intensa que ela decide se tornar humana. Simples assim. Em Miyazaki, tudo parece muito ingênuo, ao alcance, basta que os personagens queiram. O fantasioso é tratado com a maior naturalidade possível, como se fosse um elemento próprio daquele ambiente, sem grandes (ou nenhuma) explicação.

E essa atmosfera se mostra propícia para que o diretor construa quadros de riquíssima beleza e detalhes, como quando, logo no início, ele nos apresenta um universo de criaturas que vive no fundo do mar, enchendo nossos olhos. Ou mesmo momentos delirantes quando uma onda gigante persegue o carro dos personagens, ou a fuga de Ponyo do submarino, libertando ao mesmo tempo vários outros seres deslumbrantes. E o que falar do surgimento luminoso da deusa do mar?


Outro ponto característico dos personagens de Miyazaki, presente nesse filme, é que muitos deles fogem do maniqueísmo (é bem fácil pensar que num filme voltado, inicialmente, para o público infantil, os personagens precisem ser divididos entre vilões e mocinhos). Pois aqui merecem destaque aquele que seria o “vilão” da história, esse ser de aparência humana, mas que vive no mar chefiando todas essas criaturas míticas, e quer trazer Ponyo de volta a todo custo. Mas seu desprezo pelos humanos é a razão por que não quer perder nenhum de seus “filhos” para os homens.

De longe, Ponyo – Uma Amizade que Veio do Mar pode parecer bobinho ou então simplório demais, uma fantasia puramente despretensiosa (embora conte com um roteiro que nunca se mostra previsível, partindo por caminhos inesperados, o que sempre é muito bom – e que lembra, inusitadamente, Michelangelo Antonioni). Mas talvez seja essa sensação de leveza o melhor de todo o filme, um conto de amizade e amor puros, conduzido pelas mãos mágicas de um mestre.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Filmes de outubro


1. O Último Mestre do Ar (M. Night Shyamalan, EUA, 2010) **

2. Dzi Croquettes (Tatiana Issa e Raphael Avarez, Brasil, 2009) ***½

3. Nova York, Eu Te Amo (Fatih Akin, Yvan Attal, Allen Hughes, Shunji Iwai, Wen Jiang, Shekhar Kapur, Joshua Marston, Mira Nair, Natalie Portman, Brett Ratner, Randall Balsmeyer, EUA/França, 2009) *½

4. O Último Exorcismo (Daniel Stamm, EUA/França, 2010) ***½

5. O Homem que Engarrafava Nuvens (Lírio Ferreira, Brasil, 2009) ***½

6. Estrada para Ythaca (Guto Parente, Luiz Pretti, Pedro Diógenes e Ricardo Pretti, Brasil, 2010) *½

7. Filhos de João, Admirável Mundo Novo Baiano (Henrique Dias, Brasil, 2010) ***

8. A Besta Deve Morrer (Claude Chabrol, França/Itália, 1969) ***½

9. Execução (Brillante Mendoza, Filipinas/França, 2009) ****

10. Ponyo – Uma Amizade que Veio do Mar (Hayao Miyazaki, Japão, 2008) ***

11. Eu Matei Minha Mãe (Xavier Dolan, Canadá, 2009) *½

12. Os Famosos e os Duendes da Morte (Esmir Filho, Brasil/França, 2009) **½

13. If... (Lindsay Anderson, Reino Unido, 1968) ***½

14. Ricky (François Ozon, França/Itália, 2009) ***

15. Almas à Venda (Sophie Barthes, EUA/França, 2009) *

16. Moscou (Eduardo Coutinho, Brasil, 2009) **½

17. Angel (François Ozon, Reino Unido/França/Bélgica, 2007) ***½

18. Machuca (Andrés Wood, Chile/Espanha/Reino Unido/França, 2004) **½

19. O Refúgio (François Ozon, França, 2009) ***

20. Lola (Brillante Mendoza, Filipinas/França, 2009) ****

21. London River – Destinos Cruzados (Rachid Bouchareb, Reino Unido/ Argélia/França, 2009) ***½

22. Tropa de Elite 2 – O Inimigo Agora é Outro (José Padilha, Brasil, 2010) ****½

23. Coco Chanel e Igor Stravinsky (Jan Kounen, França, 2009) **½

24. Karatê Kid (Harald Zwart, EUA/China, 2010) *


Revisões:

25. Psicose (Alfred Hitchcock, EUA, 1960) *****

26. Uma Noite em 67 (Renato Terra e Ricardo Calil, Brasil, 2010) ***½

27. No Meu Lugar (Eduardo Valente, Brasil, 2009) ***½

28. Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo (Karin Aïnouz e Marcelo Gomes, Brasil, 2009) ****

29. Persona (Ingmar Bergman, Suécia, 1966) ****½

30. A Onda (Dennis Gansel, Alemanha, 2008) ***

31. Linha de Passe (Walter Salles e Daniela Thomas, Brasil, 2008) ****½

32. A Cada Um Seu Cinema (Raymond Depardon, Takeshi Kitano, Théo Angelopoulos, Andrei Konchalovsky, Nanni Moretti, Hou Hsiao-hsien, Jean-Pierre e Luc Dardenne, Alejandro González Iñárritu, Zhang Yimou, Amos Gitai, Jane Champion, Atom Egoyan, Aki Kaurismäki, Olivier Assayas, Youssef Chahine, Tsai Ming Liang, Lars Von Trier, Raoul Ruiz, Claude Lelouch, Gus Van Sant, Roman Polanski, Michael Cimino, David Cronenberg, Wong Kar Wai, Abbas Kiarostami, Billie August, Elia Suleiman, Manoel de Oliveira, Walter Salles, Win Wenders, Chen Kaige, Ken Loach) ***½