sábado, 9 de outubro de 2010

Poucas palavras


Tarde um tanto insossa nesse dia que encerra a Mostra Cinema Conquista – Ano 6. As construções estéticas e propostas experimentais dos filmes até que chacoalham um pouco uma programação um tanto certinha demais. Mas os resultados, no fundo, não são dos mais animadores.


Três Palavras (BA/BR, 2010)
Dir: Gabriela Leite


Se exibido ontem à noite, esse Três Palavras faria uma bela dobradinha com Viajo Porque Preciso Volto Porque Te Amo, já que ambos compartilham a dor de amor de seus protagonistas, abandonados ou em crise de paixonite aguda. A diferença é que aqui o personagem vai sendo desenhado a partir de sua interação com um amigo que surge no meio da noite, enquanto o filme constrói um mistério em torno das três últimas palavras que a mulher deixou escritas num bilhete, a causa de toda a desilusão. O filme começa com toda uma angústia, mas vai perdendo o tom na medida em que os personagens precisam se expressar demais e seus dramas precisarem de maior sustentação. Mas o final em aberto (ou em progresso, como parece pedir o projeto) faz jus aos caminhos ainda tortuosos dos personagens.


PS: Um abraço a alguns amigos que fazem parte da equipe do filme, como o ator Paulo Anderson e compositor João Omar.

PPS: A noite de Conquista, fotografada em preto-e-branco, é um tanto medonha no filme.


Muro (PE/BR)
Dir: Tião


Funcionando mais como exercício de estilo, esse curta, premiado em Cannes na Quinzena dos Realizadores, trabalha com uma montagem paralela que embaralha tempo e espaço, apesar da ambientação e movimentação dos personagens e elementos de cena compartilharem certa semelhança cênica (como acontece de uma outra forma, mas com efeito parecido, em Superbarroco). Mas parece o tipo de filme que se pretende vender por seu final, que acaba reforçando o mesmo exercício de linguagem de toda sua proposta. Apesar de tecnicamente impecável, com um trabalho de capacitação de som fabuloso e minimalista, soa ainda vazio.


Estrada para Ythaca (CE/BR, 2010)
Dir: Guto Parente, Luiz Pretti, Pedro Diógenes e Ricardo Pretti



Estrada para Ythaca é o pior tipo de filme que se quer “cult”. Narrativa superlenta, muita câmera fixa, longos planos, longos momentos de silêncio e/ou sem explicações. Nada contra nenhum desses elementos, mas aqui tudo soa pretensioso demais e, o pior de tudo, extremamente vazio, sem propósito, o que leva ao cansativo.

Existem muitos filmes assim, mas alguns diretores conseguem imprimir conteúdo a isso, apesar do ritmo, coisa que os quatros cineastas que comandam o longa não conseguem. A própria idéia de quatro pessoas responsáveis não só pela direção, mas por todos os quesitos técnicos do filme (além de protagonizarem o longa, amigos tanto na vida real como na ficção) surge como suspeita de que faltou um pouco de pulso firme para dar forma ao todo.

Logo de início, o filme apresenta quatros amigos numa mesa de bar afogando as mágoas por conta da morte de um outro amigo querido. Logo, eles saem de carro e pegam a estrada para... para... para um lugar aí qualquer. Eles rumam ao desconhecido, sem motivo, sem conhecimento, sem perspectivas. A idéia da busca por esse lugar mítico, a Ythaca do título, não me parece uma coisa óbvia, pois eles mesmos não fazem essa referência.

(Em determinado momento cheguei a lembrar de Gerry, ótimo filme experimental de Gus Van Sant, talvez uma de suas mais radicais incursões, mas esse longa não tem a mesma força imagética, o mesmo estudo de linguagem).

Passamos por um momento em que o cinema contemporâneo “cabeça” aprendeu que quanto menos se explicar, menos se dizer, melhor para afirmar sua autoimportância. O problema do filme é que demora demais para que algo relevante aconteça, mesmo que em meio ao tom vagaroso.

Quando algo parece levar a história para outro rumo (incluindo aí um tom fantasioso bastante bem-vindo à narrativa), é tarde demais, já estamos no final de uma longa jornada que traz os personagens de volta ao mesmo lugar. E aí está um dos maiores erros da obra. Se em toda essa viagem não parece ter havido mudança, um aprendizado que faça justiça a todo aquele percurso, se os personagens voltam os mesmos (perdem somente as barbas?), pode-se considerar a viagem um fracasso.

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