quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Olhar de Criança


Infelizmente não pude assistir ao filme dessa tarde, que por sorte, já tinha visto anteriormente nos cinemas. Mutum é uma pérola de nossa filmografia atual pela forma simples e sutil com que se desenvolve. Deixo aqui um texto um pouco adaptado daquele que já tinha postado no blog anteriormente.


Mutum (RJ/BR, 2007)
Dir: Sandra Kogut



A estréia da diretora Sandra Kogut na ficção é uma grande surpresa. Adaptado da obra do escritor mineiro Guimarães Rosa, Mutum é um exemplo claro do quanto de beleza se pode extrair uma narrativa tão naturalista, mas emocionalmente intensa.

Não existe uma trama exata no filme, mas passamos a acompanhar o cotidiano do pequeno Thiago, garoto de 10 anos, e sua humilde família que vive numa região isolada no sertão de Minas Gerais, chamada Mutum. É através de seu olhar inocente que desvendamos o complexo mundo dos adultos, seus conflitos e percalços. Tais dramas atingem o garoto inevitavelmente, obrigando-o a um amadurecimento um tanto precoce.

O roteiro expira uma atmosfera de inocência tamanha que só poderia mesmo fazer parte do universo infantil; as brincadeiras, o teor frágil das conversas e aquelas risadas gostosas que são próprias da alma das crianças. No caso de Thiago, muito dessa inocência é interrompida pela necessidade de lidar com as conseqüências provocadas pelas ações dos adultos ao redor. Muitíssimo bem interpretado pelo jovem Thiago da Silva Mariz, o protagonista não tem culpa dos atos de seus familiares, mas mesmo assim sofre os danos de tais atos, tendo que ser “expulso” de seu mundo particular.

Além disso, o texto é de uma sutileza incrível e aposta na sensibilidade do público para conduzir a história, sem nunca cair no exagero (a morte de determinado personagem, por exemplo, é extremamente tocante, mas nunca soa forçada). O filme aposta também na ótima química entre os atores, quase todos desconhecidos do grande público (salvo o sempre ótimo João Miguel interpretando o pai de Thiago) e que possuem uma familiaridade muito grande com o ambiente da fazenda. O elenco foi majoritariamente escolhido entre os moradores das regiões das filmagens.

Com câmera na mão, fotografia natural e privilegiando o som ambiente, com o devido respeito aos silêncios, Kogut transmite leveza ao filme, que não deixa de possuir densidade dramática nos momentos certos. Simples e denso. Complexo e leve; mas acima de tudo, inocente.

8 comentários:

Anônimo disse...

Já tinha dito que era excelente. Mantenho a opinião

Rafael Carvalho disse...

Até agora, o melhor filme da Mostra pra mi Iulo. E você não foi rever né?

Anônimo disse...

Nem pude, estava trabalhando. Mas queria muito ter ido

Anônimo disse...

Tive muita curiosidade em relação a esse filme desde que estreou comercialmente aqui no Brasil - em poucas salas, para variar. Espero ver em DVD em breve, muita gente achou que esse deveria ser nosso representante ao Oscar.

Rafael Carvalho disse...

Já tinha lhe dito Iulo, fingia uma dor de barriga e pedia dispensa. Ninguém ia notar. Não faz nada mesmo no trabalho...

Muita gente inclusive eu Vinícius. Acho o filme de uma sensibilidade imensa, coisa rara vista no cinema nacional. Vale muito a pena não só ser visto como também sentido. Imaginei até que já estava nas locadoras.

Anônimo disse...

Oxe, eu sou vagal, é? Hahaha

Quanto ao filme sair em DVD, acho difícil que saia por agora. Pelo menos deve demorar de chegar aqui

Rafael Carvalho disse...

Mutum é do ano passado e já devia estar nas locadoras há muito tempo, Iulo. Mas filme nacional tem dessas dificuldades.

Anônimo disse...

É, eu sei que é do ano passado e afins. Mas - como você mesmo diz - filme nacional tem dessas dificuldades