segunda-feira, 19 de novembro de 2007

A força da fé


Batismo de Sangue (BR/FR, 2007)
Dir: Helvécio Ratton


Mesmo com problemas de interrupção na projeção de Batismo de Sangue ontem à noite no segundo dia da Mostra, a noite foi agradável. Principalmente pela presença de Frei Fernando, personagem do filme, e do ator Léo Quintão, que interpreta o próprio frei, para apresentar e discutir o filme. E atambém porque o início do película me deu a impressão de que a história desandaria em algum momento. Muito se falou também que as cenas de tortura soaram forçadas, mas não me decepcionaram.

Adaptado do excelente livro homônimo de Frei Beto, tomamos conhecimento da história real de freis dominicanos em São Paulo engajados na luta contra o sistema ditatorial ao fim dos anos 60 e que passaram a ajudar os grupos de guerrilha liderados por Carlos Marighella. Os Freis Tito, Fernando, Ivo e o próprio Beto são os personagens que guiam a narrativa e passam pela dor da tortura física e psicológica.
E se muita gente achou que essas cenas foram pesadas, é uma pena ter de admitir que aquele tipo de situação aconteceu de fato, com toda aquela brutalidade e repetidas vezes. Talvez esse tipo de imagem já tenha sido bastante explorada pelo cinema brasileiro, o que não significa que deva ser ignorada. Ao contrário, a História nunca deve ser esquecida, principalmente pelo povo brasileiro que possui memória curta.

Mesmo assim, a direção me pareceu um pouco primária na formas tradicional de conduzir as cenas e de ligá-las, além de algumas falas pouco naturais. Compensa o nível alto das atuações, com destaque para Caio Blat vivendo um corajoso Frei Tito, que ao fim de sua vida foi consumido pelo fantasma da tortura e se matou. A cena da missa celebrada de forma precária na prisão é uma confirmação de como a fé movia aqueles personagens.

8 comentários:

Alex Gonçalves disse...

Rafael, encontrou a Andressa pelo caminho, pois acabo de comentar no Cinematógrafo sobre esta mostra que vocês foram.

Acho que "Batismo de Sangue" já está disponível em DVD por aqui.
Vou tentar ler a entrevista que você fez com o diretor Edgard Navarro.

Rafael Carvalho disse...

Pois então Alex, eu e Andressa estamos trabalhando juntos no jornal impresso do evento. Na verdade, estudamos jornalismo na mesma sala. Ou seja, nós dividimos o blog mas continuamos bons amigos.

Realmente, Batismo já pode ser encontrado nas locadoras. Vale a pena ser visto. E a entrevista com o Navarro foi feita meio que no susto, mas ficou legal.

Gustavo H.R. disse...

Tenho opinião similar quanto às virtudes e defeitos desse bom - e até ouso dizer, injustamente ignorado - filme.
Blat é o destaque do elenco.
As críticas às cenas de tortura são estranhas. Se Ratton as tivesse "suavizado", não teriam caído em cimado mesmo jeito?

Unknown disse...

adorei o filme, tenho admiração por todos os retratos que consigo da ditadura
acredito que as cenas de tortura estão na dose certa, como o proprio Feei disse ao comentra o filme: "a tortura foi muito pior", portanto o filme não está exagerado, mas sim, mais próximo da realidade do que qualquer outro
me pareceu um pouco primário também, alguns diálogos parecem forçados, além de uma narrativa muito rápida, muitas informações e poucas vezes as relações entre elas estavam explicitas
mesmo assim recomendo a todos, assitam. a história é sensacional!

Rafael Carvalho disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Rafael Carvalho disse...

Sem falar, Gustavo, que fica muito difícil "suavizar" cenas de tortura. Choca porque a verdade é dura, mas a gente tem de se confrontar com isso. Faz parte de nossa História.

E Chu, tirando os defeitos de narrativa, é um excelente retrato desse período histórico, principalmente porque temos no filme uma visão do lado religiosos, um diferencial em filmes dessa temática.

Anônimo disse...

infelizmente esses terroristas são retratados como heróis, quando queriam, na verdade, colocar aqui uma Ditadura do Proletariado.
Obrigado aos militares que nos salvaram dessa!
Ainda que a tortura, se houve mesmo, seja reprovável.
Mas os mocinhos eram os de verde. Nâo se enganem.

Rafael Carvalho disse...

Hahahaha. Muito boa essa "Anônimo" (Anônimo de quê, mesmo?), eu até entendo que muita gente gosta de remar contra a maré simplesmente para ser do contra, e daí acaba saindo esse tipo de bizarrice que fica bastante claro em seu comentário. Mas é uma visão interessante, porque não vou muito com a cara da tal "Ditadura do Proletariado". Digo, não vou com a cara de nehum governo militar, por isso não tenho nada a agardecer aos militares porque nada justifica um governo autoritários e antidemocrático.

E é até romântico (para não dizer maniqueísta) dividir o mundo em mauzinhos e bonzinhos. E a tortura, quer dizer, se houve mesmo tortura porque as infinitas provas de prisões e desaparecimentos, perseguições, mandatos de "intimidação" e morte, os vários depoimentos de pessoas que passaram por isso (e não somente aqui no Brasil, como em quase toda a América Latina) e também dos parentes de pessoas que simplesmente sumiram do mapa (parece até mágica; para mim esse, sim, que foi o tal "milagre brasileiro"), esse tipo de coisa não prova lá muuuuuuita coisa assim, né! Longe de mim pensar isso!!

Então, a tortura acaba sendo ter de ouvir esse tipo de comentário seu tão ingênuo. Mas enfim, não se pode haver acordo em tudo, embora um pouco de bom senso não faz mal a ninguém.