Dir: Walter Carvalho
Em determinado momento de Raul Seixas – O Início, o Fim e o Meio, me incomodou demais uma cena em que, durante uma entrevista com Paulo Coelho, o entrevistado fecha a porta de sua casa, depois de já ter falado no filme (transparecendo a ideia de que a conversa tinha acabado). Mas minutos depois surge o escritor novamente dando continuidade a seu depoimento. O que poderia parecer um erro de montagem (e o filme realmente tem alguns), na verdade, logo me deu uma sensação de descontinuidade, justamente o que o título parece querer traduzir (o fim antes do meio) como se a vida de Raul Seixas, tão atribulada, não pudesse ser contada de forma comum, linear.
Nesse sentido, é pertinente pensar então num documentário que seguisse uma narrativa mais livre, fora de padrões, que se permitisse mais em ousar, anarquizar e chacoalhar como o próprio biografado fez em toda sua vida e carreira, fonte de sua própria inspiração criativa e artística. Mas o filme de Walter Carvalho tem poucos desses momentos de inventividade maior, preferindo muitas vezes o caminho convencional do documentário mais clássico. Não que isso seja um demérito, mas por vezes o filme ensaia algo que pudesse partir para novas possibilidades narrativas, mas nunca concretizadas.
Daí que o longa se vale bastante do rico acervo de imagens e, principalmente, dos depoimentos de muitas pessoas que viveram muito próximas de Raul em diversos momentos de sua vida. Acertadamente, o filme busca conferir-lhe o status merecido de mito da música brasileira, um dos ícones do rock nacional, que imprimiu uma marca bastante pessoal e revolucionária na sua música, servindo como ponto de referência. Embora o tom de reverência seja evidente, algo que no fundo não merece condenação, o personagem é também desnudado em suas fragilidades e desacertos, mas sem julgamentos.
E um dos maiores acertos do longa é de não focar somente na herança musical de Raul (sua mistura do rock de Elvis Presley e o baião de Luis Gonzaga era algo de genioso), mas também tentar entender um pouco de sua personalidade marcante, o que de certa forma contribuiu para a fama e popularização de seu trabalho. A alcunha de “maluco beleza” seria, portanto, o fruto de um quase estilo de vida, tendo a própria música de Raul e suas letras poético-filosóficas como manifesto desse modo de viver.
Ainda que Walter Carvalho, um dos maiores diretores de fotografia em atividade no Brasil, já tenha dirigido, no campo do documentário, o interessante Moacir – Arte Bruta e codirigido com João Jardim o belo Janela da Alma, ele ainda peca no autocontrole. Parece sobrar no filme alguns momentos que soam bastante deslocados. É o caso dos depoimentos de Daniel de Oliveira (extremamente dispensável), a fala e composição exagerada de Pedro Bial, o aparecimento mudo de Zé Ramalho, a mulher que teatraliza a entrada numa piscina (?!?) e mesmo o cover de Raul que abre o filme, mas não tem muito a dizer quando aparece depois. É como se houvesse um certo apego do diretor por determinados entrevistados e cenas, mas que não acrescentam muita coisa ao filme (que se alonga um tanto demais, por sinal). Merecia, portanto, uma montagem mais zelosa.
Caindo aqui e ali em ritmo em alguns momentos, Raul Seixas – O Início, o Fim e o Meio consegue ser um belo retrato biográfico desse ícone da cultura nacional, tendo como grande aliado o talento de Raul e o interesse por sua história. Poderia se arriscar mais como parece ser o intento inicial, mas sempre cai no classicismo, realizando ainda assim um bom trabalho. Porque para Raul, a porta nunca estará fechada.
Em determinado momento de Raul Seixas – O Início, o Fim e o Meio, me incomodou demais uma cena em que, durante uma entrevista com Paulo Coelho, o entrevistado fecha a porta de sua casa, depois de já ter falado no filme (transparecendo a ideia de que a conversa tinha acabado). Mas minutos depois surge o escritor novamente dando continuidade a seu depoimento. O que poderia parecer um erro de montagem (e o filme realmente tem alguns), na verdade, logo me deu uma sensação de descontinuidade, justamente o que o título parece querer traduzir (o fim antes do meio) como se a vida de Raul Seixas, tão atribulada, não pudesse ser contada de forma comum, linear.
Nesse sentido, é pertinente pensar então num documentário que seguisse uma narrativa mais livre, fora de padrões, que se permitisse mais em ousar, anarquizar e chacoalhar como o próprio biografado fez em toda sua vida e carreira, fonte de sua própria inspiração criativa e artística. Mas o filme de Walter Carvalho tem poucos desses momentos de inventividade maior, preferindo muitas vezes o caminho convencional do documentário mais clássico. Não que isso seja um demérito, mas por vezes o filme ensaia algo que pudesse partir para novas possibilidades narrativas, mas nunca concretizadas.
Daí que o longa se vale bastante do rico acervo de imagens e, principalmente, dos depoimentos de muitas pessoas que viveram muito próximas de Raul em diversos momentos de sua vida. Acertadamente, o filme busca conferir-lhe o status merecido de mito da música brasileira, um dos ícones do rock nacional, que imprimiu uma marca bastante pessoal e revolucionária na sua música, servindo como ponto de referência. Embora o tom de reverência seja evidente, algo que no fundo não merece condenação, o personagem é também desnudado em suas fragilidades e desacertos, mas sem julgamentos.
E um dos maiores acertos do longa é de não focar somente na herança musical de Raul (sua mistura do rock de Elvis Presley e o baião de Luis Gonzaga era algo de genioso), mas também tentar entender um pouco de sua personalidade marcante, o que de certa forma contribuiu para a fama e popularização de seu trabalho. A alcunha de “maluco beleza” seria, portanto, o fruto de um quase estilo de vida, tendo a própria música de Raul e suas letras poético-filosóficas como manifesto desse modo de viver.
Ainda que Walter Carvalho, um dos maiores diretores de fotografia em atividade no Brasil, já tenha dirigido, no campo do documentário, o interessante Moacir – Arte Bruta e codirigido com João Jardim o belo Janela da Alma, ele ainda peca no autocontrole. Parece sobrar no filme alguns momentos que soam bastante deslocados. É o caso dos depoimentos de Daniel de Oliveira (extremamente dispensável), a fala e composição exagerada de Pedro Bial, o aparecimento mudo de Zé Ramalho, a mulher que teatraliza a entrada numa piscina (?!?) e mesmo o cover de Raul que abre o filme, mas não tem muito a dizer quando aparece depois. É como se houvesse um certo apego do diretor por determinados entrevistados e cenas, mas que não acrescentam muita coisa ao filme (que se alonga um tanto demais, por sinal). Merecia, portanto, uma montagem mais zelosa.
Caindo aqui e ali em ritmo em alguns momentos, Raul Seixas – O Início, o Fim e o Meio consegue ser um belo retrato biográfico desse ícone da cultura nacional, tendo como grande aliado o talento de Raul e o interesse por sua história. Poderia se arriscar mais como parece ser o intento inicial, mas sempre cai no classicismo, realizando ainda assim um bom trabalho. Porque para Raul, a porta nunca estará fechada.
2 comentários:
Gosto do Raul Seixas e acho que ele deve ser um personagem interessantíssimo para um documentário. Se bem trabalhado, pode dar uma boa história. Ainda não assisti a este filme para saber se este é o caso. Pelo seu texto, parece ser um trabalho bem sólido.
Kamila, tem solidez em alguns momentos, mas em outros parece que faltou uma mão mais firme do Walter Carvalho. De qualquer forma, fas jus ao trabalho do maluco beleza.
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