sábado, 20 de outubro de 2012

Mostra SP – Abertura Oficial



Agora sim, foi dada a largada oficial para a 36ª Mostra Internacional de Cinema São Paulo. A abertura aconteceu antes de ontem à noite com a exibição do filme chileno No. Dentre as presenças de políticos, patrocinadores, realizadores, produtores e jornalistas, Renata de Almeida, viúva do idealizador da Mostra, Leon Cacoff, morto ano passado, assume agora a diretoria do evento. Foi aplaudida de pé e elogiada pelo trabalho de por em marcha um evento desse porte, saudando mais uma Mostra que revela sua força como acontecimento cinéfilo de referência. Que os próximos 15 dias sejam frutíferos.

Abaixo, texto sobre o ótimo filme de abertura.


No (Idem, Chile/França/EUA, 2012)
Dir: Pablo Larraín


 
Depois de ter feito o ótimo
Tony Manero e o ainda melhor Post Mortem, havia grandes expectativas para o filme seguinte do chileno Pablo Larrraín. No é esse filme, contundente e sóbrio, fugindo do panfletarismo, apesar de se aproximar bem mais de uma mensagem política esquerdista. A obra marca o fim da trilogia composta pelos trabalhos anteriores sobre o regime ditatorial no Chile de Augusto Pinochet.

Mas diferente dos demais, em No o tema político é marca central. Nos filmes anteriores, os protagonistas, sempre anti-heróis cínicos, viviam à parte dessas questões, embora o contexto sócio-político fizesse toda a diferença em suas vidas, e era com esse material que o diretor realizava duras críticas e denúncias aos regimes militares. Já em No adentramos o universo da disputa publicitária envolvendo o plebiscito encomendado por Pinochet para saber se o povo ainda queria ou não o general no poder. O publicitário René Saavedra (Gael García Bernal) se vê liderando a campanha pelo “Não”.

Com esse tom mais direto, o filme perde o subtexto de acidez subentendida, tendo que deixar sua mensagem de repúdio ao governo autoritário e às atrocidades por ele cometidas de forma mais explícita, direta. No carrega em sua natureza uma proposta claramente oposicionista. Mas Larraín sabe não ser panfletário, um simples denuncista do regime, apesar de estar justamente nesse lado da questão. Os melhores momentos do filme são as realizações e discussões dos programas televisivos da campanha, fazendo ver as estratégias que pegam emprestadas as artimanhas da publicidade.

Mas existe ainda outra grande distinção desse filme para os demais da trilogia, residindo aí seu charme: ele foi rodado com uma câmera U-matic, similar àquela utilizada nas produções televisivas da década de 80, o que dota a imagem do filme de uma estética de vídeo envelhecida. A desculpa é que assim o diretor poderia utilizar as imagens das campanhas reais exibidas na TV sem deixá-las tão diferentes das de alta definição que temos hoje, mantendo assim uma unidade estética de textura.

Mas Larraín também aproveita para fazer um filme à moda antiga, resgata um tempo de opressão e aproxima o espectador daquele universo nebuloso e incerto, tão instável como a imagem tremulante do filme. Não chega a ser um trabalho tão contundente quanto os demais do cineasta, mas é um retrato cru de um país que sofreu com o mal das ditaduras militares. Não é a resposta mais óbvia a essa tendência.

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