Agora sim, foi dada a largada oficial para a 36ª Mostra Internacional de Cinema São Paulo. A abertura aconteceu antes de ontem à noite com a exibição do filme chileno No. Dentre as presenças de políticos, patrocinadores, realizadores, produtores e jornalistas, Renata de Almeida, viúva do idealizador da Mostra, Leon Cacoff, morto ano passado, assume agora a diretoria do evento. Foi aplaudida de pé e elogiada pelo trabalho de por em marcha um evento desse porte, saudando mais uma Mostra que revela sua força como acontecimento cinéfilo de referência. Que os próximos 15 dias sejam frutíferos.
Abaixo,
texto sobre o ótimo filme de abertura.
No (Idem,
Chile/França/EUA, 2012)
Dir:
Pablo Larraín
Depois de ter feito o ótimo Tony Manero e o ainda melhor Post Mortem, havia grandes expectativas para o filme seguinte do chileno Pablo Larrraín. No é esse filme, contundente e sóbrio, fugindo do panfletarismo, apesar de se aproximar bem mais de uma mensagem política esquerdista. A obra marca o fim da trilogia composta pelos trabalhos anteriores sobre o regime ditatorial no Chile de Augusto Pinochet.
Mas
diferente dos demais, em No o tema
político é marca central. Nos filmes anteriores, os protagonistas, sempre
anti-heróis cínicos, viviam à parte dessas questões, embora
o contexto sócio-político fizesse toda a diferença em suas vidas, e era com esse material que o
diretor realizava duras críticas e denúncias aos regimes militares. Já em No adentramos o universo da disputa
publicitária envolvendo o plebiscito encomendado por Pinochet para saber se o
povo ainda queria ou não o general no poder. O publicitário René Saavedra (Gael
García Bernal) se vê liderando a campanha pelo “Não”.
Com
esse tom mais direto, o filme perde o subtexto de acidez subentendida, tendo
que deixar sua mensagem de repúdio ao governo autoritário e às atrocidades por
ele cometidas de forma mais explícita, direta. No carrega em sua natureza uma proposta claramente oposicionista.
Mas Larraín sabe não ser panfletário, um simples denuncista do regime, apesar
de estar justamente nesse lado da questão. Os melhores momentos do filme são as
realizações e discussões dos programas televisivos da campanha, fazendo ver as estratégias
que pegam emprestadas as artimanhas da publicidade.
Mas
existe ainda outra grande distinção desse filme para os demais da trilogia,
residindo aí seu charme: ele foi rodado com uma câmera U-matic, similar
àquela utilizada nas produções televisivas da década de 80, o que dota a imagem
do filme de uma estética de vídeo envelhecida. A desculpa é que assim o diretor
poderia utilizar as imagens das campanhas reais exibidas na TV sem deixá-las tão
diferentes das de alta definição que temos hoje, mantendo assim uma unidade
estética de textura.
Mas
Larraín também aproveita para fazer um filme à moda antiga, resgata um tempo de
opressão e aproxima o espectador daquele universo nebuloso e incerto, tão
instável como a imagem tremulante do filme. Não chega a ser um trabalho tão
contundente quanto os demais do cineasta, mas é um retrato cru de um país que
sofreu com o mal das ditaduras militares. Não é a resposta mais óbvia a essa
tendência.
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