Truman
(Idem, Espanha/Argentina, 2015)
Dir:
Cesc Gay
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Poderia
ser uma chuva de apelações, mas o roteiro do filme tem o cuidado de dimensionar
muito bem os conflitos que surgem, todos muito críveis, traz personagens
carismáticos, diálogos afiados e situações inusitadas. Dúvida crucial que ele
tem de resolver é com quem deixar seu fiel amigo, o cão Truman. Impossível não
gostar de um personagem nesse estado de saúde se preocupando com um cachorro.
O
diretor é o catalão Cesc Gay que já havia demonstrado saber lidar bem com esse
tipo de história de apelo popular e tratamento narrativo cuidadoso, vide o bom O que os Homens Falam, espécie de
comédia romântica de viés masculino. O aclamado Darín, sucesso por onde passa, divide
a cena com outro grande ator, o espanhol Javier Cámara (de filmes almodovarianos
como Fale com Ela e Os Amantes Passageiros). É o encontro
entre os dois, velhos amigos, que trazem à tona o momento de despedida do
protagonista.
O
filme está na linha tênue entre abusar do melodrama para emocionar diretamente
o espectador com os encontros, despedidas e rememorações, e a sobriedade de tratar de tema tão duro. Escapa do
desastre muitas vezes pelo carisma e pela sinceridade do texto. É um filme que
angaria muito facilmente a simpatia do espectador, sem abusar de sua boa vontade, o
que já é grande coisa.
Sangue do Meu
Sangue
(Sangue del Mio Sangue, Itália/França/Suíça, 2015)
Dir:
Marco Bellocchio
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O
filme acompanha os meandros do jogo religioso que abafa seus escândalos, observados
de longe pelo irmão do monge que tenta tirar de Benedettta a confissão. Mas isso
parece muito pouco para o cineasta. Ou antes, a denúncia das luxúrias na rotina
religiosa pode soar, de alguma forma, já ultrapassada.
Daí
que Bellocchio sai de certa zona de conforto e joga seu filme num outro tempo,
numa outra história. Trata-se de uma mudança brusca não só por encontrar
personagens nos dias atuais, ambientado no mesmo casarão que outrora foi o
mosteiro palco dos acontecimentos anteriores, mas também pelo tom. Há agora um
clima um tanto sombrio, via personagem que se revela um velho vampiro que vive
na casa, fora o tom jocoso do homem que quer comprar a propriedade.
Por
vezes fica a impressão de que essa mudança é um mero capricho, truque de roteiro
para “brincar” com as possibilidades narrativas daquela história, um desvio de
atenção. Isso porque aquilo que está no cerne da questão para o filme é
resgatado justo nos momentos finais. Ali Bellocchio acredita no desejo como
força de vida (divina?) para o ser humano, para a vitalidade do corpo e da
alma. O desejo salva.
O Clã (El Clan,
Argentina/Espanha, 2015)
Dir:
Pablo Trapero
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O
filme está o tempo todo do lado de dentro desse núcleo familiar, observando como
se estrutura aquela rotina sádica (os raptados ficam presas em cômodos escondidos
na própria casa da família), enquanto a vida de cada um segue. Não se trata de vilanizá-los,
nem de compreendê-los, mas de não transformar o filme num mero denuncismo ou
maniqueísmo uma vez que aqueles atos já são hediondos por si sós.
Ainda
assim, Trapero consegue ironizar aquela situação, muito por conta de uma trilha
sonora que remete a certa jovialidade rocker,
que demarca uma época, mas também contrapõe certo bem estar social a práticas
criminosas. O diretor continua seu belo trabalho de encenação, com câmera
elegante e cada vez mais sutil, o que lhe valeu um merecido prêmio de melhor diretor
no último Festival de Veneza. Talvez o porém fique por conta de uma montagem
que antecipa certas situações e tira a força do clímax do filme.
O Clã ainda faz
lembrar da grande qualidade do cinema argentino atual em remexer e olhar para
sua História recente, para as mazelas sociais e políticas de há relativamente
pouco tempo, de maneira corajosa, crítica, revisional. Vale lembrar que a então
Argentina acabava de sair de um regime ditatorial. Talvez por isso, o filme
seja tão caro aos próprios argentinos, o que justifica o imenso sucesso de
público que tem feito por lá. E merecido.
À
Sombra de uma Mulher (L'Ombre
des Femmes, França/Suíça, 2015)
Dir:
Philippe Garrel
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Aqui,
Paris é o palco das dores de amor de um casal que vive bem um relacionamento de
proximidade, trabalham em união nos documentários que ele dirige, ainda que
precisem de outros subempregos. A história ganha cores dramáticas quando ele
começa a ter um caso extraconjulgal que lhe agrada muito, ainda que continue a
adorar a vida com a esposa.
O filme segue a
estrutura das reviravoltas, com direto a descobertas e trocas de farpas, ainda
que a questão pareça ser outra. No início do filme, a mulher chega a revelar
como lhe agrada uma vida de entrega ao marido, à sombra dele. Mas o título do
filme sugere o contrário, e veremos como, aos poucos, esse homem sucumbe, exige
muito da outra parte sem querer ceder e lida mal com as atitudes dessa mulher,
sem conseguir acompanhar sua maturidade emocional. No fundo, a mensagem é muito clara aqui: mulher é maior que homem, apesar do amor ser maior que
ambos.
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