domingo, 20 de outubro de 2013

Mostra SP – abertura



Inside Llewyn Davis
(Idem, EUA/França, 2013)
Dir: Joel Coen e Ethan Coen


 
Um traço de melancolia marcou a abertura dessa 37ª Mostra SP. Inside Llewyn Davis, que recebeu no Brasil o apropriado subtítulo Balada de um Homem Comum (nem precisava do título em inglês), carrega esse espírito de tristeza que marca a trajetória cambaleante de seu protagonista. Ele é um cantor de folk music que vive nos Estados Unidos do início dos anos 1960 na era pré-Dylan. Quer fazer sucesso, mas não consegue.

Llewyn Davis (Oscar Isaac) é um ser errante. Seu olhar entristecido revela o homem que esbarra nas dificuldades de alavancar a carreira e também nos problemas cotidianos, com a habitual falta de grana e o fato de sempre precisar dormir na casa de alguém a cada noite. Vive como em um mundo paralelo, sempre se dando mal. A própria música que canta é um reflexo de um estado de espírito carregado de tristeza.

Mas é com a bela fotografia de Bruno Delbonnel que o filme melhor consegue traduzir esse mundo soturno em que vive (ou vaga) o personagem. Vez ou outra há uma ponta luminosa de esperança, como o encontro que ele consegue com um importante produtor musical, mas no geral o ar soturno ronda esse músico talentoso, cuja vida lhe dá poucas chances.

Mas não seria um filme dos Coen se não houvesse nesse entremeio boas pitadas de humor negro. Llewyn se aproxima muito dos personagens idiotas que transitam na obra dos diretores, como que à mercê das circunstâncias fatídicas que fazem de suas vidas um emaranhado de caminhos errados, embora haja aqui ainda uma grande dignidade para com esse músico tentando sobreviver na selva do mercado musical.

É aí que ganha força alguns personagens secundários, como elementos que interferem na vida do protagonista sem muita piedade. É o caso da enervante Jean (Carey Mulligan), a namorada de um amigo com que me ele teve um caso, quase esmagando o protagonista a cada frase que diz. Ou o excêntrico Roland Turner, vivido por um inspiradíssimo John Goodman.

O novo filme dos irmãos Coen é, portanto, mais um pilar sólido dentro de uma obra já madura. Aqui, por exemplo, os diretores brincam muito bem com a montagem, seja na decupagem das cenas, no timing exato de cada corte, seja na não-linearidade com que a narrativa é conduzida. Tudo feito com muita segurança, apesar de não ser um filme de grandes momentos. Nem é um grande momento para Llewyn Davis, fadado a continuar apanhando da vida.

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