terça-feira, 21 de maio de 2013

Festival In-Edit – Parte I





A Batalha do Passinho – O Filme (Idem, Brasil, 2012)
Dir: Emílio Domingos


Para além de um filme exótico sobre uma certa febre de dança aparentemente esquisita, A Batalha do Passinho é um filme bastante rico no que concerne a toda uma cultura que se desenvolve nos morros cariocas tendo o funk como viés norteador. Longe de focar na violência dos bailes e no conteúdo duro de suas letras, o impressionante aqui é ver como garotos criam e executam movimentos incríveis para dançar funk. É vendo pra acreditar na desenvoltura dos meninos com seus estranhos movimentos de pés e corpo.

O diretor Emílio Domingos está interessado não só na dança em si e nos campeonatos que rondam aquela cultura (sendo o desenvolvimento desses a base estrutural do filme), mas também em questões outras que envolvem aquele grupo de garotos da periferia e sua arte. Estão lá questões como a predominância dos meninos na dança, o interesse que eles despertam nas garotas, a vaidade pessoal deles, a apropriação de trejeitos afeminados por parte de alguns, o papel da internet e das redes sociais como difusoras de informações e troca de conteúdos, especialmente de vídeos. Tudo isso surge como um estudo interessante sobre a forma como essas atividades se estabelecem no ambiente da favela e se expandem a partir dali.

Como documentário tradicional, funciona como forma de contato com toda a cultura do passinho, num ambiente por si só já muito estereotipado e distante do apelo da grande mídia. Embora não seja intenção levantar uma bandeira social, ela está lá na própria configuração e fascinação da câmera por esses movimentos estranhos, mas atraentes, que o passinho proporciona e tudo aquilo que carrega em seu entorno. O filme dá voz àqueles que se articulam em torno da dança. É ela que os fazem melhores dentro de uma realidade já bastante dura.


Um Filme para Dirceu (Idem, Brasil, 2012)
Dir: Ana Johann


Dirceu pensa em ser um grande cantor, fazer sucesso e ser conhecido. Quer também que sua história vire um filme, como em 2 Filhos de Francisco. No interior do Paraná, o gaiteiro Dirceu (gaita é como se chama a “sanfona” no Sul) sonha alto, depois que uma paralisia nas pernas durante a adolescência quase o deixou paraplégico. A diretora Ana Johann resolve então realizar pelo menos o sonho do filme, mas de forma documental, acompanhando os passos desse homem singelo, mas persistente e cheio de vontades.

Dirceu se esforça para continuar na trilha musical, tocando em pequenos shows, participando de concursos e levando de baixo do braço o projeto de captação de recursos para realizar seu filme. Não era um documentário que ele queria (no início, inclusive, vemos uma encenação da abertura do filme sobre si mesmo que Dirceu tem na cabeça), por isso não é um filme sobre, mas para (lição aprendida com Wim Wenders, presume-se) Dirceu. É como um filme-presente que acaricia seu documentado, indo aonde ele quer ir, em busca de realizar seus sonhos, que se revelam cada vez mais distantes e difíceis.

É por isso mesmo um projeto corajoso porque não há nada de enganador nele. Dirceu conhece as barreiras e nem está ali com a promessa de uma realização de seus planos. De qualquer forma, a narrativa é carinhosa com seu personagem errôneo, tentando captar sua inquietação e suas investidas, mesmo que nem sempre consistentes, mas sem nunca julgá-lo nem julgar suas chances de sucesso. Era o filme possível.


Neil Young Journeys (Idem, EUA, 2011) 
Dir: Jonathan Demme


Neil Young Journeys soa como um filme de fã para fãs. Jonathan Demme é um ótimo cineasta, mas como documentarista parece bastante preguiçoso. Aqui ele se contenta em filmar Young em seus shows, cantando e tocando músicas inteiras, e conversa ocasionalmente com ele enquanto passeiam de carro na cidade natal do cantor, no Canadá. Não nos oferece muita coisa em termos de cinema.

O fato desse ser o fecho de uma trilogia que o diretor fez sobre o músico (os outros filmes são Neil Young: Heart of Gold e Neil Young Trunk Show, lançados em 2006 e 2009, respectivamente) talvez deponha a favor de um filme que se fascina pela imagem dessa lenda do rock fazendo aquilo que o tornou famoso. E não há nada contra o estabelecimento da imagem pura de alguém contando e tocando suas músicas, entretendo o público. A Música Segundo Tom Jobim é todo construído em cima disso e é um estudo fascinante sobre o poder da música de um certo artista. Aqui é diferente porque não parece brotar muita coisa desse registro puro e simples, para além da imagem de um homem solitário no palco defendendo sua arte.

Pior ainda é quando Demme posiciona sua câmera abaixo do microfone de Young, captando um take de gosto duvidoso, ou quando vez ou outra divide a tela com imagens em ângulos quase idênticos de Young tocando guitarra. Os melhores momentos do filme estão nas apresentações finais em que Young revela uma epifania em determinados momentos, seja com a voz ou com instrumentos musicais, o vislumbre que temos aí de um virtuose da música. Mas esse é um mérito do músico e não do cineasta.

2 comentários:

Leandro Afonso disse...

Desses só vi o de Neil Young, que é muito mais dele que de Jonathan Demme mesmo. O que não seria necessariamente um demérito, se não fosse a aparente preguiça. Bingo.

Rafael Carvalho disse...

É um tipo de filme sem personalidade, e ele tinha cacife pra fazer um com.