domingo, 26 de maio de 2013

Festival In-Edit – Parte II

 


Searching for Sugar Man
(Idem, Reino Unido/Suécia, 2012)
Dir: Malik Bendjelloul 


Um personagem incrível revelado aos poucos por uma construção de trajetória realmente exemplar, via roupagem documental muitíssimo bem arranjada. Searching for Sugar Man é esse trabalho vigoroso, recente vencedor do Oscar de Documentário, um verdadeiro achado de manipulação da linguagem em prol do contar uma boa história. Se é muito comum que a ficção ancore-se nos artifícios documentais para dar maior sustentação de realismo aos filmes, é interessante como, no processo inverso, o documentário também empresta da ficção certas ferramentas narrativas, o que encontramos aqui.

O longa nos apresenta a busca pelo cantor e compositor americano, de ascendência mexicana, que começou uma carreira promissora no ramo artístico no início dos anos 1970, mas que não conseguiu emplacar comercialmente e acabou sendo eclipsado pela própria indústria. Mal sabia ele o quanto sua música passou a ser apreciada na África do Sul, onde chegou por acaso.

Dado como morto, num caso extremo em que contam que ele se matou durante uma de suas apresentações, Jesus “Sixto” Rodriguez passa a ser o mito obscuro por quem agora se busca conhecer, seguir os rumos e compreender como sua carreira errônea deu passos tão tortuosos. Nesse percurso, o filme ouve uma série de pessoas que poderiam revelar mais coisas sobre sua vida, com pitadas de mistério, intriga, louvação, surpresas e desencontros que tornam tudo muito interessante e curioso de se acompanhar.

De bônus, há música de Rodriguez, sempre boa demais. O filme abusa pouco da irritante mania da maior parte dos documentários sobre gente talentosa de querer empurrar guela abaixo do espectador a genialidade do seu documentado. O diretor sueco Bendjelloul não consegue fugir disso, mas consegue reforçar, através da demonstração generosa das canções, o talento de Rodriguez de forma muito mais agradável.

Maior ainda é entender a dimensão que sua música vai ganhar num país de cultura e história tão díspar como a África do Sul, dominada pelo Apartheid, encontrando nas letras do cantor uma forma de expurgar os anseios de uma sociedade acossada pelo poder imperialista. É quando nos deparamos com a capacidade do fazer artístico em chacoalhar certas estruturas, enquanto outras, personalíssimas, permanecem ali, à espera de alguém que as movimente.


Música Serve para Isso: Uma História d’Os Mulheres Negras (Idem, Brasil, 2012)
Dir: Bel Bechara e Sandro Serpa


Mais um documentário tradicional que serve ao propósito de apresentar algo interessante: a banda Os Mulheres Negras. Tinha gente achando que o nome do filme estava escrito errado, mas nada disso. Se eu disser que o tresloucado do André Abujamra faz parte da iniciativa, acredito que a coisa toda fica mais plausível. Junto com Maurício Pereira, em meados dos anos 1980, eles criaram essa que chamavam de terceira menor Big Band do mundo.

Eles se aproveitaram da sua habilidade como multi-instrumentistas e veia cômica para criar apresentações super bem-humoradas e criativas, chamando atenção para o fator de performance que apresentavam no palco, como se assumissem personagens ali. O nome da banda servia mesmo só pra chamar atenção, a mistura de gêneros musicais dificultava sua classificação. 

Além de contar com entrevistas dos dois componentes, o documentário ouve uma série de pessoas que tiveram contato com a dupla naquele momento enquanto criavam algo diferente e inusitado no cenário musical paulista. Não foge muito disso, mas vale pelo registro, via imagens de arquivo, das apresentações que deixam claro o valor artístico que os dois criaram.

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