Searching for Sugar Man (Idem, Reino Unido/Suécia, 2012)
Dir:
Malik Bendjelloul
Um
personagem incrível revelado aos poucos por uma construção de trajetória
realmente exemplar, via roupagem documental muitíssimo bem arranjada. Searching for Sugar Man é esse trabalho
vigoroso, recente vencedor do Oscar de Documentário, um verdadeiro achado de
manipulação da linguagem em prol do contar uma boa história. Se é muito comum
que a ficção ancore-se nos artifícios documentais para dar maior sustentação de
realismo aos filmes, é interessante como, no processo inverso, o documentário
também empresta da ficção certas ferramentas narrativas, o que encontramos aqui.
O
longa nos apresenta a busca pelo cantor e compositor americano, de ascendência
mexicana, que começou uma carreira promissora no ramo artístico no início dos
anos 1970, mas que não conseguiu emplacar comercialmente e acabou sendo eclipsado
pela própria indústria. Mal sabia ele o quanto sua música passou a ser apreciada
na África do Sul, onde chegou por acaso.
Dado
como morto, num caso extremo em que contam que ele se matou durante uma de suas
apresentações, Jesus “Sixto” Rodriguez passa a ser o mito obscuro por quem
agora se busca conhecer, seguir os rumos e compreender como sua carreira
errônea deu passos tão tortuosos. Nesse percurso, o filme ouve uma série de
pessoas que poderiam revelar mais coisas sobre sua vida, com pitadas de
mistério, intriga, louvação, surpresas e desencontros que tornam tudo muito
interessante e curioso de se acompanhar.
De
bônus, há música de Rodriguez, sempre boa demais. O
filme abusa pouco da irritante mania da maior parte dos documentários sobre gente
talentosa de querer empurrar guela abaixo do espectador a genialidade do seu
documentado. O diretor sueco Bendjelloul não consegue fugir disso, mas consegue
reforçar, através da demonstração generosa das canções, o talento de Rodriguez
de forma muito mais agradável.
Maior
ainda é entender a dimensão que sua música vai ganhar num país de cultura e
história tão díspar como a África do Sul, dominada pelo Apartheid, encontrando
nas letras do cantor uma forma de expurgar os anseios de uma sociedade acossada
pelo poder imperialista. É quando nos deparamos com a capacidade do fazer
artístico em chacoalhar certas estruturas, enquanto outras, personalíssimas, permanecem ali, à
espera de alguém que as movimente.
Música Serve
para Isso: Uma História d’Os Mulheres Negras (Idem, Brasil, 2012)
Dir:
Bel Bechara e Sandro Serpa
Mais
um documentário tradicional que serve ao propósito de apresentar algo
interessante: a banda Os Mulheres Negras. Tinha gente achando que o nome do
filme estava escrito errado, mas nada disso. Se eu disser que o tresloucado do André
Abujamra faz parte da iniciativa, acredito que a coisa toda fica mais
plausível. Junto com Maurício Pereira, em meados dos anos 1980, eles criaram essa
que chamavam de terceira menor Big Band do mundo.
Eles
se aproveitaram da sua habilidade como multi-instrumentistas e veia cômica para
criar apresentações super bem-humoradas e criativas, chamando atenção para o
fator de performance que apresentavam no palco, como se assumissem personagens
ali. O nome da banda servia mesmo só pra chamar atenção, a mistura de gêneros
musicais dificultava sua classificação.
Além de contar com entrevistas dos dois componentes, o
documentário ouve uma série de pessoas que tiveram contato com a dupla naquele momento
enquanto criavam algo diferente e inusitado no cenário musical paulista. Não
foge muito disso, mas vale pelo registro, via imagens de arquivo, das
apresentações que deixam claro o valor artístico que os dois criaram.
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