Camille Claudel
1915
(Idem, França, 2013)
Dir:
Bruno Dumont
Chega a ser surpresa que Juliette Binoche seja a protagonista desse filme de Bruno Dumont. Em seus trabalhos, sempre esquisitos, sobre gente estranha, ele costuma usar atores desconhecidos. Mas há outras rupturas aqui: trata-se do retrato de uma personalidade real, coisa rara em sua filmografia, e por isso o filme abre com algumas informações didáticas sobre a então abalada Camille Claudel.
Dumont
trabalha num registro bem intimista, encontrando a grande escultora francesa já
detida num manicômio depois de um período atormentada pelo
isolamento a que se infligiu, amargurada pelo romance tumultuado como amante de seu
grande mentor, Auguste Rodin, por quem abdicou muita coisa. Sofria também pelo machismo da sociedade francesa
e não tinha o apoio da própria família, responsáveis pelo encarceramento dela
em hospícios, onde viria a morrer depois de 30 anos internada.
Mas
Camille Claudel 1915 está menos
preocupado em demarcar os traços biográficos da artista, e mais fascinado pelo
estado de isolamento e descontrole mental que ela apresentava. É um filme duro,
mas não nas imagens fortes ou grotescas que o diretor costuma criar. Aqui, a
perturbação está na face e nas palavras dos personagens. Camille transita entre
a angústia da permanência ali a pitadas de alegria, especialmente pela
iminência da visita do irmão.
Dumont
estende o tempo no manicômio como forma de nos impor aquela rotina estanque,
por vezes agonizante, enquanto Camille convive com médicos e enfermeiras até benevolentes
com seu estado e com internos em condições muito mais intensas de esquizofrenia (e
é louvável que o diretor tenha trabalhado com doentes mentais de fato, o que
acentua o clima natural de um lugar assim). Com isso, consegue fugir muito bem de possíveis caricaturas.
O
rosto endurecido da atriz parece uma fascinação para o diretor e sua câmera,
sempre tão próxima dos atores. Mas é de se louvar também a chegada do irmão
Paul Claudel (Jean-Luc Vincent), fazendo o filme ganhar novo fôlego e atmosfera.
Sua personalidade arrogante e moralista, sua pose elitista, só reforçam o
choque de posições, impondo à protagonista uma existência que não há de ser
mais condescendente. Sua sina é carregar pra sempre a dor de ser o que a
tornaram.
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