A Batalha do
Passinho – O Filme
(Idem, Brasil, 2012)
Dir:
Emílio Domingos
Para
além de um filme exótico sobre uma certa febre de dança aparentemente
esquisita, A Batalha do Passinho é um
filme bastante rico no que concerne a toda uma cultura que se desenvolve nos
morros cariocas tendo o funk como viés norteador. Longe de focar na violência
dos bailes e no conteúdo duro de suas letras, o impressionante aqui é ver como
garotos criam e executam movimentos incríveis para dançar funk. É vendo pra
acreditar na desenvoltura dos meninos com seus estranhos movimentos de pés e corpo.
O
diretor Emílio Domingos está interessado não só na dança em si e nos
campeonatos que rondam aquela cultura (sendo o desenvolvimento desses a base
estrutural do filme), mas também em questões outras que envolvem aquele grupo de
garotos da periferia e sua arte. Estão lá questões como a predominância dos
meninos na dança, o interesse que eles despertam nas garotas, a vaidade pessoal
deles, a apropriação de trejeitos afeminados por parte de alguns, o papel da
internet e das redes sociais como difusoras de informações e troca de
conteúdos, especialmente de vídeos. Tudo isso surge como um estudo interessante
sobre a forma como essas atividades se estabelecem no ambiente da favela e se expandem a partir dali.
Como
documentário tradicional, funciona como forma de contato com toda a cultura do
passinho, num ambiente por si só já muito estereotipado e distante do apelo da grande mídia. Embora não seja intenção levantar uma bandeira social, ela está
lá na própria configuração e fascinação da câmera por esses movimentos
estranhos, mas atraentes, que o passinho proporciona e tudo aquilo que carrega em seu entorno. O filme dá voz àqueles
que se articulam em torno da dança. É ela que os fazem melhores dentro de uma
realidade já bastante dura.
Um Filme para
Dirceu
(Idem, Brasil, 2012)
Dir:
Ana Johann
Dirceu
pensa em ser um grande cantor, fazer sucesso e ser conhecido. Quer também que
sua história vire um filme, como em 2
Filhos de Francisco. No interior do Paraná, o gaiteiro Dirceu (gaita é como
se chama a “sanfona” no Sul) sonha alto, depois que uma paralisia nas
pernas durante a adolescência quase o deixou paraplégico. A diretora Ana Johann
resolve então realizar pelo menos o sonho do filme, mas de forma documental,
acompanhando os passos desse homem singelo, mas persistente e cheio de
vontades.
Dirceu
se esforça para continuar na trilha musical, tocando em pequenos shows,
participando de concursos e levando de baixo do braço o projeto de captação de
recursos para realizar seu filme. Não era um documentário que ele queria (no início, inclusive, vemos uma encenação da abertura do filme sobre si mesmo
que Dirceu tem na cabeça), por isso não é um filme sobre, mas para (lição aprendida com Wim Wenders, presume-se) Dirceu. É como um
filme-presente que acaricia seu documentado, indo aonde ele quer ir, em busca
de realizar seus sonhos, que se revelam cada vez mais distantes e difíceis.
É
por isso mesmo um projeto corajoso porque não há nada de enganador nele. Dirceu
conhece as barreiras e nem está ali com a promessa de uma realização de seus
planos. De qualquer forma, a narrativa é carinhosa com seu personagem
errôneo, tentando captar sua inquietação e suas investidas, mesmo que nem
sempre consistentes, mas sem nunca julgá-lo nem julgar suas chances de sucesso.
Era o filme possível.
Neil Young Journeys (Idem, EUA,
2011)
Dir:
Jonathan Demme
Neil Young
Journeys soa
como um filme de fã para fãs. Jonathan Demme é um ótimo cineasta, mas como
documentarista parece bastante preguiçoso. Aqui ele se contenta em filmar Young
em seus shows, cantando e tocando músicas inteiras, e conversa ocasionalmente
com ele enquanto passeiam de carro na cidade natal do cantor, no Canadá. Não
nos oferece muita coisa em termos de cinema.
O
fato desse ser o fecho de uma trilogia que o diretor fez sobre o músico (os
outros filmes são Neil Young: Heart of Gold e Neil Young Trunk
Show, lançados em 2006 e 2009, respectivamente) talvez deponha a favor de
um filme que se fascina pela imagem dessa lenda do rock fazendo aquilo que o
tornou famoso. E não há nada contra o estabelecimento da imagem pura de alguém
contando e tocando suas músicas, entretendo o público. A Música Segundo Tom Jobim é todo construído em cima disso e é um
estudo fascinante sobre o poder da música de um certo artista. Aqui é diferente
porque não parece brotar muita coisa desse registro puro e simples, para além
da imagem de um homem solitário no palco defendendo sua arte.
Pior ainda é quando Demme posiciona sua câmera abaixo
do microfone de Young, captando um take
de gosto duvidoso, ou quando vez ou outra divide a tela com imagens em ângulos
quase idênticos de Young tocando guitarra. Os melhores momentos do filme estão nas
apresentações finais em que Young revela uma epifania em determinados momentos,
seja com a voz ou com instrumentos musicais, o vislumbre que temos aí de um
virtuose da música. Mas esse é um mérito do músico e não do cineasta.
2 comentários:
Desses só vi o de Neil Young, que é muito mais dele que de Jonathan Demme mesmo. O que não seria necessariamente um demérito, se não fosse a aparente preguiça. Bingo.
É um tipo de filme sem personalidade, e ele tinha cacife pra fazer um com.
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