sexta-feira, 26 de abril de 2013

Desperdício de sangue


463. A Morte do Demônio (Evil Dead, EUA, 2013)
Dir: Fede Alvarez


É preciso mais do que saudosismo para se fazer um bom filme de terror. A Morte do Demônio se beneficia do sucesso que a trilogia trash Uma Noite Alucinante fez com os fãs do gênero para ressurgir agora, mas sem grandes atrativos para além da necessidade de querer ser grotesco, simplesmente. Os resultados soam duvidosos porque reprocessam lugares-comuns e possuem fragilidades narrativas que só denota um projeto explorando o lado gráfico (especialmente envolvendo os limites e degradação do corpo) que tanto faz parte dos filmes do gênero.

E não há nada contra o fato do filme ser um remake de um clássico do horror, até porque o tratamento estético aqui é bem distinto. E isso talvez seja um problema porque se no filme de 1981 as limitações técnicas funcionavam muito bem como roupagem de produto B, o mesmo não acontece aqui. Não dá simplesmente para relevar os deslizes de roteiro em prol dos efeitos de medo e repulsa que a história tenta provocar, com seu evidente gosto pelo gore.

O filme abusa dos clichês do terror com adolescentes, mesmo tentando acrescentar algumas coisas novas no enredo, em termos dramáticos, a fim de diferenciá-lo de sua versão original. O conflito pessoal de Mia (Jane Levy) que luta para manter distância das drogas é algo que torna a coisa toda muito pertinente, e não somente um bando de jovens que busca se divertir se enfurnando numa casa sinistra no meio do mato.

Pena que o filme não tenha esse mesmo cuidado para tratar das minúcias de roteiro, daí que uma opção mais livre dramaticamente poderia até ser mais condizente com o projeto. De qualquer forma, o filme realiza um movimento interessante em que o terror invade o drama daquele grupo que se junta ali para deixar Mia longe do vício.

Mas os maiores problemas aqui são os personagens idiotizados (o rapaz vê no livro os avisos para não continuar lendo as invocações demoníacas e o que ele faz? Continua lendo...), o roteiro com muitos momentos forçados e o desespero quase infantil por sangue em excesso (especialmente na parte final). Assim, o fator medo/terror acaba se minimizando e se perdendo.

4 comentários:

Alex Gonçalves disse...

Pois é, Rafael. Embora ache o terceiro ato a melhor coisa que há em todo o filme, não há como não concordar com a sua opinião. Detesto o desleixo como toda a narrativa é construída. Toda aquela construção dramática dos primeiros minutos não passa de pretexto para fazer um filme que, ao contrário do original, não diverte nem um pouco com todo o gore sendo vomitado na tela. Sam Raimi errou feio ao viabilizar essa refilmagem para lá de desnecessária.

Rafael Carvalho disse...

É Alex, acho que eu também concordo que no terceiro ato as coisas se tornam melhores, mas até chegar lá muita coisa é forçada por um roteiro que tenta se passar por filme B quando não é. É como um projeto incongruente.

Matheus Pannebecker disse...

Poxa, eu gostei bastante! Faz tempo que o cinema estadunidense não entrega um terror decente e, para mim, "A Morte do Demônio" terminou com esse jejum. Fiquei muito angustiado e também me diverti bastante com o resultado!

Rafael Carvalho disse...

É Matheus, muita gente tem gostado do filme, eu que não fui com a cara mesmo. Acho que existe um exagero ali a fim de impressionar, sem falar de problemas de construção de personagens, tudo muito estúpido. Não curti mesmo.