quinta-feira, 18 de abril de 2013

Versões de uma quase mesma história


A Visitante Francesa (Da-reun Na-ra-e-seo, Coreia do Sul, 2012)
Dir: Hong Sang-soo
  

Não é à toa que o cinema do coreano Hong Sang-soo seja tão relacionado aos filmes do francês Eric Rohmer. Existe em ambos uma obsessão pelos atores e suas interlocuções que seus filmes se constroem basicamente dos encontros e desencontros dos tipos que se esbarram, tendo nos diálogos sua maior força de sustentação. Dos personagens rohmerianos que falam pelos cotovelos, Sang-soo parece ter aprendido a agradabilidade da fala, flertando com o melodrama e a metalinguagem, tudo muito prosaico e com impressão de cotidiano.

Porém, por mais marcante que seja esse tom de rotina, tem-se em A Visitante Francesa uma protagonista em situações “inusitadas”, uma vez que ela é uma estrangeira num país de cultura tão diversa. Mas mais que isso, Sang-soo brinca com os personagens em versões diferentes de uma quase mesma história, enxergando a protagonista em ocasiões distintas a partir de sua chegada a uma praia na Coreia.

A pitada de metalinguagem está no fato de que a narrativa é pensada por uma jovem roteirista que escreve um filme no qual essa personagem, sempre chamada Anne (interpretada por Isabelle Huppert), chega ao lugar assumindo posições diferentes: uma cineasta que teve um lance amoroso com o anfitrião coreano; uma mulher que tem um caso extraconjugal com um coreano; e outra que viajou ao lugar para se esquecer do marido que a trocou por uma jovem coreana.

Desde já se desenham as artimanhas do enredo em aproximar os segmentos, com os personagens secundários com quem ela se relaciona se revezando em seus papeis ou surgindo como novidade em algum momento. De qualquer forma, é sempre interessante acompanhar as novas funções que cada um desempenha na dança de cadeiras que o filme promove. A brincadeira narrativa está também na forma como Sang-soo, com sua câmera sempre tranquila, consegue ecoar certas situações com um simples zoom ou enquadramento similar ao que a gente já havia visto antes, motivo para o riso no rosto do espectador mais atento. 


O melhor é que não existe um cálculo, uma necessidade de ligar os pontos que são comuns aos segmentos. Muito pelo contrário, o diretor parece se sentir muito à vontade para brincar com as recorrências que ele mesmo implanta, ao mesmo tempo convidando o espectador a percebê-las e também surpreendendo-os pelos rumos inusitados que as histórias podem seguir. 

E engana-se quem pensa que Isabelle Huppert brilha sozinha aqui. Distante das personagens fortes que costuma interpretar, dá espaço para que todos no elenco se equiparem num tratamento sóbrio de personagens. É essa percepção de vida cotidiana tão presente nos filmes de Sang-soo. Ele segue fazendo esse cinema simples, naturalíssimo, leve, desdobrando as narrativas. Espera-se que ele não comece a se repetir, justo porque seu olhar de cronista diante do mundo dota seus filmes de um interesse pelas coisas palpáveis, pela estranheza agradável do cotidiano, que não se deve perder de vista.

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