quinta-feira, 11 de abril de 2013

Contra o amor de Deus


Além das Montanhas (Dupã Dealuri, Romênia/França/Bélgica, 2012)
Dir: Cristian Mungiu



Cristian Mungiu, seis anos depois de ganhar sua Palma de Ouro pelo duríssimo 4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias, volta seu olhar agora para a intolerância religiosa através daquela mesma estética de desconforto e tensão, aliada à atmosfera realista/naturalista que marca essa nova safra do cinema romeno. Além das Montanhas é um retrato de uma paixão entre duas jovens que esbarra no amor de Deus.

Alina (Cristina Flutur) viaja até o convento onde sua amada Voichita (Cosmina Stratan), agora freira, entregou seu coração aos desígnios religiosos. Na tentativa de arrancar a garota do local, Alina acaba passando por um processo de piração mal compreendido por aquela comunidade fervorosa, rígida e cega, como própria dos agrupamentos fundamentalistas.

O roteiro, laureado em Cannes, assim como suas duas atrizes protagonistas, tem uma habilidade em nunca se revelar objetivo demais, nunca é taxativo. Nem a relação anterior entre as garotas é totalmente clara, nem os desejos de Voichita se mostram totalmente evidentes. O reencontro parece abrir questionamentos, mas que esbarram fortemente nos princípios exigidos pela religião. Mas nem nesse quesito existe uma condenação, um julgamento aos preceitos religiosos que cegam aquele povo. O filme alcança de forma muito mais nobre o traço do incômodo, a partir de uma contundência que abala a rotina daquelas pessoas com a chegada dessa garota “estranha”.

Ainda assim, Além das Montanhas é um filme inchado. Suas duas horas e meia de duração muitas vezes soam como preciosismo, estendendo as cenas mais do que necessário, tornando uma história assim sem tantos desdobramentos mais arrastada do que deveria. O ritmo irregular ajuda a tirar a força das situações que decorrem, em especial do processo de loucura que toma Alina e do irresponsável ato de exorcismo que infligem à garota. Também a parte final, em que entra uma narrativa de tons policiais, insiste em algo que não será mais levado adiante. Só parece estar ali para gerar uma cena final de impacto (algo similar ao que acontece com A Caça).

Mesmo assim, o filme tem no plano-sequência uma preferência estética que abraça com muita segurança. Mungiu tem um olhar bastante aguçado para uma mise-en-scène cuidadosa (mas nunca meramente calculada), pois compõe o quadro com competência ímpar. Atores e objetos de cenas estão sempre bem marcados e distribuídos na tela, num trabalho caprichado de composição, enquanto o plano permanece sem muitos cortes como um desafio de naturalidade. Tudo com a câmera levemente tremulante para acentuar o clima total de desconforto, a alma do filme em si.

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