Além das
Montanhas
(Dupã Dealuri, Romênia/França/Bélgica,
2012)
Dir: Cristian Mungiu
Cristian Mungiu, seis anos depois de ganhar sua
Palma de Ouro pelo duríssimo 4 Meses, 3
Semanas e 2 Dias, volta seu olhar agora para a intolerância religiosa
através daquela mesma estética de desconforto e tensão, aliada à atmosfera
realista/naturalista que marca essa nova
safra do cinema romeno. Além das
Montanhas é um retrato de uma paixão entre duas jovens que esbarra no amor
de Deus.
Alina (Cristina Flutur) viaja até o convento onde
sua amada Voichita (Cosmina Stratan), agora freira, entregou seu coração aos
desígnios religiosos. Na tentativa de arrancar a garota do local, Alina acaba
passando por um processo de piração mal compreendido por aquela comunidade
fervorosa, rígida e cega, como própria dos agrupamentos fundamentalistas.
O roteiro, laureado em Cannes, assim como suas duas
atrizes protagonistas, tem uma habilidade em nunca se revelar objetivo demais,
nunca é taxativo. Nem a relação anterior entre as garotas é totalmente clara, nem
os desejos de Voichita se mostram totalmente evidentes. O reencontro parece
abrir questionamentos, mas que esbarram fortemente nos princípios exigidos pela
religião. Mas nem nesse quesito existe uma condenação, um julgamento aos preceitos
religiosos que cegam aquele povo. O filme alcança de forma muito
mais nobre o traço do incômodo, a partir de uma contundência que abala a rotina
daquelas pessoas com a chegada dessa garota “estranha”.
Ainda assim, Além
das Montanhas é um filme inchado. Suas duas horas e meia de duração muitas
vezes soam como preciosismo, estendendo as cenas mais do que necessário,
tornando uma história assim sem tantos desdobramentos mais arrastada do que
deveria. O ritmo irregular ajuda a tirar a força das situações que decorrem, em
especial do processo de loucura que toma Alina e do irresponsável ato de
exorcismo que infligem à garota. Também a parte final, em que entra uma narrativa de tons policiais, insiste em algo que não será mais levado adiante. Só parece estar ali
para gerar uma cena final de impacto (algo similar ao que acontece com A Caça).
Mesmo assim, o filme tem no plano-sequência uma
preferência estética que abraça com muita segurança. Mungiu tem um olhar
bastante aguçado para uma mise-en-scène cuidadosa (mas nunca meramente
calculada), pois compõe o quadro com competência ímpar. Atores e objetos de
cenas estão sempre bem marcados e distribuídos na tela, num trabalho caprichado
de composição, enquanto o plano permanece sem muitos cortes como um desafio de
naturalidade. Tudo com a câmera levemente tremulante para acentuar o clima
total de desconforto, a alma do filme em si.
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