domingo, 31 de março de 2013

Língua do corpo


Super Nada (Idem, Brasil, 2012)
Dir: Rubens Rewald 



Como um palhaço triste que faz alegrar as pessoas, Gustavo (Marat Descartes) vive de performances teatrais e de rua, ganhando dinheiro em encenações fajutas, ensaiando apresentações, à espera de uma grande oportunidade. E ela vem, mas como convite para uma participação no programa cômico de TV “Super Nada”, um desses bem decadentes e de comédia ridícula, mas do qual Gustavo é fã confesso. Além disso, não há muitas pretensões na vida desse homem. Antes de sucesso, ele quer sobreviver de sua arte.

Daí que Super Nada é um filme tristíssimo na forma como equilibra o cômico e o dia a dia pouco engraçado do protagonista, afogado em dívidas e com problemas no relacionamento com a namorada (Clarissa Kiste). Através da comédia, a narrativa revela a vida sem grandes perspectivas de um artista querendo ser maior.

É também um filme que evidencia o corpo enquanto linguagem, mas também como sustento. É como uma versão masculina do ótimo Riscado, em que uma personagem sobrevivia do trabalho de atriz em pequenos bicos, sempre na iminência de conseguir algo maior. O corpo na tela ganha outra dimensão, maior, decisiva, porque é de seu desempenho que depende o sucesso do artista.

Nesse sentido, Marat Descartes revela uma desenvoltura corporal incrível na forma como assume uma série de personagens com trejeitos os mais diversos, nos fazendo crer na aptidão daquele homem para o seu ofício. Jair Rodrigues, como o protagonista do programa “Super Nada”, é também uma presença luminosa, dono das melhores tiradas do filme, partindo de uma composição que é muito natural. É como se não fosse um ator atuando, mas uma figura que vive a si mesmo, sem tiques de interpretação.

Mas Super Nada não se limita a acompanhar essa rotina de sobrevivência e ganha outros contornos à medida que o personagem entra num turbilhão de erros e desvios de caminho, sempre tentando fazer o melhor, mas trocando os pés pelas mãos. Mesmo assim, o diretor Rubens Rewald não cai na tragédia pura; pelo contrário, faz um filme hilário que acaba se tornando uma comédia de erros ao mesmo tempo engraçada e também melancólica.

Entre o real e o fingimento, Super Nada é um brinde à comédia, à performance do corpo, mas também filma com desenvoltura um personagem na corda bamba, fazendo os outros rirem enquanto ele mesmo tenta se sustentar para não cair.

Nenhum comentário: