sexta-feira, 15 de março de 2013

Como nossos pais


A Busca (Idem, Brasil, 2013)
Dir: Luciano Moura


  
Quando o filme do estreante no longa-metragem Luciano Moura foi exibido no Festival de Sundance ano passado, o título era outro. Chamava-se “A Cadeira do Pai”, enunciado talvez mais pertinente e menos genérico que apontava para a questão central da história: as relações entre pai e filho em estado de distanciamento. O que o filme põe em questão é a necessidade vital do encontro entre esses pares, apesar de não ultrapassar muito esse objetivo.

Mudando o título para A Busca, uma opção mais comercial, é interessante notar como a história começa como um drama familiar e se transforma num road movie ocasional. Isso porque quando o filho de Theo (Wagner Moura) e Branca (Marina Lima) desaparece, em meio ao processo de separação e desentendimento dos pais, descobre-se que o garoto partiu numa jornada fora da cidade, montado a cavalo. Theo parte então à procura de seu filho, num processo que também envolve seus embates com o próprio pai. 

Como drama que busca dar vazão e consistência aos conflitos daquela família, A Busca é, ao mesmo tempo, um trabalho sutil que foge do sentimentalismo puro, mas também não deixa de ser frustrante na não resolução dos maiores problemas de seus personagens. Não há aqui grandes conversas e discussões de relação que fazem lavar a roupa suja de situações tão complicadas – os pais do garoto não sabem se se amam ou se odeiam. Há certa sutiliza em não banalizar esses conflitos, não torná-los tão simples de resolver, ainda mais utilizando como desculpa a fuga do garoto, uma situação de risco que acaba aproximando a todos.

Mas nesse tratamento singular, na opção em deixar muita coisa em aberto, talvez um modismo relutante de certos filmes contemporâneos, principalmente quando os personagens chegam ao lugar que objetivam, o filme parece não conseguir avançar em suas proposições dramáticas. É como se a história se furtasse dos embates que ela mesma propõe no seu enredo e terminasse mal resolvida.

Para sanar esses problemas, Moura aposta na força de seus atores, e Wagner Moura é o destaque óbvio pela forma como equilibra o desespero de um pai preocupado e o autocontrole em descobrir e seguir os rastros do garoto fujão. E caso Lima Duarte, numa participação ao final do filme, tivesse mais tempo em tela, entregaria uma atuação bem mais marcante. Toda sua composição é singela, mas transparece uma emoção fortíssima por um reencontro inesperado.

Mesmo assim, ainda incomoda no filme a forma como os caminhos percorridos por Theo e, principalmente, as pessoas que ele encontra em sua desesperada jornada são conformados pelo roteiro para que ele sempre tenha um nova informação sobre os rumos seguidos pelo filho, num acúmulo incrível de coincidências. Sem falar em alguns momentos constrangedores, como o pernoite na festa hippie em que Theo ajuda a realizar um parto. Sem essas facilidades, a narrativa certamente sairia do caminho pretendido, a busca se extraviaria, e tudo isso para que o filme se encerre no momento mais promissor.


3 comentários:

Amanda Aouad disse...

Para mim o pior ainda é ele andar de moto com a costela quebrada. hehe. Mas, acho um filme problemático em alguns pontos, começa muito bem e termina perdido.

Elton Telles disse...

A minha única curiosidade com esse filme responde pelo nome de Wagner Moura. Fora isso, nada me atraiu. Estou curioso pela forma como dividiu os críticos. Me parece muito um filme de Breno Silveira, e, com exceção de "Gonzaga", eu gostei muito dos filmes desse diretor.

Abs!

Rafael Carvalho disse...

Amanda, o filme tem uma série dessas forçadinhas de roteiro, caso contrário não consegue seguir em frente. Gosto de um final que não cai na choradeira ou no sentimentalismo do reencontro de todos, mas também sinto que falta uma coisa ali.

Elton, não sei se emula um Breno Silveira porque não há sentimentalismos aqui, o filme é muito contido nesse sentido. Wagner Moura está bem, como de costume, mas os caminhos que seu personagem faz, acho problemático em muitos momentos.