terça-feira, 12 de março de 2013

Lá mais uma vez


Oz: Mágico e Poderoso (Oz the Great and Powerful, EUA, 2013)
Dir: Sam Raimi 
  

Quando O Mágico de Oz estreou em 1939, esbanjando todo o seu visual colorido, o filme representava um trunfo em termos mercadológicos, justamente pelo recurso da cor, uma inovação técnica para o período, explorada via história de cunho infantil e fantasioso. Era uma forma de a indústria sacudir o interesse do público por algo nunca antes visto daquela maneira e levar mais pessoas ao cinema. Mas o filme acabou se tornando mais que isso, assim como seu irmão gêmeo versão adulta ...E o Vento Levou, incutido do mesmo propósito de novidade. Tudo graças a uma história cativante de tons fabulares que ficou marcada na história do cinema.

Hoje, com a ideia de retornar a mitologia do filme, extraída da série de livros escritos pelo norte-americano L. Frank Baum, Oz: Mágico e Poderoso resgata o mesmo espírito de ingenuidade e toma cuidado para nunca desvirtuá-lo, a maior surpresa desse filme. Claro que estão lá os efeitos especiais de encher os olhos e o modismo recente do 3D como espetáculo de sensações, marcas indispensáveis para a indústria de entretenimento de nossos dias.

Mas há um cuidado no enredo ao trazer uma série de referências ao filme anterior, ao mesmo tempo em que sua história caminha por conta própria, sem ferir os acontecimentos do que viria a seguir no filme de 1939. Como prequel, o longa narra a chegada do famoso mágico Oscar Diggs (James Franco) ao mundo de Oz a bordo de um balão, como o próprio personagem conta de relance no filme anterior. Fugindo de uma realidade que lhe renegava o reconhecimento como grande ilusionista (e a primeira parte do filme é toda em preto-e-branco, com um aspecto de tela 4x3), Oscar precisa agora provar seu talento naquele mundo cheio de possibilidades encantadas.

A jornada de Oscar, também chamado de Oz, numa feliz coincidência que o torna reconhecido como o grande mago que viria a reinar naquele mundo, torna-se então uma busca pelo prestígio que ele tanto almejava. Acontece que ele não passa de um mero ilusionista de feiras, seus truques não têm nada de magia, como os das bruxas que ele encontra pelo caminho (vividas por Michelle Williams, Mila Kunis e Rachel Weisz). Isso já estava inscrito lá em O Mágico de Oz, com o personagem sendo desmascarado no final, restando aqui o relato de como esse homem chega ao poder, através de suas técnicas e bom coração, apesar de desajeitado.


E quem diria, aquele Sam Raimi dos filmes de horror trash grotesco comanda aqui um espetáculo visual belíssimo pela pompa da produção, talvez exagerado demais, mas que pega carona no próprio universo do mundo fantasioso de Oz. Há também a mesma ingenuidade dos personagens em seguir seus anseios e desejos, aqui representados pela série de coadjuvantes que se juntam a Oz na sua jornada. 
 

O roteiro também precisa se deter em certas intrigas em que pesam o verdadeiro caráter das bruxas, como na tentativa de esconder as verdadeiras pretensões daquela interpretada por Weisz. Mas com isso, Oz segue tentando encontrar seu verdadeiro caminho e, quem sabe, se tornar o grande mago do lugar. Na ausência de magia pura, sobra a ilusão do truque, como forma de fazer as pessoas acreditarem no inexplicável. No fim, há ainda uma bela celebração do dispositivo cinematográfico enquanto ferramenta de artifício e ilusão. Mágico e poderoso mesmo é o cinema.

3 comentários:

Kamila disse...

Como você sabe, gostei muito desse filme. Achei “Oz: Mágico e Poderoso” uma obra muito bem feita do ponto de vista técnico, com um ótimo elenco e uma história que cativa. Porém, o que eu achei mais interessante no filme foi a forma como Sam Raimi reverenciou a lenda do filme de Victor Fleming. Existe muita intertextualidade entre esses dois longas e isso conta muito a favor da obra dirigida pelo Raimi.

Rodrigo Duarte disse...

Também fiquei muito entusiasmado com o filme. Uma bela surpresa que tinha tudo para ser uma bomba!

Rafael Carvalho disse...

Kamila, também gosto disso que o Raimi faz, não mancha em nenhum momento a mitologia em torna da história.

Rodrigo, também tinha essa mesma percepção, estava com o pé bem atrás, tudo me parecia grandioso demais, muito colorido. Mas a história caminha com suas próprias pernas sem deixar de ser fiel ao filme original. Grata surpresa.