Dir: William Friedkin
William
Friedkin retorna agora aos filmes policiais exatamente 40 anos depois de ter
lançado Operação França, um de seus trabalhos mais festejados no gênero. O tempo nos prova que ainda existe vigor e
força criativa num cineasta que parecia estanque. Foi assim também quando ele
voltou ao cinema de horror com o angustiante Possuídos (depois do marco que é O Exorcista), filme pouco visto, mas muito apreciado num círculo
restrito de cinéfilos, obra psicologicamente potente.
Parece
que acontece o mesmo com esse Killer Joe –
Matador de Aluguel, filme brutal, de tons amorais, que não fez muito
sucesso nos Estados Unidos e chega aqui com lançamento bem restrito. Sua maior
qualidade está no percurso de insanidade que vai se expandindo à medida que a história
avança, como um neonoir de formas
trágicas, jogando o espectador num covil de personagens sem escrúpulos.
Logo
no início somos apresentados ao conflito do filme, sem preâmbulos. Rapaz (Emile Hirsch) convence
o pai (Thomas Haden Church) e a madrasta (Gina Gershon) a contratarem um
assassino para matar a mãe dele a fim de que possam ficar com o dinheiro do
seguro de vida, e ele possa pagar uma enorme dívida de drogas. E é a irmã
mais nova dele (Juno Temple) a garantia que o assassino (Matthew McConaughey)
pede para fazer o trabalho sujo sem receber nada em adiantamento.
Estamos,
portanto, no terreno dos tipos sem escrúpulos, das famílias desestruturadas e dos
acordos que põe em garantia as próprias vidas dos envolvidos, tudo beirando o doentio e a desarmonia. A família vive num trailer desarrumado, tratam-se com
arrogância, não há arrependimento quando um trai o outro. À noite, quando a
madrasta abre a porta para o enteado, ela aparece nua da cintura pra baixo, e a
câmera faz questão de mostrar a vagina cabeluda da mulher, diante da indignação
do rapaz. É nesse tipo de amoralismo que Friedkin se debruça, essa podridão que
permeia o filme do início ao fim (e que fim!).
Friedkin
e o roteirista Tracy Letts, baseando-se numa peça de teatro desse último, acrescenta
outras camadas à história, seja no perfil insano, mas bem apresentável, de Joe
(um policial, na verdade, o que revela outro desvio de comportamentos sociais decadentes),
seja na doçura virginal e psicologicamente debilitada da garota que passa a ser
sua “amante”. O encontro entre os dois cria um casal estranhíssimo, cada qual
mentalmente perturbados à sua maneira.
Além disso, a reviravolta final faz encaixar uma série
de pistas que o filme vai deixando pelo caminho, revelando um roteiro
redondinho e surpreendente, perpassando pelas atitudes tortas e vis dos
envolvidos. Na meia hora final, o filme explode em grotesca violência (com a
bizarra e já famosa cena envolvendo uma coxa de frango). Quando acaba, larga o
espectador sem amparo, desconcertado, assim como as trajetórias sem perspectivas
de seus personagens.
2 comentários:
É a combinação perfeita de um roteiro que orgulha manuais com uma direção segura, que combina tesão e fluidez. De toda a geração do Sexo, Drogas e Rock n' Roll, seria Friedkin quem melhor envelhece?
Leo, o Friedkin envelheceu muito bem, não? Acho incrível como ele consegue se desvencilhar de certos lugares comuns num filme mais amoral, mais doentio. Mas o roteiro tá redondinho, nada sobra ali. E a metade final é sensacional.
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