Dir:
Elio Petri
Do
cinema político que frutificou na Itália no pós-guerra e por um bom tempo
depois disso, retomando com força na década de 60 e 70, A Classe Operária Vai ao Paraíso não é só
um de seus principais expoentes, mas um filme de grande envergadura poética.
Uma poética-política, digamos. Sem soar panfletário, Elio Petri faz uma obra
contundente e narrativamente rica, claramente militando pelas causas comunistas do operariado, mas nunca meramente denuncista.
Estão
lá os trabalhadores conscientes da exploração capitalista panfletando e
tentando angariar apoio entre seus iguais que caminham em direção à fabrica
onde irão passar o dia, labutando para ganhar bem menos do que merecem, sem
outros direitos. Um dos maiores trunfos do filme é se apegar a um
protagonista inicialmente distante dos ideais socialistas da luta de classes.
Controverso, bruto e mesmo assente com o tratamento que a fábrica dá aos seus
funcionários, Lulù Massa (Gian Maria Volonté), ele mesmo tido como um modelo
de bom operário, vê-se obrigado a encarar o lado fraco da corda, o mesmo em que
ele se encontra, mas do qual não enxergava (ou não queria enxergar) as
explorações sofridas. Até perder um de dos dedos numa máquina do trabalho e
sentir, literalmente na pele, o que significa ser desvalorizado por aqueles a quem
doa sua força de trabalho.
Lulù,
mesmo que reticente, vai aderindo às lutas de classe, inicialmente numa posição
mais de observador do que de alguém próximo a um agitador politizado levantando
bandeiras e empunhando cartazes. Ele continua trabalhando, olha ao redor, se sente
confuso apertado contra forças antagônicas, e assim vai passando por
transformações ideológicas a fim de defender seus direitos como trabalhador,
mesmo que à margem da luta, estranhando seu novo posto de opositor ao sistema.
Nesse sentido, é um filme de tomada de consciência, muito embora o tom nunca é de adesão total a uma causa. Os acordes da música de Ennio Morricone sugerem desde o início uma atmosfera combativa, que martela, como uma chamada para a ação, prenúncio dos enfrentamentos ideológicos e mesmo de força física entre trabalhadores e patrões. A montagem, por sua vez, é tomada por essa energia com seus cortes secos e rápidos, fazendo ver a urgência de uma atitude a ser assumida diante do descaso.
Daí
que A Classe Operária Vai ao Paraíso
é um filme irado, agressivo, tanto pelo próprio ritmo da narrativa, quanto pela
atitude de seus personagens. Mistura o temperamento estourado do sangue quente
latino com a própria veia politizada com que a classe operária defende seus
direitos. Lulù grita com sua esposa e o filho pequeno desta, briga com os
próprios companheiros (até para se fazer escutar por sobre o barulho das
máquinas), assim como os operários gritam para engrossar a luta e demarcar a
posição de firmeza frente a necessidade de reivindicar. Assim, o clima é sempre de combate, duro.
Palma
de Ouro em Cannes em 1972 (dividindo o prêmio com outro exemplar do cinema
político italiano, O Caso Mattei, de
Francesco Rosi), o filme faz um reverência aos trabalhadores e suas batalhas
por dignidade no campo trabalhista. Por mais promissores que sejam os ganhos alcançados
(e o próprio Lulù nem parece compreender exatamente o que significam), as
conquistas ideais parecem ainda distantes. Distantes como no paraíso aonde só é
possível chegar no sonho. Enquanto isso, a máquina do capital continua
a ser girada por mãos calejadas.
2 comentários:
Rapaz, assisti a esse filme numa sessão de péssima qualidade, organizado pelo DCE (ou por algum diretório acadêmico) da UFF, quando cursava mestrado. Preciso rever, até porque na época achei-o apenas bom.
Wallace, eu achei fenomenal desde o início. Existe uma noção de ritmo que incita a ação (política, no caso) muito acentuada. Além da história não ser em momento algum meramente denuncista. Como disse um crítico aqui da Bahia, é a diferença entre o engajado e o panfletário.
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