quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Memórias do que se é


O Vingador do Futuro (Total Recall, EUA, 2012)
Dir: Len Wiseman


Na recente onda de remakes e re-roupagens promovida por Hollywood e sua aparente crise de criatividade, alguns filmes conseguem uma bom atualização técnica e conceitual. Seria o caso desse O Vingador do Futuro, embora ele perca uma certa essência plástica que o diretor holandês Paul Verhoeven imprimiu a seu filme de 1990. O novo produto é mais ação e parafernália, correria e destruição, provido de efeitos especiais e luzes futuristas, inserido na lógica do filme de ação que oferece adrenalina. Nesse sentido, é um prato cheio de boas e bem filmadas doses de aventura.

Exista uma certa atmosfera trash no filme estrelado por Arnold Schwarzenegger, espécie de último suspiro cafona da década de 80 que acabava de acabar, além de trazer um conceito de futuro um pouco datado, coisa do pensamento ingênuo de início daquela década. Há ainda a fascinação de Verhoeven pelo corpo e por suas transmutações. Mas o que menos se quer aqui é copiar o filme anterior, por isso traz modificações importantes na trama, sem deixar de referenciar o filme original.

Daí que Colin Farrell funciona muito bem como astro de ação, sem precisar reprisar o carisma durão de Schwarzenegger. Ele continua sendo o trabalhador da colônia que, na tentativa de implantar na mente memórias de uma vida que ele não viveu, descobre segredos escondidos de seu próprio passado, envolvendo a possibilidade de ser um agente secreto. Passa então a ser perseguido pela força policial enquanto tenta desvendar os segredos “esquecidos” de sua vida. Kate Beckinsale também se destaca no papel de agente dupla, talvez em seu melhor trabalho no cinema, fazendo as vezes de femme fatale que persegue o herói em sua busca pela verdade.

Continuam explícitas as relações de poder entre opressores e oprimidos, comentário político muito bem-vindo num filme do gênero. Mas Marte (mais uma fascinação ultrapassada) dá lugar a uma Colônia na Terra em que vivem os menos desfavorecidos, um universo claramente inspirado no submundo de Blade Runner – O Caçador de Andróides (sendo ambos os filmes baseados em histórias do mestre dos romances de ficção científica Philip K. Dick).

Interessante como o longa continua fiel à história original, mas modifica determinados detalhes da trama a fim de produzir surpresas e seguir um caminho próprio. Mesmo assim, a profusão de ação por vezes deixa tudo muito urgente, e o filme se atropela nos desdobramentos que as situações descobertas pelo protagonista possuem no quadro geral da história.

Pelo que prometia como ação requentada de mais um filme de ação do passado, esse novo O Vingador do Futuro foge do desastroso, injetando cena de ação atrás da outra, tudo num conceito muito industrial de promover pancadaria, mesmo que bem filmada. O futuro desenhado aqui nos é mais representativo, e talvez essa atualização seja das melhores contribuições do filme.


2 comentários:

Kamila disse...

Ainda não assisti a esse remake de "O Vingador do Futuro", mas confesso não ter muitas expectativas, especialmente por causa do Len Wiseman, que não é um diretor de muita qualidade, na minha opinião. Mas, teu texto tá bem animador e me faz criar mais coragem de conferir o remake.

Rafael Carvalho disse...

Kamila, vi poucas pessoas entusiasmadas com o filme, me parece um produto bem diferente do original que tinha uma outra pegada.