sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Festival Varilux de Cinema Francês – Parte VI



Uma Garrafa no Mar de Gaza (Une Bouteille à la Mer, França/Israel/Canadá, 2011)
Dir: Thierry Binisti


A historia é bonitinha, os personagens tem lá seu interesse, o tema é nobre e relevante, mas não dá pra negar que Uma Garrafa no Mar de Gaza é um filme bobinho, reprocessa temas já amplamente vistos e discutidos, não traz muito de renovador para o assunto. Não há nada necessariamente de errado, mas não passa de um filme correto na sua proposta de unir dois jovens de culturas distintas inseridos em contexto apreensivo de conflito bélico.

Tal (Agathe Bonitzer) é uma jovem francesa que vive em Jerusalém com a família e tem um irmão soldado que serve na faixa de Gaza. Ela busca se comunicar com palestinos para entender de onde vem o ódio entre os dois povos. Para isso lança ao mar uma garrafa com uma mensagem amigável a fim de estabelecer contato com quem a encontrar. Naïm (Mahmud Shalaby) e um grupo de amigos acham uma das mensagens e é o único que se interessa em manter um diálogo com a garota.

À medida em que a relação entre os dois vai se tornando mais próxima, o filme vai desenvolvendo a história desses personagens. Ela, uma adolescente por vezes mimada, mas consciente dos problemas políticos da região; ele, um jovem idealista que sonha em estudar francês e se mudar para Paris. Tudo no filme segue o registro do humanitário, em oposição às atrocidades de uma guerra sem fim. Nada sai desse âmbito do inconformismo, que todos nós compartilhamos, mas sem aprofundar em nada a questão.

Se a garrafa jogada ao mar sugere uma ideia de tradição antiga, a comunicação via internet que os dois vão manter posteriormente aponta para a modernidade de um novo contexto social de inter-relações. O novo traz possibilidades outras, mas as rivalidades antigas ainda têm um peso maior.


My Way – O Mito Além da Música (Cloclo, França/Bélgica, 2012)
Dir: Florent-Emilio Siri


Sabe aquela música eternizada na voz de Frank Sinatra, My Way, considerada por muitos a canção mais famosa do mundo? Então, ela é uma versão de uma música original francesa, Comme D'Habitude. É dessa curiosidade que My Way – O Mito Além da Música se nutre para desenhar a trajetória de sucesso do cantor pop Claude François, também conhecido como Cloclo, uma espécie de Elvis Presley francês, astro da música dançante dos anos 60 e 70 que alvoraçava as mocinhas da época, vendia milhares de discos e compôs a canção em parceria com Jacques Revaux.

Uma pena que o filme não faça jus ao sucesso de Cloclo, caindo numa das armadilhas mais fáceis das cinebiografias: a necessidade de contar toda a história de seu biografado, como uma obrigação por não deixar de fora vários fatos que marcaram sua carreira e trajetória pessoal. My Way parece que não vai acabar nunca (o filme tem 2h30 de duração). 

O maior problema em abordar tantos momentos é que o enredo não consegue desenvolver bem as situações que o personagem vive. Por exemplo, passamos o tempo todo vendo o trabalho do agente de Cloclo (interpretado por um irreconhecível Benoît Magimel), para em determinado momento alguém dizer que eles não estão mais trabalhando juntos. Assim, sem mais nem menos, ele sumiu.  

Jérémie Renier (ator belga mais conhecido pelos filmes dos irmãos Dardenne, como A Criança e o mais recente O Garoto de Bicicleta) faz um trabalho incrível de caracterização, inclusive de esforço corporal – Cloclo dançava bastante no palco. O que mais lhe atrapalha é um roteiro que numa cena mostra-o gritando com seus funcionários e na seguinte revela um pai atencioso ou um esnobe mulherengo. Às vezes é difícil compreender que personagem é esse, suas motivações, conflitos e traços de personalidade.

De fato, é um homem cheio de nuances e complexidade, mas falta ao filme certo tato para transparecer isso de forma satisfatória e não jogando na tela cenas que parecem aleatórias para revelar várias facetas do personagem. Algumas sequências terminam tão bruscamente que um pouco mais de rigor na decupagem não faria nada mal ao filme. Mas é aí que a pressa em contar muita coisa atrapalha tanto o longa.


5 comentários:

Elton Telles disse...

Concordo muito com as duas resenhas. "Uma Garrafa no Mar de Gaza" aquece o coração e considero bem sucedido mais pelas antíteses sutis que o diretor evoca - antigo X modernidade; distância X aproximidade; guerra X amizade - do que essencialmente pela narrativa. Os personagens, por outro lado, são muito bons.

Já "My Way" é mesmo um problema. Mas o ritmo pulsante e a atuação enérgica de Rénier me "trouxeram" para o filme, ainda que tenha diversos problemas estruturais, fruto de um roteiro pretensioso.

Abs!

Amanda Aouad disse...

Esses dois não consegui ver, mas tenho que admirar sua cobertura do Festival, viu tudo, foi? Não faz mais nada da vida? hehehe.

bjs

Rafael Carvalho disse...

Elton, essas foram umas das bolas fora do Varilux este ano. Ainda prefiro Uma Garrafa porque embora não seja problemático, não oferece muita coisa de novo.

Olha Amanda, eu aproveitei mesmo este festival. Foram 14 filmes vistos dos 17 que passaram. Agora é correr pra tirar o atraso dos estudos que ficaram pendentes.

Anônimo disse...

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Rafael Carvalho disse...

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