Dir:
Breno Silveira
Breno Silveira tem essa pegada de cinema popular feito com muita propriedade e respeito pelas histórias e seus personagens, como visto nos simpáticos 2 Filhos de Francisco e Era Uma Vez..., funcionando muito bem como filmes de apelo comercial e, principalmente, emocional. Mas o grande entrave de À Beira do Caminho é que esse sentimentalismo surge na tela sem grande sutileza. Tudo no filme é muito dado, como se a construção dos desdobramentos dramáticos da trama fosse fácil demais, apesar do esforço para fazê-los parecer densos.
Numa história que se pauta pela busca da figura paterna e pela desilusão do amor, o
filme precisa dar conta de dois personagens com objetivos e rotas de vida distintos,
que se cruzam pelo acaso. À primeira vista, é inevitável uma comparação
temática com Central do Brasil e as
noções de paternidade desconhecida, a qual se tenta recuperar via road movie cruzando o Brasil. Duda
(Vinícius Nascimento) é o órfão da vez que pretende encontrar o pai que nunca
conheceu, agora estabelecido em São Paulo.
A
personagem Dora cede lugar aqui ao carrancudo João (João Miguel), motorista de
caminhão desgarrado de suas raízes depois de tragédia do passado, algo que vai
sendo pouco a pouco revelado via flashbacks
incômodos, que só não torna a coisa pior por conta da presença luminosa de Dira Paes. Mas
até o final, tudo será mastigado para o espectador, sem permitir segredos nem subentendimentos.
É
desse tom feito para emocionar que frases de lição de moral surgem a todo o
momento. Como se não bastassem as máximas sobre amor e destino que os
personagens ditam uns para os outros no decorrer da história, até mesmo pelo
pequeno Duda, demonstrando assim uma sabedoria emocional acima da média para
alguém de sua idade, o filme ainda cai na tentação de mostrar as famosas frases
dos caminhões com os quais os personagens cruzam no seu percurso.
O
uso da música é também outro incômodo no filme, pontuando determinados momentos
com uma obviedade que empobrece muito aquilo que já é frágil. A intenção parecia
ser o oposto, até porque o filme traz uma dedicação às canções de Roberto
Carlos, uma espécie de guia emocional importante para os envolvidos na
produção. Mas não se consegue evitar a redundância e o lugar do piegas.
Os
personagens, com seus defeitos, dificuldades e impertinências são bem
delimitados no filme, sem julgamentos, como marca característica do diretor
apontada no início desse texto. Mas o tratamento é que não é dos melhores, pontuado
pela necessidade de emocionar em busca de soluções às vezes fáceis para que
nada fique sobrando na história. À Beira
do Caminho se esforça, mas segue na direção perigosa da falta se sutilezas.
2 comentários:
Só fui saber da existência desse filme alguns dias antes de seu lançamento, muito comentado por conta da homenagem prestada ao Roberto Carlos. Gostei muito do trabalho de Breno Silveira em "2 Filhos de Francisco", um dos filmes brasileiros mais surpreendentes da década passada. Porém, parece que depois ele não conseguiu encontrar seu público. "Era Uma Vez" foi lançado de maneira tão discreta que nem me interessei em vê-lo depois em DVD. Este "À Beira do Caminho" também não me desperta muito interesse.
Então Alex, para quem gosta de 2 Filhos de Francisco pode se afeiçoar com esse (embora não tenha funcionado comigo). A história é boa, com bons personagens, mas existe um excesso ali e falta certas sutilezas. E procure ver Era Uma Vez..., você pode se surpreender.
Postar um comentário