Santa
e Andrés (Santa y Andrés, Cuba/França/Colômbia, 2016)
Dir:
Carlos Lechuga
Santa
e Andrés atravessa certo momento histórico de Cuba, ali no início dos anos
1980, para contar uma história de amizade. Ou vice-versa. A relação de amizade
que surge entre os dois personagens, postos em lados ideologicamente antagônicos da
questão política, é o que move a trama desse filme que carrega sua dose de
polêmica, muito por ter sido impedido de se lançar comercialmente no país uma vez que
faz dura crítica ao regime comunista ainda vigente.
Depois
de tanto tempo, Cuba ainda carrega a chaga de ser esse país dividido que causa sentimentos
opostos entre aqueles que o defendem ou não, algo que atravessa irremediavelmente posições morais e políticas – e o cinema cubano não deixa de retratar isso
constantemente, como pudemos ver no outro corrente cubano apresentado no Cine Ceará. No
momento histórico em que corre o filme, o regime comunista comandado por Fidel Castro segue bem estabelecido no país e já havia posto em prática uma
política camuflada de perseguição contra homossexuais. Também havia um controle
sobre escritores, artistas ou qualquer intelectual que pensasse criticamente os
caminhos políticos do país.
E
o protagonista do longa carrega essas duas alcunhas – ou podemos dizer, pesos. Escritor
homossexual, Andrés (Eduardo Martinez) vive recluso no interior do país vigiado
e controlado pelas forças policiais do regime. Não pode sair dali e muito menos
continuar a escrever seus livros de teor “subversivo”, pois foi na tentativa de
escrever um assim no passado que ele foi preso e condenado a viver como numa
prisão em regime aberto, sempre sob custódia. Com a realização de um
Fórum para a Paz ali perto de onde ele vive, o regime contrata a assistente social
Santa (Lola Amores) para vigiá-lo mais de perto e impedir qualquer tipo de
comunicação dele com estrangeiros ou alguma forma de manifestação de sua parte.
O
filme trabalha, de imediato, a dicotomia entre os opositores e defensores do
regime, muito embora, mais adiante, vai revelar, através de Santa, uma
personagem com mais nuances que poderá também questionar o tratamento que é
dado a Andrés. Ela, na verdade, é uma novata na
função, não está ali fazendo aquele serviço por questões ideológicas e pessoais,
mas sim executando um trabalho rotineiro, cumprindo uma ordem. E é na aproximação entre os dois, não
necessariamente romantizada pelo filme, que os dois revelam mais de si e de seus dilemas.
É
certo que em alguns momentos o filme apela para a caricatura, especialmente quando
chega mais perto do final e os superiores de Santa começam a pressioná-la para
vigiar Andrés com mais dureza, inclusive tentando arrancar segredos dele por
intermédio dela. Falta um tanto de ritmo a partir da segunda metade da
narrativa também porque o filme fica dando voltas ao redor de disputas e pequenos
conflitos entre eles ou a partir da vida e rotina de cada um – como, por exemplo, a relação amorosa/sexual
e mesmo agressiva que Andrés leva com um estranho rapaz que vive no povoado
mais próximo. Já a dimensão dramática que Santa ganha, a partir da descoberta de
assuntos dolorosos de seu passado, é mais bem resolvida na trama. O desfecho da
história, no entanto, também carrega certas fragilidades ao desenhar o destino
dos personagens.
O
diretor Carlos Lechuga não se furta, portanto, de apontar tais pontos
controversos do sistema político cubano e das decisões e posturas que foram
defendidas ali naquele momento. O filme chegou a ser censurado nos cinemas do
país porque tais questões ainda não foram de todo passadas a limpo – apesar de
Fidel já ter vindo publicamente para confessar que, de fato, o regime perseguiu
homossexuais no passado. Mas as questões ideológicas vão continuar cercando a
ilha cubana de posições antagônicas e grande parte dos discursos que forem
traçado sobre o cotidiano e a História do país. Lechuga é um jovem cineasta (esse
é seu segundo longa) e carrega consigo uma visão crítica dos que olham para trás
sem receio de enfrentar as cicatrizes que marca(ra)m a vida dos que ali
habitam.
2 comentários:
Não sei, não gostei muito desse filme.
Achei que ele poderia ser melhor!
Postar um comentário