Olmo e a Gaivota (Olmo and the
Seagull, Brasil/Dinamarca/França /Portugal/Suécia, 2015)
Dir:
Petra Costa e Lea Glob
Olmo e a Gaivota é uma espécie
de peça rara na cinematografia nacional (ainda que seja uma coprodução, falada majoritariamente
em francês), com uma delicadeza imensa na maneira como lida com um tema pouco explorado, mas não sob o prisma que aqui se revela. Uma pena que isso não
seja suficiente para salvar o filme de certo maneirismo contemporâneo de querer
estar na fronteira entre documentário e encenação (e esse tipo de colocação já
está se tornando um clichê), quando sua maior força estaria naquilo que o filme põe em discussão.
A
gravidez, essa dádiva da vida materna, sempre foi muito festejada, inclusive
pela dimensão de uma completude da condição feminina. Olmo e a Gaivota olha para esse fenômeno, na subjetividade de uma
mulher, para mostrar como a gravidez também tem algo de duro. Seja na solidão,
nos anseios, dúvidas e medos da gestante, seja nas mudanças do seu corpo, é a
mulher quem mais sente e lida incondicionalmente com as novas demandas desse outro ser que está
sendo gerado dentro de si. É um ponto de vista corajoso, sem romantismos fofos,
apesar da sensibilidade com que essa faceta nos é revelada.
Olivia
vive com seu companheiro Serge. Ambos fazem parte da companhia Théâtre du
Soleil, em Paris, e preparam a montagem do espetáculo A Gaivota, de Tchekov. Mas a gravidez inesperada – e de risco – de
Olivia a distancia da peça. Ela passa seus dias, então, trancada em casa, com
suas memórias e questionamentos. É preciso dizer que essa é a história real
desse casal, encenando agora para a câmera um momento de vida dos dois. É mais
uma vez nessa fronteira que o filme estabelece seu discurso.
Apesar
disso, o filme parece se firmar muito como ficção, especialmente pela intrusão
de uma câmera na rotina íntima daquele casal. Nos momentos mais incômodos do
longa, o filme insere trechos em que as diretoras Petra Costa e Lea Glob, fora
de campo, conversam e dão instruções aos atores. É aí que Olmo e a Gaivota investe num caminho que não consegue dar conta de
seguir: o do processo narrativo. Se a impressão primeira é de que o filme vai
se deter na construção fílmica, nas tensões entre atores e diretoras, na formatação
de um construção delicada centrada na experiência real daquelas pessoas transmutada em encenação, logo o
filme abandona essa ideia e volta a dar atenção às introspecções de
Olivia. Certamente estas estão muito calcadas no real, mas sem ter de chamar muita atenção para isso.
Seria uma maneira de
tornar a coisa toda muito moderna, mas acaba soando como modinha. Depois desse
desvio, espera-se mesmo uma mudança de tom, mas a narrativa do filme volta a acompanhar
os pensamentos da grávida no seu autoquestionamento, mantendo a mesma linha
narrativa. Existe uma pureza aí, uma delicadeza muito bem-vinda no tratamento dos
dramas humanos, sem soar exagerada – como acontecia no filme anterior de Petra
Costa, Elena. Porém pode parecer
pouco diante daquilo que o longa parece prometer.
2 comentários:
Bom.
Gostei do filme.
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