segunda-feira, 19 de maio de 2014

Festival In-Edit 2014

Minha passagem pelo festival internacional de documentários musicais este ano foi bem limitada. Em sua quarta edição em Salvador, o evento aconteceu, pela primeira vez, na Sala Walter da Silveira. Abaixo, comentários rápidos sobre dois filmes. 


Good Ol’ Freda (Idem, Reino Unido/EUA, 2013)
Dir: Ryan White



“Quem quer ouvir a história de uma secretária?”, pergunta Freda no início do filme. Se você tiver sido a secretária pessoal dos Beatles em todo o período em que a banda inglesa esteve junta, é claro que eu quero. O diretor Ryan White reencontra Freda Kelly, ainda trabalhando como secretária atualmente, e resgata sua relação com a boy band que agitou o mundo a partir da década de 1960.

White se beneficia não só do imenso material de arquivo sobre o grupo, como do testemunho da própria Freda que conta a história a partir do seu ponto de vista. Porém, o grande trunfo do filme é revelar a garota animada que ela era à época, fazendo seu trabalho sempre com dedicação e bom humor. Tinha 17 anos quando foi chamada para ser a secretária daqueles jovens que já despertavam euforia, ainda uma promessa na cena rocker de Liverpool.

Havia (e ainda há) uma jovialidade latente nela, algo de contagiante, presente na forma bem-humorada como que ela relembra sua história junto a toda aquela ebulição. Freda era, antes de mais nada, uma grande admiradora d’Os Beatles, o que a tonava a pessoa ideal para administrar o imenso e tresloucado fã-clube da banda. Histórias como a do endereço de sua própria casa que ela deu para receber as cartas das fãs, no início, o que causou a ira de seu pai porque começaram a chegar centenas de correspondências, mistura essa ingenuidade com a praticidade do trabalho dela.

Good Ol’ Freda é, portanto, uma deliciosa rememoração por parte de quem esteve sempre do lado de dentro, mantendo mesmo uma relação de carinho com os garotos e também com suas respectivas famílias, o que fazia dela parte incondicional da família Beatles. Uma fiel escudeira, como fica evidente no documentário.


A Um Passo do Estrelato (20 Feet from Stardom, EUA, 2013)
Dir: Morgan Neville


Vencedor do Oscar de Filme Documentário deste ano, A Um Passo do Estrelato volta o olhar para o trabalho geralmente desapercebido das backing vocals. Em sua larga maioria são mulheres que soltam a voz ali no fundo do palco e tanto sonham em estar à frente dele. O filme também aponta outras duas recorrências muito curiosas nesse universo: a maioria delas são negras e começaram cantando nos corais das igrejas de origem protestante. 

O documentário de Morgan Neville tem ainda o mérito de resgatar a história dessas profissionais. Nomes como os de Darlene Love e Lisa Fischer são pouco conhecidos do grande público, mas referências fundamentais nesse ofício. O documentário mostra o quanto o sonho de se tornar uma star é antigo, para elas que estão ali tão perto do estrelato, possuem contatos no show business e donas de um vozeirão incrível.

No entanto, ou elas se conformam nesse lugar ou buscam dar um passo maior, transparecendo para o mundo seu talento como artista principal. Isso quando consegue, pois o filme não deixa de revelar o lado traiçoeiro do mercado fonográfico que nem sempre encontra lugar para essas cantoras. Judith Hill, ex-backing vocal de Michael Jackson, estrela de uma edição recente do programa televisivo The Voice, surge como um ponto de ligação entre essas possibilidades, ainda buscando seu lugar ao sol. É um belo retrato que o diretor faz do trabalho fenomenal dessas artistas, muitíssimo bem fotografado, ainda que não seja tão tocante quanto quer ser.


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