Dir:
Marcelo Lordello
Mais
um competente exemplar do novo cinema pernambucano ganha agora lançamento comercial
nas telas do Brasil. Eles Voltam,
longa de estreia de Marcelo Lordello, vencedor do candango de melhor filme no
Festival de Brasília em 2012 (ao lado de outro pernambucano, Era Uma Vez Eu, Verônica), é mais um
sopro de renovação do cinema independente brasileiro, fazendo muito com muito
(aparentemente) pouco.
Como
os melhores filmes de sua terra, Eles
Voltam tem a capacidade de refletir sobre o Brasil, especialmente nas suas
lutas de classe que possuem resquícios de um passado histórico recente, a
partir de uma situação regional. Mas é também um filme intimista que espreita
misteriosa e silenciosamente uma protagonista posta em percurso. Entre o macro
e o micro, a trajetória de Cris (Maria Luiza Tavares) ganha força naquilo que
ela encontra e vê por um caminho até então desconhecido.
Já
na primeira cena, vemos, ao longe, ela e o irmão serem deixadas de carro numa
estrada deserta. Pouco sabemos dos motivos desse “abandono”, e logo a relação
entre os dois revela-se um tanto conflituosa, dois irmãos em birra. Ele decide
sair sozinho para buscar ajuda e pede para ela esperar. Ela passa a noite ali e, como ele não retorna,
Cris então segue seu próprio caminho.
É
essa atitude de se jogar no mundo, de movimento em prol da própria integridade,
que o filme valoriza antes de “começar” de fato (só depois disso aparece o
título e os créditos iniciais do longa). Longe de revelar uma protagonista destemida,
entendemos desde o início essa menina frágil e calada, classe alta, solta num
ambiente inóspito. É de uma serenidade incrível a expressão da jovem atriz que
mescla um olhar ao mesmo tempo assustado e curioso àquilo que lhe chega como
novidade. No interior de Pernambuco, entre casas pobres, pessoas humildes e
trabalhadoras, Cris encontra acolhida e descobre um mundo novo, longe da cidade
grande e seus barulhos, distante também de riqueza e fartura.
O
filme é dotado de uma cadência de ritmo muito particular. Ao mesmo tempo em que
existe um compasso lento e moderado nos passos incertos da protagonista, acentuado
pelos planos longos e sutis movimentos de câmera, Cris encontra várias pessoas
que a ajudam e passa por uma série de situações e desencontros; o longa nunca é
moroso. Com seu tom naturalista ao extremo, a narrativa também não tem pressa
em se revelar. Acompanhamos com curiosidade o desenrolar das situações e vamos
entendendo aos poucos as questões narrativas que estão em jogo ali (como o motivo do
abandono dos garotos e por que os pais não retornam).
É
esse deslocamento em dupla engrenagem que torna o filme tão curioso e
envolvente. A vida segue lenta para Cris, mas as experiências acumulam-se a
cada novo desdobramento de seus passos incertos. A personagem é obrigada a
observar um mundo distante da vida burguesa que leva, sem pressa, mas com o
peso de estar em lugar incomum, apesar da boa acolhida que sempre recebe.
Eles Voltam é mais um road
movie que ressalta a mudança e amadurecimento do viajante até o fim do
percurso (embora se estenda além dele). Não busca fugir dessa regra máxima do gênero, mas constrói isso com
uma sutileza incrível. É no olhar ao outro, diferente de si, que o mundo de
Cris expande-se e que o outro perto dela, sejam seus pais, irmão, parentes ou
amigos, ganhe uma nova forma de compreensão diante de seu olhar.
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